São Paulo, Quinta-feira, 12 de Agosto de 1999
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CRISE NO MERCOSUL
País quer restringir exportação brasileira de calçados; produto será submetido a inspeção do governo
Argentinos adotam nova salvaguarda

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

Os argentinos adotaram mais uma medida para restringir as exportações brasileiras. Desde de ontem, os calçados brasileiros não podem entrar na Argentina sem a prévia autorização da Secretaria de Indústria e Comércio.
O governo argentino publicou ontem uma resolução que impõe a necessidade de licenças prévias, antes que o importador possa entrar com o produto no país. A decisão afeta todos os países.
Até então, o importador preenchia uma guia de importação, e, num prazo máximo de dez dias, recebia a autorização automaticamente.
Agora, o poder público checará se as mercadorias estão de acordo com as normas de controle de qualidade, para depois autorizar a importação. Na segunda, o governo argentino publicou a resolução que estabelece as normas de controle de qualidade.
De acordo com essa resolução, os fabricantes locais e os importadores só poderão vender sapatos etiquetados com os produtos de fabricação da sola, do sapato e da palmilha. Os dados da etiqueta serão checados pelo Inti (Instituto Nacional de Tecnologia Industrial), que certificará as informações do produtor.
Na opinião do Itamaraty, as licenças não-automáticas poderão ser usadas para estabelecer limites não-oficiais para a entrada do calçado brasileiro na Argentina. "Quando o número de pares de sapatos alcançar uma determinada cota, o governo argentino começará a negar as autorizações de importação", afirmou um diplomata brasileiro.
As duas medidas foram tomadas na semana posterior à reunião de cúpula do Mercosul, na qual Brasil e Argentina não chegaram a um acordo para limitar as exportações brasileiras. Os argentinos afirmam que, depois da desvalorização do real, alguns setores estão sendo prejudicados pelo excesso de entrada de mercadorias.
O resolução, justificada pela Lei de Defesa do Consumidor, preocupa os calçadistas brasileiros.
Os produtores brasileiros afirmam que o tempo necessário para cumprir os trâmites exigidos pela nova legislação vai prejudicar a venda para a Argentina.
Segundo Raúl Ochoa, ex-secretário de Comércio Exterior, esse tipo de prática de defesa comercial é muito usada no Brasil. "O Brasil tem uma ampla e generosa bateria de medidas desse tipo", disse ele.
As licenças não-automáticas estarão vigentes até o final do ano, data em que o Brasil também será obrigado a suspender as licenças prévias que impõe aos países do Mercosul.

Encontro
Representantes das principais entidades do setor calçadista dos dois países, a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) e a Câmara da Indústria do Calçado, se reúnem hoje em Novo Hamburgo (RS) para discutir a crescente exportação de calçados do Brasil para a Argentina e a nova salvaguarda.


Colaborou Carlos Alberto de Souza, da Agência Folha, em Porto Alegre

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