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CRISE NO MERCOSUL
País quer restringir exportação brasileira de calçados; produto será submetido a inspeção do governo
Argentinos adotam nova salvaguarda
ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires
Os argentinos adotaram mais
uma medida para restringir as exportações brasileiras. Desde de
ontem, os calçados brasileiros
não podem entrar na Argentina
sem a prévia autorização da Secretaria de Indústria e Comércio.
O governo argentino publicou
ontem uma resolução que impõe
a necessidade de licenças prévias,
antes que o importador possa entrar com o produto no país. A decisão afeta todos os países.
Até então, o importador preenchia uma guia de importação, e,
num prazo máximo de dez dias,
recebia a autorização automaticamente.
Agora, o poder público checará
se as mercadorias estão de acordo
com as normas de controle de
qualidade, para depois autorizar a
importação. Na segunda, o governo argentino publicou a resolução que estabelece as normas de
controle de qualidade.
De acordo com essa resolução,
os fabricantes locais e os importadores só poderão vender sapatos
etiquetados com os produtos de
fabricação da sola, do sapato e da
palmilha. Os dados da etiqueta serão checados pelo Inti (Instituto
Nacional de Tecnologia Industrial), que certificará as informações do produtor.
Na opinião do Itamaraty, as licenças não-automáticas poderão
ser usadas para estabelecer limites
não-oficiais para a entrada do calçado brasileiro na Argentina.
"Quando o número de pares de
sapatos alcançar uma determinada cota, o governo argentino começará a negar as autorizações de
importação", afirmou um diplomata brasileiro.
As duas medidas foram tomadas na semana posterior à reunião de cúpula do Mercosul, na
qual Brasil e Argentina não chegaram a um acordo para limitar
as exportações brasileiras. Os argentinos afirmam que, depois da
desvalorização do real, alguns setores estão sendo prejudicados
pelo excesso de entrada de mercadorias.
O resolução, justificada pela Lei
de Defesa do Consumidor, preocupa os calçadistas brasileiros.
Os produtores brasileiros afirmam que o tempo necessário para cumprir os trâmites exigidos
pela nova legislação vai prejudicar a venda para a Argentina.
Segundo Raúl Ochoa, ex-secretário de Comércio Exterior, esse
tipo de prática de defesa comercial é muito usada no Brasil. "O
Brasil tem uma ampla e generosa
bateria de medidas desse tipo",
disse ele.
As licenças não-automáticas estarão vigentes até o final do ano,
data em que o Brasil também será
obrigado a suspender as licenças
prévias que impõe aos países do
Mercosul.
Encontro
Representantes das principais
entidades do setor calçadista dos
dois países, a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de
Calçados) e a Câmara da Indústria do Calçado, se reúnem hoje
em Novo Hamburgo (RS) para
discutir a crescente exportação de
calçados do Brasil para a Argentina e a nova salvaguarda.
Colaborou Carlos Alberto de Souza, da
Agência Folha, em Porto Alegre
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