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OPINIÃO ECONÔMICA
O clube do bilhão
BENJAMIN STEINBRUCH
Não é segredo para ninguém.
Sou um entusiasta da empresa nacional. Acho que, sem
grandes companhias capazes de
competir internacionalmente, o
Brasil não terá chances de sucesso
no mundo globalizado. Por isso,
gostei do que li na semana passada, uma pesquisa sobre o crescimento do número de empresas
brasileiras com valor de mercado
superior a US$ 1 bilhão.
Em 1990, segundo levantamento da Economática, publicado pela "Gazeta Mercantil", havia no
Brasil apenas uma empresa de
capital aberto com valor superior
a US$ 1 bilhão, a Petrobras. Hoje,
dez anos depois, temos 44 empresas bilionárias.
É curioso que tudo isso tenha
ocorrido numa década difícil para o Brasil, quando foi necessário
vencer a hiperinflação que corroía a economia e, ao mesmo
tempo, superar a desconfiança
generalizada do país no mercado
internacional. Apesar disso, chegamos ao fim da década com um
número apreciável de grandes
companhias.
Os próprios formuladores da
pesquisa explicam a razão desse
desempenho: houve, nos anos 90,
um movimento importante de
consolidação dos grandes grupos,
estimulado pela abertura da economia e por novos modelos de
gestão introduzidos a partir das
privatizações.
É gratificante verificar que a
Companhia Siderúrgica Nacional
e a Vale do Rio Doce, privatizadas em 1993 e 1997, processos os
quais tive o privilégio de liderar,
valiam no mercando menos alguma coisa, no caso da CSN, e US$
800 milhões, no caso da Vale, em
1990. Hoje, essas grandes companhias valem US$ 2,5 bilhões e US$
10,5 bilhões. É sinal de que a gestão brasileira foi competente para
proporcionar às empresas ganhos
de eficiência e rentabilidade que
aumentaram o seu porte e a sua
projeção internacional.
Claro que a CSN e a Vale não
são exemplos isolados. A Petrobras, que permaneceu estatal, teve uma evolução extraordinária.
Valia US$ 1 bilhão em 1990 e hoje
vale US$ 32 bilhões. No setor bancário, o Itaú, o Bradesco e o Unibanco, só para citar as três maiores empresas financeiras privadas
brasileiras, saíram de uma condição em que eram apenas bancos
locais para se transformar em
grandes instituições de porte internacional. Outros exemplos podem ser citados nos setores de alimentos, telecomunicações, siderurgia etc.
O que isso significa? Numa primeira análise, superficial, significa que os acionistas dessas empresas foram recompensados. Dias
atrás, li um artigo revelador: mostrava que uma pessoa que tivesse
investido há dez anos US$ 100 mil
em ações de um grande banco
brasileiro teria hoje quase US$ 6
milhões, sem contar os dividendos distribuídos no período. Ou
seja, se, em vez de comprar um
apartamento de classe média, que
ainda vale em dólares praticamente a mesma coisa que valia
dez anos antes, a pessoa tivesse
comprado ações desse banco, seria hoje um milionário. O exemplo não vale apenas para esse
banco, mas para várias dessas
empresas listadas na pesquisa da
Economática.
Mas isso não é o mais importante. O que importa, em primeiro lugar, é a lição geral que se pode tirar dessa pesquisa: um país,
nesses tempos da globalização, só
terá sucesso se puder estimular a
formação de grandes corporações
internacionalmente competitivas.
Não é por acaso que o Brasil assumiu, há duas semanas, abertamente, a posição de líder da América do Sul. A liderança política,
mais do que nunca, se faz com poder econômico. O Brasil tem hoje
44 companhias abertas com valor
de mercado superior a US$ 1 bilhão. O México, com todo o avanço recente proporcionado pela ligação umbilical aos Estados Unidos, tem apenas 28. A Argentina,
17. E a Venezuela, 2. E, para quem
quiser entender por que os Estados Unidos têm tanto poder, basta ver quantas empresas bilionárias têm sede naquele país: 214.
A lição maior dessa pesquisa,
portanto, refere-se ao comportamento que o Brasil deverá ter na
próxima década em matéria de
desenvolvimento empresarial.
Não há espaço para displicência
na tarefa de estimular a formação de grandes players internacionais nos setores mais competitivos da economia brasileira.
Entregar de mão beijada ao capital internacional alguns setores
como mineração, siderurgia, têxtil, celulose, de calçados e agrobusiness, entre outros, significa abrir
mão de poder no mundo atual.
Sem esse poder, o Brasil terá grande dificuldade para levar adiante
programas que darão bem-estar
aos brasileiros no século 21.
Benjamin Steinbruch, 47, empresário,
é presidente dos conselhos de administração da Valepar e da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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