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ARTIGO
Pouso tranquilo pode ser perigoso desta vez
GRETCHEN MORGENSON
DO THE NEW YORK TIMES
Parece cada vez mais claro
que a direção do Fed, o banco central norte-americano, está
pilotando a economia em direção
ao pouso tranquilo que todo
mundo espera. Mas isso pode ser
mais difícil para os trabalhadores
norte-americanos do que muitos
imaginam. Pelo menos é a opinião de James Paulsen, diretor-chefe de investimentos da Wells
Capital Management em Minneapolis. Ele teme que mesmo
uma pequena redução no crescimento econômico possa representar cortes de empregos mais graves que nas crises anteriores.
Por quê? Por causa da espantosa produtividade dos Estados
Unidos -a mesma que permitiu
que a economia avançasse a pleno vapor sem gerar inflação.
"O que hoje alardeamos como
um milagre, porque mantém a
inflação baixa, se torna um problema se houver desaceleração",
disse Paulsen. "Se a produtividade é tão boa na desaceleração da
economia quanto foi na expansão, ela aumenta o corte de empregos, porque é possível produzir
mais com menos."
A geração de empregos está
mais lenta desde 1997, quando o
crescimento da folha de pagamentos anual atingiu seu pico de
2,5%. Hoje, o emprego está aumentando 1,8%, mas o Produto
Interno Bruto está altíssimo. "Se
apenas 1,8% de aumento de empregos basta para produzir 6% de
crescimento real do PIB, poderíamos terminar numa situação em
que um pouso tranquilo de 2% a
2,5% de crescimento significam
uma diminuição de empregos de
0,5% a 1% ao ano?", pergunta
Paulsen.
Ele estudou a relação entre a geração de empregos e o crescimento desde 1950 e descobriu que
mesmo em épocas econômicas difíceis o crescimento do emprego
foi muito maior que o atual.
Por exemplo, entre 1980 e 1984,
período que incluiu duas recessões, cada ponto percentual de
aumento do PIB representava um
ganho de 0,61% em empregos.
Mas, desde 1995, cada ponto percentual a mais no crescimento
econômico resultou em apenas
0,10% mais empregos.
Um pouso suave pode ser doloroso para os trabalhadores por
outros motivos. Nos últimos anos,
as empresas se tornaram obcecadas pelos ganhos de eficiência. Essa mentalidade pode mudar o
comportamento empresarial numa recessão, segundo Paulsen.
"No passado, as empresas reduziram os gastos de capital quando
a economia desacelerou. Mas os
gastos de capital se tornaram gastos de eficiência e, dessa vez, as
companhias podem decidir manter os gastos de capital e reduzir a
força de trabalho."
A mania das fusões dos últimos
anos também pode causar cortes
de empregos maiores que os comuns na desaceleração da economia. De meados dos anos 70 até
meados dos 90, segundo Paulsen,
houve 2.000 fusões e aquisições
por ano, em média. No ritmo
atual, esses negócios podem chegar a 10 mil neste ano. "Se houver
uma desaceleração, você vai ver
que todas essas empresas fundidas têm forças de trabalho excedentes", diz. Um desses casos é o
da Qwest Communications, que
adquiriu a US West em junho. Na
quinta-feira passada, a empresa
disse que cortará 11 mil empregos
até o final de 2001 e aumentará
seus gastos de capital para melhorar o serviço e investir em seus
principais negócios.
Se os consumidores estivessem
em melhores condições financeiras, a perda de empregos possivelmente causada pela desaceleração não seria tão preocupante.
Mas as dívidas de prestações e
as perdas no mercado de capital
contraídas pelos consumidores
chega hoje a surpreendentes
24,5% da renda pessoal disponível. De 1965 a 1995, esse número
foi em média 18,4%. Ele disparou
graças à perda no mercado financeiro, que hoje representa mais de
3,5% da renda disponível, contra
0,78% em média nos 30 anos que
terminaram em 1995. Essa carga
de dívida também significa que os
gastos dos consumidores podem
encolher significativamente, reforçando a desaceleração.
É claro que a desaceleração da
economia ainda não é certa. Embora Paulsen espere um crescimento médio de 2% nos próximos
12 meses, outros discordam.
No entanto, como afirma Paulsen, a história da produtividade
tem sido de modo geral muito positiva numa economia em expansão. Seu potencial impacto num
encolhimento tem sido ignorado
de modo geral.
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
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