São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2000

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ARTIGO

Pouso tranquilo pode ser perigoso desta vez

GRETCHEN MORGENSON
DO THE NEW YORK TIMES

Parece cada vez mais claro que a direção do Fed, o banco central norte-americano, está pilotando a economia em direção ao pouso tranquilo que todo mundo espera. Mas isso pode ser mais difícil para os trabalhadores norte-americanos do que muitos imaginam. Pelo menos é a opinião de James Paulsen, diretor-chefe de investimentos da Wells Capital Management em Minneapolis. Ele teme que mesmo uma pequena redução no crescimento econômico possa representar cortes de empregos mais graves que nas crises anteriores.
Por quê? Por causa da espantosa produtividade dos Estados Unidos -a mesma que permitiu que a economia avançasse a pleno vapor sem gerar inflação.
"O que hoje alardeamos como um milagre, porque mantém a inflação baixa, se torna um problema se houver desaceleração", disse Paulsen. "Se a produtividade é tão boa na desaceleração da economia quanto foi na expansão, ela aumenta o corte de empregos, porque é possível produzir mais com menos."
A geração de empregos está mais lenta desde 1997, quando o crescimento da folha de pagamentos anual atingiu seu pico de 2,5%. Hoje, o emprego está aumentando 1,8%, mas o Produto Interno Bruto está altíssimo. "Se apenas 1,8% de aumento de empregos basta para produzir 6% de crescimento real do PIB, poderíamos terminar numa situação em que um pouso tranquilo de 2% a 2,5% de crescimento significam uma diminuição de empregos de 0,5% a 1% ao ano?", pergunta Paulsen.
Ele estudou a relação entre a geração de empregos e o crescimento desde 1950 e descobriu que mesmo em épocas econômicas difíceis o crescimento do emprego foi muito maior que o atual.
Por exemplo, entre 1980 e 1984, período que incluiu duas recessões, cada ponto percentual de aumento do PIB representava um ganho de 0,61% em empregos. Mas, desde 1995, cada ponto percentual a mais no crescimento econômico resultou em apenas 0,10% mais empregos.
Um pouso suave pode ser doloroso para os trabalhadores por outros motivos. Nos últimos anos, as empresas se tornaram obcecadas pelos ganhos de eficiência. Essa mentalidade pode mudar o comportamento empresarial numa recessão, segundo Paulsen.
"No passado, as empresas reduziram os gastos de capital quando a economia desacelerou. Mas os gastos de capital se tornaram gastos de eficiência e, dessa vez, as companhias podem decidir manter os gastos de capital e reduzir a força de trabalho."
A mania das fusões dos últimos anos também pode causar cortes de empregos maiores que os comuns na desaceleração da economia. De meados dos anos 70 até meados dos 90, segundo Paulsen, houve 2.000 fusões e aquisições por ano, em média. No ritmo atual, esses negócios podem chegar a 10 mil neste ano. "Se houver uma desaceleração, você vai ver que todas essas empresas fundidas têm forças de trabalho excedentes", diz. Um desses casos é o da Qwest Communications, que adquiriu a US West em junho. Na quinta-feira passada, a empresa disse que cortará 11 mil empregos até o final de 2001 e aumentará seus gastos de capital para melhorar o serviço e investir em seus principais negócios.
Se os consumidores estivessem em melhores condições financeiras, a perda de empregos possivelmente causada pela desaceleração não seria tão preocupante.
Mas as dívidas de prestações e as perdas no mercado de capital contraídas pelos consumidores chega hoje a surpreendentes 24,5% da renda pessoal disponível. De 1965 a 1995, esse número foi em média 18,4%. Ele disparou graças à perda no mercado financeiro, que hoje representa mais de 3,5% da renda disponível, contra 0,78% em média nos 30 anos que terminaram em 1995. Essa carga de dívida também significa que os gastos dos consumidores podem encolher significativamente, reforçando a desaceleração.
É claro que a desaceleração da economia ainda não é certa. Embora Paulsen espere um crescimento médio de 2% nos próximos 12 meses, outros discordam.
No entanto, como afirma Paulsen, a história da produtividade tem sido de modo geral muito positiva numa economia em expansão. Seu potencial impacto num encolhimento tem sido ignorado de modo geral.


Tradução de Luiz Roberto Gonçalves


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