São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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Crianças mostram dificuldade em aprender; mulheres ficam perdidas

DA REPORTAGEM LOCAL

As mulheres e as crianças são as que mais sofrem no processo de expatriação. "As mulheres, acostumadas a trabalhar no país de origem, chegam aqui e ficam perdidas. Ocorre uma mudança de papel e perda de identidade", relata a psicoterapeuta Pamela Wax, que atende expatriados.
A mudança de cultura, segundo ela, perturba a educação das crianças. No país de origem, elas arrumavam a própria cama, mas no Brasil têm domésticas para servi-las. "A nova vida mexe com os valores de origem da família."
Outro tipo de novidade - a escola particular- também afeta os pequenos. Eles pertencem a famílias de classe média e vêm de escolas públicas. Mas aqui passam a freqüentar os colégios ingleses e americanos, onde também estudam os filhos da elite local.
O medo de não ter um desempenho à altura do novo modelo provoca distúrbios físicos e emocionais. "As crianças ficam nervosas, com medo da nova situação, pois não entendem a língua. Procuram faltar às aulas, têm dores de barriga e de cabeça", conta.
Um psicólogo que atende famílias de expatriados, e prefere não se identificar, relata casos de mudanças de comportamento, irritabilidade e dificuldades de aprendizado nas crianças, por conta das mudanças. Elas também manifestam ansiedade e tristeza por terem deixado para trás os amigos, primos e avós. Têm saudades até do quarto da casa antiga. "Esses problemas podem durar de três a seis meses. Depois, elas se adaptam", diz Wax.
Se o expatriado tem filhos adolescentes, a situação ferve. "Eles demoram mais para se adaptar, pois deixaram namorados e amigos aos quais são muito unidos", acrescenta. Nos primeiros meses a garotada passa o dia plugada na internet, em salas de bate-papo com os amigos do país de origem. "Os pais não se conformam."
As dificuldades de adaptação atingem inclusive alguns executivos. Segundo um psicólogo que atende expatriados, eles se sentem fora do seu ambiente e acabam apresentando dificuldades para dormir, ansiedade e ataques de pânico. Ele relata vários casos de depressão e de abuso de bebidas alcóolicas.
Para Ana Maria Linhares Giesbrecht, sócia da Focal Point, o estresse da mudança de ambiente acaba levando as pessoas a superdimensionar os problemas. "Um dos nossos clientes entrou em pânico porque uma das paredes do apartamento começou a apresentar manchas de bolor. Ele alegava que estava correndo sério risco de saúde, mas o mofo foi só o detonador de uma crise de insegurança com a nova situação."
Segundo Giesbrecht, "no caso do Brasil não há meio-termo: ou os expatriados odeiam ou adoram o país". O que todos amam são as mordomias inexistentes nos países de origem. O que odeiam: a violência e o trânsito.
Para Jenny da Costa, 36, inglesa apesar do sobrenome, a primeira impressão de São Paulo -"feia, grande e caótica"- foi substituída pelo encantamento após quase dois anos na sede local do JP Morgan. "Saio às 6h de casa para evitar o trânsito e aproveito para fazer ginástica todos os dias e ir à manicure, coisas que não conseguia fazer em Londres", diz. (SB)

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