São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Bancões falam sobre a crise


Relatórios de bancos tentam manter otimismo, mas soam muito inseguros sobre o efeito real da crise de crédito


"O EXEMPLO mais claro do progresso da América Latina é o Brasil. Trata-se de uma economia que, até cerca de quatro anos, era um resumo de todos os riscos dos mercados emergentes. Hoje, as reservas internacionais do Brasil equivalem ao dobro de toda a dívida pública externa bruta." É o que dizia uma análise de ontem do Morgan Stanley que tratava do efeito da crise na América Latina.
Para o banco, após cinco anos de crescimento, o melhor em décadas, a América Latina passará pelo teste do "descolamento", isto é, de relativa imunização contra a crise americana. Na "aposta" dos economistas do Morgan Stanley, a América Latina terá um sexto ano de bom crescimento. Mas, caso o tombo americano seja feio, não haverá "porto seguro" latino-americano.
O banco aumentou sua estimativa de crescimento para o PIB brasileiro, de 4,5% para 4,9% neste ano. Para 2008, 4,3%. Problema no ano que vem: algum "nervosismo" pelo eventual fim do superávit em conta corrente (balança comercial e outras transações), o que em tese poderia desvalorizar o real etc.

JP Morgan
Num relatório desta semana, o "Global Data Watch", os quase sempre circunspectos economistas do JP Morgan abrem o comentário sobre mercados financeiros com o título "um frio no estômago" (ou "está fazendo água", em tradução livre para "that sinking feeling").
"Os mercados de ações sustentavam até o mês passado que os fundamentos econômicos continuavam bons e que o tumulto financeiro era em grande parte devido a um problema de liquidez nos mercados monetários, problema com o qual os BCs poderiam lidar com tranqüilidade", diz o relatório. Ressalte-se que tal "tranqüilidade" foi financiada por centenas de bilhões de dólares em injeção de liquidez, até agora sem resultados conclusivos. De resto, BCs tiveram de voltar atrás na sua intenção de elevar juros, quase certa faz poucas semanas. Aliás, juros interbancários e risco ainda sobem, ninguém rola papéis suspeitos etc.
O pessoal de mercados do JP Morgan diz ainda que as "quedas nas Bolsas eram vistas como uma oportunidade de compra [de ações baratas]. Dados e acontecimentos da semana passada [a primeira de setembro] arranharam essa visão mais otimista". Isto é, a economia "real" de países ricos passou a apresentar números negativos.

Deutsche Bank
O bancão alemão prevê desaceleração pequena no PIB de EUA, Europa e do mundo (coisa de até meio ponto percentual), em relatórios do dia 10. No cenário "principal" do banco, a crise seria contida com sucesso. Mas avisam que o pressuposto de tal projeção é que os BCs de EUA e Europa vão conter juros e azeitar o mercado de crédito. O relatório cita as crises de 1987 ("crash" da Bolsa de Nova York) e de 1998 (calote russo e o estouro espetacular do hedge fund LTCM): nos dois casos, o subseqüente corte de juros do Fed teria contido o espraiamento da crise financeira para a economia "real". Mas se observa que o aperto de crédito atual pode ser pior que o de 1987 e 1998. São textos otimistas?

vinit@uol.com.br


Texto Anterior: Em Alta
Próximo Texto: Bolsa de SP se recupera e avança 2,41%
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.