São Paulo, Domingo, 12 de Setembro de 1999
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EMPRESAS
BC apura série de operações irregulares no banco Crefisul, muitas feitas a partir da crise Mappin-Mesbla
Mansur deixa rombo de R$ 400 mi

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DAVID FRIEDLANDER

da Reportagem Local

A aventura do empresário Ricardo Mansur no mundo financeiro terminou com um rombo de R$ 400 milhões. Esse é o tamanho do buraco nas contas do Crefisul, segundo documento ainda confidencial do Banco Central.
Nos próximos dias, esse balanço deve chegar a Brasília junto com o relatório do que os técnicos do BC já encontraram no Crefisul, liquidado em março. O Crefisul era uma instituição de porte médio, que cresceu nos últimos anos com a incorporação do banco Antônio de Queiroz, comprado com dinheiro do Proer.
Seria mais um caso de banco que recebeu ajuda de Brasília e mesmo assim quebrou, se não fosse pelo dono. Empresário de fortuna rápida e gosto pela ostentação, Mansur foi apontado como fenômeno dos anos 90.
Nos últimos quatro anos, ele comprou e quebrou o Mappin e a Mesbla, duas das maiores redes de lojas do país, que chegaram a faturar cerca de US$ 1 bilhão.
O mais impressionante é que, mesmo quando seus negócios já estavam derretendo, Mansur estudava a compra de um jato de US$ 40 milhões e jogava pólo na Inglaterra. Depois que o Mappin faliu, passa a maior parte do tempo fora do país. "Ele não tem nada para fazer aqui", diz Nelson Felmanas, advogado de Mansur.
Pelo que se descobriu até agora, o buraco de R$ 400 milhões no Crefisul estava embrulhado num pacote de operações irregulares, muitas delas feitas quando o banco passou a enfrentar uma crise de confiança, detonada pelas dificuldades do Mappin e da Mesbla. Foi uma tentativa desesperada de dar sobrevida ao banco, que já estava tecnicamente quebrado.
Para fazer o balanço do Crefisul parecer melhor do que era, seus responsáveis teriam usado alguns artifícios. Havia ativos superavaliados e receitas que não foram comprovadas até agora, segundo avaliação do BC.
Se essa suspeita se confirmar, o banco enganou o BC e prejudicou seus correntistas, investidores e acionistas minoritários, usando informações inverídicas.
"Tudo isso é discutível. O BC pode estar sendo conservador demais", diz Felmanas, que representa os interesses de Mansur no caso Crefisul.
Mansur, seus sócios e os administradores do banco podem ser chamados a cobrir o rombo de cerca do Crefisul, inclusive com seus bens pessoais.
Ao todo, o BC tem mais de R$ 200 milhões pendurados no Crefisul. Metade saiu do Proer para a compra do Antônio de Queiroz. Vem de um fundo formado por contribuições dos bancos.
Os outros R$ 100 milhões foram emprestados entre dezembro e março, para que o Crefisul pudesse fechar as contas no final do dia - já que ele não tinha mais crédito na praça financeira.

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