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POLÍTICA CAMBIAL
Restrições devem cair em até dois anos
BC quer liberalizar mercado de câmbio
GUSTAVO PATÚ
Coordenador de Economia
da Sucursal de Brasília
O Banco Central trabalha com
um prazo de cerca de dois anos
para promover uma ampla liberalização do mercado de câmbio
brasileiro.
Segundo a Folha apurou, há
um grupo de técnicos desenvolvendo estudos para extinguir
grande parte das restrições hoje
existentes às operações com
moeda estrangeira no país, que
atingem comércio, serviços, investimentos, remessas, tomada
de empréstimos e financiamentos.
Medidas mais profundas já podem ser tomadas dentro de alguns meses. Pretende-se dar sequência ao processo de forma
gradual.
Considera-se que o país, ao
conceder maior liberdade para os
negócios com o resto do mundo,
se tornará mais atrativo e seguro
para investidores, credores, vendedores e compradores.
A liberalização do câmbio já faz
parte dos compromissos assumidos com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
O artigo 8º dos estatutos do
Fundo, no qual o Brasil quer se
enquadrar, estipula que os países-membros não podem impor
restrições a pagamentos e remessas relacionadas com transações
de bens e serviços.
Contas em dólar
No BC, porém, se fala em mais
liberalidade também para a chamada conta de capital, que inclui
os investimentos externos e os
empréstimos e financiamentos
tomados por empresas brasileiras
no exterior.
Dentro dessa filosofia, o BC permitiu na última sexta-feira que
empresas dos setores de petróleo,
energia elétrica e gás natural mantenham contas em dólar no país.
O CMN (Conselho Monetário
Nacional) autorizou, de maneira
restrita, a abertura de contas em
moedas estrangeiras por empresas que venham a injetar recursos
externos nos setores de petróleo,
gás natural e energia elétrica.
A medida tem o objetivo de dar
mais garantias às empresas interessadas no processo de privatização no setor energético, enquanto
são mantidas as atuais regras de
controle cambial e ainda há riscos
de variações mais bruscas na cotação do dólar.
Primeiro passo
No BC, a medida é considerada
um primeiro passo -e um passo
pequeno, uma vez que atinge
poucos setores e estabelece uma
série de exigências para que as
contas sejam abertas.
Depois de décadas de rígidos
controles de câmbio -até o início dos anos 90, num exemplo
mais prosaico, não se podia fazer
turismo no exterior com mais de
US$ 4.000- e crises com a dívida
externa, o regulamento do BC
ainda está repleto de normas destinadas a dificultar a saída de dólares do país.
É verdade que a situação das
contas externas não é, pelo menos
até o momento, confortável. Por
isso, ainda está em discussão a velocidade e o grau da liberalização
cambial.
Unificação
Mas não faltam casos de restrições a serem revistas. Um ponto
já definido é a unificação dos mercados de taxas livres (mais burocratizado, para comércio exterior,
investimentos e outras operações) e de taxas flutuantes (o dólar-turismo).
Isso permitirá a pessoas e empresas enviar dinheiro ao exterior, se quiserem, com a mesma
facilidade hoje facultada aos
usuários das contas CC-5 -destinadas à movimentação financeira
de não-residentes no país e regida
pelas regras do mercado de taxas
flutuantes.
Completada essa unificação,
avalia-se no BC, as CC-5 perderiam a razão de existir. Seu uso,
que já foi objeto de polêmica por
servir a remessas irregulares, poderia se tornar irrelevante.
A burocracia imposta às operações também está sob análise.
Hoje, uma empresa que toma empréstimo no exterior, por exemplo, só pode fazer os pagamentos
de juros e principal nos prazos do
contrato submetido ao BC. Antecipações são proibidas.
Os prazos dos empréstimos
obedecem a um limite mínimo,
hoje de 90 dias. Para boa parte das
transações, é proibido fazer a
compra de dólares com mais de
60 dias de antecedência.
Gastos no exterior
Pessoas físicas podem gastar o
quanto quiserem no exterior, mas
não são autorizadas a comprar
dólares para seu patrimônio.
Mesmo nas Bolsas de Valores,
que contam com normais mais liberais, o BC impõe um prazo de
três dias úteis entre a decisão de
comprar e vender dólares e a liquidação do negócio.
Não se sabe ainda se todas essas
regras vão ser revistas, mas o Banco Central considera que a decisão de deixar as cotações cambiais variarem livremente, tomada em janeiro, abriu caminho para um regulamento também mais
livre.
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