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LUÍS NASSIF
O último dia do jogo
No apogeu dos cassinos, nos
anos 40, havia os Visconti, do
Rio, e havia o mineiro Joaquim Rolla, que controlava o
Cassino da Urca, no Rio e em
Poços de Caldas, o da Pampulha, em Belo Horizonte, o do
Grande Hotel Araxá, a Quitandinha e o Cassino Icaraí,
em Niterói.
Rolla era um sujeito alto,
forte, enfrentava cinco meninos nas petecas de praia, era
caipira, provavelmente de
Passos, e tinha o dom da conversa. Foi íntimo de JK e Amaral Peixoto.
No mais luxuoso de seus cassinos, o Quitandinha, havia
salão de 150 metros quadrados
de circunferência com uma
cúpula, onde estrelas e lua iluminavam 40 roletas.
Mais modesta, a Urca, de Poços, foi construída pelos Moreira Salles, depois arrendada
para Rolla. Lá, havia apenas
quatro roletas, mas que entretinham grandes jogadores
paulistas como Azem Azem, os
Calfat, Adis Sadi, da Mercedes-Benz, Zarzur, do Banco
São Paulo. Os jogadores eram
chamados de parceiros. No
Rio, os maiores "parceiros"
eram Gervásio Seabra e Arthurzinho Bernardes.
No Rio, toda segunda-feira
Rolla reunia seus funcionários
no Salão Vermelho, para passar instruções e evitar conluios
com parceiros. Um dos tipos
mais perigosos era o "sistemista", o sujeito que gostava de
planejar sistemas de jogo na
roleta.
Na roleta tem preto e vermelho. Se jogava só no vermelho,
uma hora acertava. Por isso,
quando apareciam os "sistemistas" -em geral um povo
com ar de entendido, que só
falava em inglês-, Rolla aceitava no máximo dois contos
por aposta. Fim de jogo.
Em 1946, logo após uma das
reuniões de segunda-feira, na
saída, Rolla encontrou dona
Santinha, a senhora do marechal Eurico Gaspar Dutra,
candidato à Presidência da
República:
"Olha Rolla, vim pedir para
seu pessoal votar no Dutra".
"Não posso, dona Santinha,
porque corre por aí que vocês
vão fechar o jogo."
"Vim aqui especialmente
para desmentir. O Dutra não
vai fechar."
Rolla tinha 3.500 funcionários. Soltou circular pedindo o
voto para Dutra. Três dias depois de eleito, Dutra fechou o
jogo.
Em Poços, foi como se o
mundo desabasse para o pessoal do jogo.
Na última temporada do jogo, o grande destaque entre as
atrações nacionais da cidade
foi Juan Daniel, o pai de Daniel Filho, que cantava acompanhado de duas mulheres. Os
jornais da época noticiaram
que Dalva de Oliveira teve um
caso com um negro, tintureiro
-e fiquei cá pensando se não
seria o Lazinho, que tocava
uma guitarra elétrica de primeira e todo dia subia de bicicleta a rua de casa, recolhendo
roupas para a tinturaria. Os
"Milionários do Ritmo", de
Djalma Ferreira, fizeram sucesso, assim como Berry Brothers, trio negro americano
que trabalhava em musicais
da Metro. Mesquitinha regia
orquestra, Ankito era acrobata e Mercedes Simoni cantava
tangos. Todos trazidos por
Joaquim Rolla.
Depois disso, nunca mais o
Gibimba e seus jardins que
abrigaram as Irmãs Pagãs. Alzirinha Camargo, a doce Roxana, que acabou se casando
com um prefeito de Poços, o
casal Mary and Trotsky. Nunca mais o Ao Ponto, com as
músicas de Príncipe Maluco,
Nellys Biju, Zilah Fonseca,
Fritz Gallantneir.
Acabava-se o jogo. Em compensação, nascia Poços.
Ajuste fiscal
Segundo o "Guia Financeiro
da Agência Dinheiro Vivo",
que circula neste final de semana, os argumentos do governo
para sustentar a viabilidade do
ajuste fiscal são da seguinte ordem:
1) há R$ 4 bilhões alocados como "receita condicionada", que
dependem ainda de o Congresso aprovar a prorrogação de
impostos. Amarrado nesse item
estão também "despesas condicionadas". Não havendo a receita, não haverá a despesa;
2) dúvidas se o STF vai manter a contribuição sobre os inativos, que representa mais R$
1,3 bilhão no Orçamento. A esperança do governo é que o STF
reconheça a constitucionalidade da cobrança, mas considere
abusiva a alíquota de 25%, incluída pelo próprio Congresso
para transformar o imposto em
cascata. Se voltar o piso de 11%,
a diferença será coberta por
duas providências alternativas:
a) nova proposta de, por
exemplo, alíquota única de
14%;
b) a contribuição dos inativos
militares. Por enquanto os próprios militares já aceitam 6%.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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