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Apec tenta hoje ampliar a plataforma liberal
CÁTIA LASSALVIA
da Redação
Os países banhados pelo Pacífico devem adotar medidas econômicas liberalizantes na reunião de
cúpula que termina amanhã em
Auckland, na Nova Zelândia.
Iniciativas nesse sentido, principalmente nos setores de comércio
de serviços e agricultura, tendem,
no entanto, a ser limitadas.
O mais provável é que surjam
acordos bilaterais, em vez de globais, devido à dificuldade de consenso entre os 21 países da Apec
(Fórum de Cooperação Econômica da Ásia Pacífico).
Se depender da vontade dos Estados Unidos, o país-membro
mais importante da Apec, a pauta
de setores a serem liberalizados
incluiria também o comércio de
produtos industriais.
A representante norte-americana do Comércio, Charlene Barshefsky, sinalizou que os EUA pretendem apoiar a iniciativa de eliminar subsídios agrícolas. "Essa
prática cria desordem e atrapalha
o setor de muitos países", afirmou
Charlene.
Os acordos bilaterais que devem ser fechados até amanhã
atendem ao objetivo de aumentar
o comércio entre os países da
Apec. Mas são insuficientes como
preparação para a reunião da
OMC (Organização Mundial do
Comércio), em novembro.
Se quiser ter voz como bloco
econômico na OMC, a Apec precisará nesse encontro, iniciado na
quinta-feira, trabalhar numa
agenda que traduza o interesse de
todos os membros.
Integrar para competir
Os processos de integração regional assumiram desde os anos
80 um papel importante dentro
do mundo globalizado. Os países,
que vêm abrindo suas economias,
estão se aglutinando em associações e blocos regionais.
Os dois fenômenos - globalização e regionalização, contraditórios à primeira vista- são complementares e têm sido adotados
simultaneamente pela maior parte dos países ocidentais.
A Apec deve ser entendida dentro deste contexto. São países que
têm em comum, além do Oceano
Pacífico, a vontade de estabelecer
relações comerciais em que todos
tenham vantagens. Uma lista de
divergências econômicas, políticas e étnicas são o freio que fazem
muitos planos não acontecerem.
"Apesar de a Apec ter sido concebida para tratar de assuntos
econômicos, os últimos acontecimentos no Timor Leste estarão
também em discussão", afirma
Alexandre Uehara, doutorando
em política internacional pela
USP e pesquisador visitante da
Universidade de Sophia, em Tóquio. Uehara falou à Folha, do Japão.
Especialista em assuntos asiáticos, Uehara acredita que, além da
preocupação humanitária, os países temem que a Indonésia possa
vir a sofrer retaliação internacional, afetando sua economia e a
dos países vizinhos.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou sexta-feira
que suspendeu a continuidade do
apoio econômico à Indonésia,
qualificando o episódio Timor
Leste como um "desastre".
Os países da Apec aprovaram
em 1994 uma carta de intenções
que pretende transformar o fórum em uma área de livre comércio. O cronograma prevê 2010 como data para os países desenvolvidos e 2020 para o restante dos
membros.
Se a Apec se tornar uma área de
livre comércio, serão zeradas as
tarifas alfandegárias praticadas
no intercâmbio comercial entre
os países.
Para as nações mais pobres,
pertencer a um bloco regional pode lhes dar maior poder de barganha política e acesso mais fácil a
produtos importados e tecnologia. Em contrapartida, suas indústrias domésticas terão dificuldade de competir com economias
maiores e exportadoras.
Para os países desenvolvidos, o
bloco regional poderia representar um cenário maior de influência política e acesso a novos consumidores.
A secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright,
deu o tom das negociações na
quinta-feira. "A Ásia conseguiu
realizar reformas e sobreviver à
crise, mas depois acomodou-se e
não tem avançado muito", afirmou Albright em seu pronunciamento inicial.
"Um ponto importante da cúpula será votar o apoio à candidatura de alguns países à participação na próxima rodada da OMC,
que acontece em novembro",
afirma Uehara. China, Taiwan,
Rússia e Vietnã não fazem parte
da OMC.
Ironicamente, a China, às vésperas dos 50 anos de sua revolução comunista, pleiteia um "socialismo de mercado", capaz de
atrair investimentos estrangeiros
e ampliar seu fluxo comercial.
Repercussão
O reflexo das decisões da Apec
na América do Sul e no Brasil ainda não é claro. Se a Apec conseguir intensificar as relações econômicas de seus países, e com isso
alavancar a recuperação asiática,
poderão haver benefícios diretos
para a América do Sul.
"O Chile era tido como modelo
para as economias sul-americanas, mas vem tendo problemas
com a diminuição de seu intercâmbio com a Ásia, depois da crise de 97", diz Uehara.
O Chile, que aboliu o sistema de
bandas cambiais no início de setembro, deve terminar a reunião
com uma relação bilateral de livre
comércio acertada com a Coréia
do Sul. "Será um acordo muito
importante para o Chile e a Coréia", afirmou Eduardo Frei, presidente chileno.
Implementação das medidas
Muito do que acontece nos encontros da Apec faz parte de um
"jogo de cena", onde se gastam influência política e milhões de dólares. Uehara afirma que a imprensa asiática estima um orçamento de US$ 23 milhões para o
encontro da Nova Zelândia.
As economias envolvidas são
responsáveis por cerca de 46% do
comércio global.
Na reunião de Kuala Lumpur,
na Malásia, em 98, os membros da
Apec fracassaram na tentativa de
estabelecer um acordo de abertura de mercados e de liberalização
voluntária de setores.
As economias da Apec, que representam 55% do Produto Interno Bruto mundial -US$ 16 bilhões-, vão lutar para avançar
pelo menos em um ponto. Elas
querem uma posição comum pedindo a eliminação dos subsídios
agrícolas para a exportação.
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