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ARGENTINA
Candidato do partido de Menem quer corte do IVA de 21% para 15% e combate ferrenho à sonegação
Duhalde propõe a redução de imposto
ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires
Para tirar a Argentina da crise, o
candidato a presidente do partido
governista, Eduardo Duhalde,
propôs a redução do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA, espécie de ICMS argentino) de 21%
para 15%. A polêmica medida faz
parte de um plano econômico
chamado de "Concertación".
Para compensar a diminuição
da alíquota do imposto e seu impacto sobre as contas do governo,
Duhalde propõe um combate ferrenho à sonegação fiscal. Os economistas que defendem o plano
também afirmam que a medida
estimularia a atividade econômica, o que aumentaria a arrecadação de tributos.
Segundo a equipe econômica
do candidato, a redução de impostos seria equivalente a um aumento de salários e incentivaria a
compra de produtos, reativando a
economia argentina, que se encontra em recessão. Este ano, estimativas do Ministério da Economia prevêem queda de 3% do PIB
(total de riquezas do país).
O pacote anti-crise de Duhalde
é visto pela maioria dos analistas
como parte da campanha para
ganhar votos na próximas eleições. O candidato do partido do
atual presidente, Carlos Menem,
está em segundo lugar nas pesquisas e tem poucas chances de
vencer Fernando de La Rúa, o
candidato da coalizão de oposição, Aliança.
Sem demitir por um ano
O corte de impostos viria acompanhado por um lei que congelasse as demissões por um ano. Os
empresários assinariam o compromisso de não despedir funcionários contratados.
O desemprego é a principal
preocupação na Argentina no
momento. A última pesquisa realizada pelo Indec (instituto de estatísticas oficial), apontou taxa de
desemprego de 14,5% em maio.
Especialistas estimam que até o final do ano a desocupação pode
atingir cerca de 17% da população
em condições de trabalhar.
Para os críticos do programa
econômico e da campanha de
Duhalde, congelar as demissões
não incentivaria novas contratações, pois os empresários não poderiam demitir os novos trabalhadores.
O candidato do Partido Justicialista (do presidente Menem) também quer aprovar uma legislação
que apóie a campanha iniciada
pela UIA (União Industrial Argentina): "Compre trabalho argentino". Duhalde não especificou o projeto, mais o objetivo é
incentivar a venda de produtos da
indústria local.
Outro lado
O provável ministro da Economia de um governo da Aliança
(coalizão de oposição), José Machinea, afirma que a principal
proposta do plano "Concertación", a redução de impostos,
quebraria a Argentina.
"O corte de seis pontos percentuais do IVA significa prejuízo de
aproximadamente US$ 6 bilhões
por ano", calcula Machinea. Desses US$ 6 bilhões, a União deixaria de receber cerca de US$ 3 bilhões e a outra metade, as Províncias (Estados).
Para Machinea, a falta desses recursos significaria a explosão das
contas públicas, que já enfrentam
problemas crescentes. Este ano, o
déficit público deverá ser de cerca
de US$ 5,5 bilhões, segundo dados oficiais. No ano passado, foi
de cerca de US$ 3 bilhões.
Com o corte no imposto e o
consequente aumento do déficit,
Machinea afirma que o custo do
financiamento externo da Argentina seria mais alto e o país teria
dificuldades para conseguir dinheiro emprestado no exterior.
Segundo cálculos da FC (Fundação Capital), o déficit fiscal estimado para o próximo ano, sem a
redução proposta por Duhalde,
será superior a US$ 9 bilhões, caso
não sejam efetuados cortes de
gastos ou aconteça uma recuperação da atividade econômica.
Para chegar ao valor do rombo
das contas públicas para o próximo ano, a FC soma ao déficit deste ano US$ 1,95 bilhão de recursos
extras que a Argentina conseguiu
com privatizações em 99. Outros
US$ 2 bilhões são adicionados ao
déficit, devido à queda de arrecadação provocada pela redução de
contribuições trabalhistas.
Para Machinea, a Argentina
precisa passar por uma reforma
tributária, sem que isso signifique
diminuição da carga de impostos.
A reforma seria para eliminar impostos em cascata, que seriam
substituídos por tributos mais racionais, diz o provável ministro
da Economia.
Machinea também defende a
adoção de políticas setoriais ativas que incentivem a produção e a
exportação.
O economista argentino elogiou
o programa de subsídio ao financiamento de exportações brasileiro (Proex) e afirmou que a Argentina precisa criar um mecanismo
parecido. Mas, segundo ele, nem
a Argentina nem o Brasil deveriam usar esses mecanismo para o
comércio dentro do Mercosul.
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