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LUÍS NASSIF
As teles e a competição
de 2002
A inadimplência começa
a afetar severamente o resultado das teles. As duas principais empresas afetadas são a
Embratel e a Telemar, a primeira com 9% da inadimplência, a segunda com mais de 6%.
O caso Embratel se prende às
características do negócio. A
empresa não quis utilizar o
"billing" (cobrança) das operadoras fixas. Recebeu banco de
dados de clientes com problemas e acabou tendo dificuldades em identificar CPFs e respectivas linhas.
Por não ter operação fixa,
não consegue cortar linhas de
inadimplentes. Além disso, se
impedir o acesso de inadimplentes aos seus serviços, basta
a eles recorrer à concorrente
Intelig. No momento a empresa tenta renegociar o "billing"
com as operadoras fixas, mas
ainda não se chegou a um
acordo.
Já a Telemar sofre com o fato
de atuar em regiões de menor
poder aquisitivo. Atuando em
região mais rica, a Telefônica
tem inadimplência de apenas
3%.
O maior fator de inadimplência da Telemar foi o desconhecimento da clientela de baixa renda sobre os custos de ligar para telefones celulares. A
estratégia da empresa será soltar novas linhas com bloqueio
para celular. Se o cliente quiser
desbloquear, será previamente
informado sobre os custos das
ligações. A inadimplência explodiu também em empresas
celulares. Livrou-se dela a Telesp Celular pelo fato de 65%
de seus aparelhos ser pré-pagos.
A escassez de recursos internacionais, o aumento da crise
interna e da inadimplência
certamente deverão impor novo ritmo à expansão dos serviços de telecomunicações no
próximo ano.
A grande questão é que, dependendo das regras a ser adotadas, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)
poderá comprometer o modelo
de concorrência previsto para o
setor. No caso da telefonia fixa,
por exemplo, a Anatel exige
que a operadora B que queira
entrar em qualquer área atenda no mínimo 1% dos domicílios de todos os municípios com
mais de 200 mil habitantes.
Nessa condição existem 113
municípios em todo país, com
750 mil linhas instaladas. De
maneira geral, essas localidades estão plenamente atendidas pelas operadoras locais e
pelas espelhos. Mais que isso, as
exigências de universalização
criaram capacidade ociosa. Pelas regras da Anatel, haveria a
necessidade de mais investimentos em áreas que estão superinvestidas -em um país
carente de recursos.
É o que ocorre com telefonia
a cabo, setor em que as operadoras instalaram suas linhas
de maneira superposta, com
um custo enorme e um imenso
desperdício de capital.
Magé, no Estado do Rio, é um
caso flagrante desse tipo de
problema. A cidade tem 205
mil habitantes, 18 mil residências das classes A, B e C e 18.500
telefones instalados. Telefônica, Embratel, Intelig e Brasil
Telecom têm interesse na área.
Se se fosse cumprir o regulamento, haveria a necessidade
de uma oferta adicional de 10
mil linhas.
A única maneira de uma
operadora entrar em um mercado já ocupado será por meio
das áreas de melhor produtividade. A partir dessa base, poderá crescer aos poucos. Um
dos fatores que levaram à inviabilidade das "empresas-espelho" foi essa obrigatoriedade
adicional.
Há inúmeras barreiras de entrada aos novos competidores.
A primeira é e necessidade de
capital intensivo. Os operadores instalados têm enorme capacidade de gerar caixa. Seu
"cash flow" é de R$ 22 (conta
média) vezes o número de assinantes. Seu segundo trunfo é o
controle do acesso local.
No caso do novo Serviço Celular Móvel, operadores reclamam das exigências de investimentos que podem chegar a R$
1,8 bilhão, sem que seja clara a
relação custo/benefício para o
usuário.
É uma discussão que se inicia, mas que precisará ser mais
bem pesada por todas as partes, em vista dos últimos capítulos da crise do mercado internacional.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail - lnassif@uol.com.br
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