São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2001

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LUÍS NASSIF

As teles e a competição de 2002

A inadimplência começa a afetar severamente o resultado das teles. As duas principais empresas afetadas são a Embratel e a Telemar, a primeira com 9% da inadimplência, a segunda com mais de 6%.
O caso Embratel se prende às características do negócio. A empresa não quis utilizar o "billing" (cobrança) das operadoras fixas. Recebeu banco de dados de clientes com problemas e acabou tendo dificuldades em identificar CPFs e respectivas linhas.
Por não ter operação fixa, não consegue cortar linhas de inadimplentes. Além disso, se impedir o acesso de inadimplentes aos seus serviços, basta a eles recorrer à concorrente Intelig. No momento a empresa tenta renegociar o "billing" com as operadoras fixas, mas ainda não se chegou a um acordo.
Já a Telemar sofre com o fato de atuar em regiões de menor poder aquisitivo. Atuando em região mais rica, a Telefônica tem inadimplência de apenas 3%.
O maior fator de inadimplência da Telemar foi o desconhecimento da clientela de baixa renda sobre os custos de ligar para telefones celulares. A estratégia da empresa será soltar novas linhas com bloqueio para celular. Se o cliente quiser desbloquear, será previamente informado sobre os custos das ligações. A inadimplência explodiu também em empresas celulares. Livrou-se dela a Telesp Celular pelo fato de 65% de seus aparelhos ser pré-pagos.
A escassez de recursos internacionais, o aumento da crise interna e da inadimplência certamente deverão impor novo ritmo à expansão dos serviços de telecomunicações no próximo ano.
A grande questão é que, dependendo das regras a ser adotadas, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) poderá comprometer o modelo de concorrência previsto para o setor. No caso da telefonia fixa, por exemplo, a Anatel exige que a operadora B que queira entrar em qualquer área atenda no mínimo 1% dos domicílios de todos os municípios com mais de 200 mil habitantes.
Nessa condição existem 113 municípios em todo país, com 750 mil linhas instaladas. De maneira geral, essas localidades estão plenamente atendidas pelas operadoras locais e pelas espelhos. Mais que isso, as exigências de universalização criaram capacidade ociosa. Pelas regras da Anatel, haveria a necessidade de mais investimentos em áreas que estão superinvestidas -em um país carente de recursos.
É o que ocorre com telefonia a cabo, setor em que as operadoras instalaram suas linhas de maneira superposta, com um custo enorme e um imenso desperdício de capital.
Magé, no Estado do Rio, é um caso flagrante desse tipo de problema. A cidade tem 205 mil habitantes, 18 mil residências das classes A, B e C e 18.500 telefones instalados. Telefônica, Embratel, Intelig e Brasil Telecom têm interesse na área. Se se fosse cumprir o regulamento, haveria a necessidade de uma oferta adicional de 10 mil linhas.
A única maneira de uma operadora entrar em um mercado já ocupado será por meio das áreas de melhor produtividade. A partir dessa base, poderá crescer aos poucos. Um dos fatores que levaram à inviabilidade das "empresas-espelho" foi essa obrigatoriedade adicional.
Há inúmeras barreiras de entrada aos novos competidores. A primeira é e necessidade de capital intensivo. Os operadores instalados têm enorme capacidade de gerar caixa. Seu "cash flow" é de R$ 22 (conta média) vezes o número de assinantes. Seu segundo trunfo é o controle do acesso local.
No caso do novo Serviço Celular Móvel, operadores reclamam das exigências de investimentos que podem chegar a R$ 1,8 bilhão, sem que seja clara a relação custo/benefício para o usuário.
É uma discussão que se inicia, mas que precisará ser mais bem pesada por todas as partes, em vista dos últimos capítulos da crise do mercado internacional.


Internet: www.dinheirovivo.com.br

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