São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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Bush surpreende e comparece a reunião do G20

SÉRGIO DÁVILA

ORIGEM DE WASHINGTON

Pela primeira vez em seus quase oito anos de governo e num gesto que surpreendeu o mundo das finanças, o presidente George W. Bush compareceu à reunião no FMI com os representantes do G20, grupo de países em desenvolvimento do qual faz parte o Brasil e que no momento é presidido pelo ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega. Ele estava acompanhado do secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, e do presidente do Fed, Ben Bernanke.
“Isso mostra a importância do organismo e também do momento em que estamos vivendo, eu diria mais, a gravidade desse momento”, disse Mantega, em relato posterior à reunião, que ocorreu na tarde de ontem, em Washington. Segundo o brasileiro, Bush reforçou a necessidade de uma atuação conjunta de todas as economias do mundo para debelar a crise: “Apesar de o epicentro ser os EUA e a Europa, há o reconhecimento da necessidade de uma atuação conjunta.”
De acordo com Mantega, “o governo americano tem um programa de ajuda, mas que tem de ser conectado com o programa europeu e, ao vir ao G20, ele está dizendo que é importante a conexão com países emergentes”. Bush conversou individualmente com todos os presentes, disse Mantega --Henrique Meirelles, presidente do BC brasileiro, também participava da reunião.
De acordo com o porta-voz da Casa Branca Tony Fratto, Bush disse que a crise vai afetar os países em desenvolvimento também, “por isso ele sentiu que era importante vira até aqui.” “Não importa se você é um país rico ou um país pobre, um país desenvolvido ou em desenvolvimento, nós estamos nessa juntos”, disse Bush, segundo o porta-voz. O norte-americano falou ainda que a crise não afeta só “financistas, mas trabalhadores nos EUA e em países como o Brasil”.
Mantega disse que propôs a seus pares a reformulação do G20, para que a instância seja mais ágil em situações como a atual. “É preciso uma sala de situação como numa guerra, porque de certa fora uma crise como essa é uma guerra”, disse Mantega. Para tanto, foi convocada nova reunião em São Paulo, em novembro, na qual o brasileiro disse que seria “importante” a presença de Paulson e Bernanke.
Estuda-se a possibilidade de ampliação da periodicidade atual de reuniões do grupo, de anual para pelo menos quatro vezes por ano, nos moldes do que acontece com o Mercosul. O brasileiro afirmou que Bush não se manifestou quanto à ampliação do G7 para incluir economias emergentes como o Brasil, mas que a idéia teve boa recepção da França e da Itália.
Todas as principais medidas dos EUA no combate à crise atual prevêem um forte endividamento do Tesouro dos EUA. Já os países emergentes _e muitos de seus representantes estavam na sala_ têm hoje cerca de US$ 9 trilhões em reservas acumuladas que podem financiar os norte-americanos. O crescimento mundial de 3% previsto pelo FMI para 2009 sairá basicamente dos países emergentes, já que os desenvolvidos devem ter um desempenho próximo de zero.

Cenário ruim
Em seu discurso no FMI, Mantega tinha afirmado que “caberá ao Estado restaurar a confiança, que foi estilhaçada pela quebra de várias instituições importantes”. “Espero que a crença infundada de que os mercados podem basicamente ser deixados a si mesmos ficará enterrada por um longo período”, afirmou o brasileiro.
Mantega disse que os países emergentes estão sendo “crescentemente afetados” pelas ondas da crise, mas que “se pode dizer que passou para as mãos dos países em desenvolvimento a responsabilidade de evitar uma recessão mundial”.
No pior cenário da crise, segundo o FMI, os mercados mundiais podem cair mais 20% antes de iniciar uma recuperação, e os governos dos principais países do mundo podem demandar ainda algumas semanas para implementar as medidas de contenção da atual crise de confiança.
Pouco antes do discurso de Mantega, o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, disse que o FMI deve seguir a sua missão original e buscar formas criativas de emprestar dinheiro aos países que passam por dificuldades. “Somos céticos em relação às propostas de aumentar significativamente os níveis de acesso.”
Colaborou FERNANDO CANZIAN, enviado especial a Washington

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