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ROGER AGNELLI
Proposta contra o desmatamento
A melhor forma de enfrentar o desmatamento é investir em educação, em saúde e na geração de oportunidades
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MEU AVÔ João chegou ao
Brasil no fim do século 19.
Veio da Itália para ser colono em fazenda de café, no interior de
São Paulo. Meu pai, Sebastião, nasceu numa fazenda. Após ter sucesso
como industrial, fez-se fazendeiro
em Araras, também em São Paulo.
Fui criado vendo as coisas da roça e
sei como é difícil manter uma propriedade rural auto-sustentável. Como empresário, meu pai seguia métodos de gestão e de produção modernos para aquela época. Tinha
uma propriedade de boa escala e
mesmo assim gastou muita energia
para manter a fazenda sustentável e
com preservação ambiental.
Imagino como vivem os habitantes dos assentamentos rurais no
Brasil. Longe dos grandes centros,
praticando agricultura familiar sem
infra-estrutura, sem recursos financeiros e técnicos, os assentados estão em ecossistemas riquíssimos.
Derrubar árvores tornou-se complementação de renda.
Na semana passada, o ministro do
Meio Ambiente, Carlos Minc, iniciou corajoso debate sobre o modelo
de reforma agrária. Ele apontou
propostas, como um sistema de produção coletiva, para aumentar a produtividade nos assentamentos.
O modelo usado nos assentamentos necessita de ajustes. A sociedade
arca com custos de implantação e
manutenção dessas áreas. Contudo
quem sabe informar o que e quanto
produzem? Que tecnologia se faz
necessária e que tipo de educação as
crianças devem receber para desenvolver essas comunidades? Essas
são questões que devem estar nesse
debate iniciado pelo ministro.
Cobra-se sustentabilidade das
empresas, mas vemos o avanço sem
controle do desmatamento nos assentamentos e o êxodo dos jovens
para as cidades. Precisamos de modelos que permitam o acesso à terra,
com viabilidade econômica e educacional, e que preservem o ambiente.
A melhor forma de enfrentar o desmatamento é investir em educação,
em saúde e na geração de oportunidades. Um caminho pode ser estimular novos arranjos econômicos.
É preciso haver parcerias entre governos e empresas. Os setores público e privado possuem naturezas de
atuação distintas, mas complementares. Se empresas ajudarem no desenvolvimento de novos processos,
criam-se condições para a sustentabilidade dos assentamentos.
Vejamos o exemplo da Vale na
Área de Preservação Ambiental do
Igarapé Gelado, em Parauapebas
(Pará). A comunidade existe há décadas, mas não conseguia se desenvolver. Foi feita uma parceria entre
Vale, Ibama, prefeitura e comunidade para instalar uma Escola Técnica
Rural que, entre outros benefícios,
viabilizará a produção de alimentos
em escala empresarial, os quais, por
sua vez, abastecerão os restaurantes
industriais da Vale na região. Uma
relação de ganha-ganha para todos.
É preciso uma espécie de PPP entre
a iniciativa privada e o governo.
Não devemos perder tempo com
discussões sobre a importância da
reforma agrária. É necessário levarmos novos processos para os assentamentos e ajudar a banir de lá a pobreza, que, desumana, flagela homens, mulheres e crianças. É hora
de promover a inclusão social dos
assentados, porque, no fim das contas, o maior inimigo do ambiente é a
miséria.
ROGER AGNELLI , 49, economista e diretor-presidente da
Vale, escreve neste espaço a cada quatro semanas.
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