São Paulo, segunda, 12 de outubro de 1998

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NOVAS LOJAS
Plano é gastar US$ 200 mi
Investimento do Carrefour vai ter atraso

FÁTIMA FERNANDES
RICARDO GRINBAUM

da Reportagem Local

A crise econômica está afetando os planos do Carrefour, maior rede de supermercados em operação no Brasil. Investimentos de US$ 200 milhões previstos para o início de 99 serão realizados com atraso.
Os investimentos são destinados à construção de quatro a seis hipermercados. Pelo novo planejamento da rede francesa, apenas uma das obras começará no início do ano que vem. As outras provavelmente ficarão para o segundo semestre.
"Estamos preparados para crescer, mas ainda não demos a autorização para a realização imediata dos investimentos", diz Jean Duboc, diretor-superintendente da rede.
Existem duas razões para o atraso. O Carrefour decidiu agir com cautela diante das incertezas em torno da crise econômica. Para Duboc, seria "irresponsabilidade" agir como se nada tivesse mudado na economia mundial nos últimos tempos.
"O comportamento do Carrefour não é de medo, é de prudência", diz o executivo, que acaba de completar um ano à frente do Carrefour brasileiro.
O outro motivo é que o Carrefour está acertando detalhes de dois investimentos de peso. Na França, a empresa comprou a rede Comptoirs Modernes, especializada em lojas de tamanho médio.
No Brasil, a Comptoirs Modernes acertou a compra de 23 pontos-de-venda das Lojas Americanas, que têm perfil de supermercados. Duboc não fala sobre esses investimentos, mas diz que as negociações com a Comptoirs Modernes devem afetar o planejamento do Carrefour no Brasil.
Responsável por 16% das vendas e 20% do lucro do Carrefour mundial, a filial brasileira ocupa uma posição-chave na estratégia da empresa francesa. No ano passado, a rede faturou US$ 5,5 bilhões no Brasil. De janeiro a julho de 98, as vendas cresceram cerca de 6,2% acima da inflação.

Promoções
No segundo semestre, os resultados não são tão animadores como no início do ano. Em setembro, diz Duboc, o setor de supermercados no Brasil sofreu queda de faturamento de mais de 10% em relação a agosto. O Carrefour também sentiu a queda nas vendas, mas Duboc não diz quanto.
Para enfrentar o enfraquecimento do consumo, o Carrefour planeja aumentar as promoções. Os franceses apostam que conseguem baixar os preços por meio de uma mudança no sistema de compras.
Desde que se instalou no país, há 23 anos, o Carrefour adotou um modelo de compras descentralizado, como se cada loja fosse uma empresa independente. Agora, a rede está concentrando suas compras para aumentar o volume de encomendas e obter descontos dos fornecedores.
A centralização está sendo feita não só no Brasil, mas também nos outros 19 países onde a rede atua. Boa parte dos produtos está sendo negociada na sede, em Paris, com grandes multinacionais, como a Philips, Nestlé e L'Oreal. Já foram fechados cerca de 50 contratos em escala mundial.
O Carrefour quer mostrar o potencial do novo sistema de negociações na comemoração de seus 35 anos, a partir desta semana. De 15 a 24 deste mês, o Carrefour vai oferecer dezenas de produtos com descontos entre 20% e 50%, de acordo com Duboc. Com o título de "um mês nunca visto no Brasil", a promoção inclui produtos eletrônicos, roupas e alimentos.

Concorrência
As promoções têm o objetivo de disputar mercado com a concorrência em um ano que o superintendente do Carrefour imagina que será "difícil". Com a previsão dos economistas de que o Brasil sofrerá dura recessão em 99, o Carrefour ainda não tem planos para novas aquisições.
"Se aparecer um negócio é claro que, como os demais concorrentes, estudaremos. Hoje não estamos negociando nada", diz Duboc.
Em 98, o Carrefour comprou a rede paulista Eldorado, com oito lojas, além de abrir dois novos hipermercados. Atualmente, a rede tem 58 hipermercados, concentrados principalmente na região Sudeste do país.
Duboc tem grande experiência em lidar com crises econômicas. Ele dirigiu o Carrefour mexicano no período de colapso do peso, quando a economia chegou a sofrer retração de 6% do PIB.
Na sua opinião, a situação brasileira é diferente da mexicana.
"No México, houve problema de comunicação com os investidores externos, que resultou na perda de confiança no país", diz Duboc. "No Brasil, não há problema de confiança. O dinheiro que está saindo do país é especulativo -esse dinheiro não é bom."



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