|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INFLAÇÃO
Petróleo e consumo também preocupam a equipe econômica
Governo quer conter alta
de tarifa pública em 2000
VIVALDO DE SOUSA
da Sucursal de Brasília
Preocupada em cumprir a meta
de inflação de 6% fixada para o
próximo ano, a equipe econômica
do governo pretende negociar
com as empresas de energia elétrica e telecomunicações regras
para impedir reajustes acima desse índice nas tarifas dos serviços,
apurou a Folha. O objetivo é
manter a inflação sob controle.
O presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, disse ontem a
parlamentares que os indicadores
analisados pelo BC na reunião do
Copom identificaram componentes residuais de inflação gerados pela desvalorização do real e
pelo reajuste das tarifas públicas.
Esses resíduos, disse Fraga, alteraram o comportamento dos índices de preços, o que fez com que
o BC adotasse uma posição mais
prudente na fixação das taxas de
juros, interrompendo a tendência
de baixa.
Além do reajuste das tarifas de
energia elétrica e de telecomunicações, outros dois fatores preocupam o governo em relação ao
cenário de inflação para o próximo ano: preço internacional do
petróleo e crescimento da economia, estimado em pelo menos 4%
pela equipe econômica.
No caso das empresas de energia elétrica e telecomunicações, os
contratos de concessão dos serviços contêm cláusulas de reajuste
pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços) da Fundação Getúlio Vargas
ou pela variação cambial. Foi uma
garantia adicional negociada com
o governo na época da privatização.
Quando as vendas aconteceram, o câmbio era administrado
pelo governo por meio da política
de banda cambial -na qual o
Banco Central atuava no mercado
para evitar que a cotação do dólar
ficasse acima ou abaixo de um valor fixado, o que dava ao governo
um maior controle sobre o nível
de desvalorização do real.
Câmbio flutuante
Com a adoção do câmbio flutuante, no começo deste ano, a
desvalorização do real foi acelerada e a cotação da moeda norte-americana passou a ser definida
em razão da oferta e da procura
no mercado.
Com isso, o índice de reajuste
previsto no contrato de concessão
subiu, o que abriu espaço para
que a variação fosse repassada aos
consumidores. De janeiro a outubro, por exemplo, o IGP-DI da
FGV acumulou alta de 15,2% -a
previsão para o ano é um índice
entre 17,5% e 18,5%.
Para evitar o reajuste das tarifas
de energia elétrica e de telecomunicações com base na variação
cambial (cerca de 60% até agora)
ou do IGP-DI, a equipe econômica do governo pretende verificar
se as empresas cumpriram todas
as metas previstas nos seus contratos. Para a equipe, o reajuste é
apenas um dos itens contratuais.
Como o governo já tem informação de que as empresas não
cumpriram todas as metas, o que
se pretende fazer é negociar reajustes de no máximo 6% no próximo ano.
A iniciativa não é consensual no
governo. O ministro Roldolpho
Tourinho (Minas e Energia) rejeita alterações nos índices de reajuste previstos nos contratos de
concessão das empresas de energia.
Petróleo e crescimento
Outro motivo de preocupação
do governo é o preço internacional do petróleo. Se não cair a partir de março, como a equipe econômica espera, o governo terá de
reajustar o preço dos combustíveis como forma de repassar para
os consumidores domésticos
uma parte do aumento do custo
de importação do petróleo.
Na avaliação do governo, uma
parte desse aumento de custo pode ser absorvida pela Petrobras
-o que permite autorizar reajustes menores para os combustíveis.
Com relação ao crescimento do
PIB (Produto Interno Bruto, que
mede a soma das riquezas produzidas no país), a preocupação do
governo é que gere aumento de
consumo, o que abriria espaço
para a remarcação de preços e,
portanto, para a elevação da inflação.
Nesse caso, o principal instrumento do governo continua sendo a taxa de juros básica da economia. Foi por isso que, anteontem, o BC manteve em 19% ao
ano a taxa Selic (que remunera os
títulos públicos). Esse será um
acompanhamento mensal.
Isto é, a política monetária será
calibrada mensalmente de acordo
com os dados que o governo terá
sobre o consumo e o nível de atividade econômica. O objetivo é
evitar a chamada "inflação de demanda", quando os preços sobem porque as pessoas estão consumindo mais sem se preocuparem com os preços.
Texto Anterior: Preços: Governo já estuda segurar tarifas Próximo Texto: Tourinho e Aneel defendem respeito total aos contratos Índice
|