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São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003

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ANÁLISE/MUDANÇAS NA ALCA

Tom agressivo foi abandonado para evitar retaliação

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A visão mais conciliadora, que explica o recuo do Brasil na retórica agressiva em relação à Alca (Área de Livre Comércio das Américas) em benefício do pragmatismo comercial, foi resultado de uma articulação capitaneada nos bastidores pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que amanhã reúne parte do seu ministério para discutir as negociações da Alca, determinou ao Itamaraty, no início do mês passado, um ajuste no tom e nos procedimentos nas negociações no âmbito da Alca.
Objetivo: dar mais voz a Palocci e aos ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Roberto Rodrigues (Agricultura) na formulação da estratégia de negociação, mantendo-a sob o comando do Itamaraty.
Isso aconteceu porque Palocci, Furlan e Rodrigues reagiram contra o que chamaram de visão ideológica de setores do Itamaraty, que, na época, insistia na discussão das barreiras não-tarifárias dos Estados Unidos na área agrícola.
Hoje, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, admite deixar esse tema fora da Alca, desde que haja concessão para maior acesso do Brasil ao mercado norte-americano.
Na visão de Palocci, Rodrigues e Furlan, o tom extremamente duro que vinha sendo adotado pelo Itamaraty levaria a um isolamento desnecessário do Brasil.
Esses três ministros argumentaram com Lula que um acerto pragmático, que permitisse maior acesso ao mercado dos Estados Unidos, seria vantajoso. Portanto insistir numa tentativa de inviabilizar a área de livre comércio, com discursos como "Sem o Brasil, não existe Alca", levaria a uma dura retaliação contra a gestão Lula. Ou seja, seria desvantajoso politica e economicamente.
A mudança de tom, revelada pela Folha em 14 de outubro, acontecera uma semana antes, no dia 8, em almoço no Palácio do Planalto. Estavam presentes Amorim, Palocci e Furlan. Rodrigues, que disparara publicamente contra o Itamaraty, encontrava-se fora de Brasília. No entanto foi informado depois do sucesso da articulação de Palocci, que nunca abriu fogo publicamente contra o Itamaraty.
Como gosta de Amorim e credita a ele lances de sucesso da política externa, Lula manteve o prestígio público de seu chanceler, mas deu a ele as reorientações que hoje dominam a estratégia do Brasil em relação à Alca. Lula pediu, por exemplo, que Rodrigues e Furlan, experientes negociadores comerciais, fossem mais ouvidos. Como o próprio Amorim costuma dizer, não há política de ministro em relação à Alca, mas de governo. E ele tem tratado de executá-la.


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