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ANÁLISE/MUDANÇAS NA ALCA
Tom agressivo foi abandonado para evitar retaliação
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A visão mais conciliadora,
que explica o recuo do Brasil
na retórica agressiva em relação à
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) em benefício do pragmatismo comercial, foi resultado
de uma articulação capitaneada
nos bastidores pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que amanhã reúne parte do
seu ministério para discutir as negociações da Alca, determinou ao
Itamaraty, no início do mês passado, um ajuste no tom e nos procedimentos nas negociações no
âmbito da Alca.
Objetivo: dar mais voz a Palocci
e aos ministros Luiz Fernando
Furlan (Desenvolvimento) e Roberto Rodrigues (Agricultura) na
formulação da estratégia de negociação, mantendo-a sob o comando do Itamaraty.
Isso aconteceu porque Palocci,
Furlan e Rodrigues reagiram contra o que chamaram de visão
ideológica de setores do Itamaraty, que, na época, insistia na discussão das barreiras não-tarifárias dos Estados Unidos na área
agrícola.
Hoje, o ministro das Relações
Exteriores, Celso Amorim, admite deixar esse tema fora da Alca,
desde que haja concessão para
maior acesso do Brasil ao mercado norte-americano.
Na visão de Palocci, Rodrigues e
Furlan, o tom extremamente duro que vinha sendo adotado pelo
Itamaraty levaria a um isolamento desnecessário do Brasil.
Esses três ministros argumentaram com Lula que um acerto
pragmático, que permitisse maior
acesso ao mercado dos Estados
Unidos, seria vantajoso. Portanto
insistir numa tentativa de inviabilizar a área de livre comércio, com
discursos como "Sem o Brasil,
não existe Alca", levaria a uma
dura retaliação contra a gestão
Lula. Ou seja, seria desvantajoso
politica e economicamente.
A mudança de tom, revelada
pela Folha em 14 de outubro,
acontecera uma semana antes, no
dia 8, em almoço no Palácio do
Planalto. Estavam presentes
Amorim, Palocci e Furlan. Rodrigues, que disparara publicamente
contra o Itamaraty, encontrava-se
fora de Brasília. No entanto foi informado depois do sucesso da articulação de Palocci, que nunca
abriu fogo publicamente contra o
Itamaraty.
Como gosta de Amorim e credita a ele lances de sucesso da política externa, Lula manteve o prestígio público de seu chanceler, mas
deu a ele as reorientações que hoje
dominam a estratégia do Brasil
em relação à Alca. Lula pediu, por
exemplo, que Rodrigues e Furlan,
experientes negociadores comerciais, fossem mais ouvidos. Como
o próprio Amorim costuma dizer,
não há política de ministro em relação à Alca, mas de governo. E ele
tem tratado de executá-la.
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