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São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003

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COMÉRCIO MUNDIAL

Blocos se reúnem hoje para tentar acordo, mas proposta dos europeus deve preservar política agrícola

Mercosul quer cotas para avançar com UE

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS

Oferecer cotas mais suculentas ao Mercosul tende a ser o caminho da União Européia para fazer avançar as negociações com o bloco do Sul sem, ao mesmo tempo, modificar substancialmente a sua política agrícola.
É essa a expectativa dos delegados brasileiros para a reunião ministerial que os dois blocos farão hoje, destinada a desenhar o mapa do caminho daqui para a frente, em uma negociação que começou em 1995 e tem como ponto de chegada a criação de uma zona de livre comércio entre os 15 países da UE (que serão 25 a partir de maio) e os quatro do Mercosul.
Cotas é o sistema pelo qual um país (ou bloco) autoriza a importação de bens com tarifa zero ou baixa, até um certo limite. Acima dele, a tarifa é bem alta, tornando quase inviáveis as exportações.
Não é exatamente liberdade de comércio, ao contrário do que pressupõe uma área de livre comércio. Mas é aceitável para o Mercosul?
"Depende das cotas, dos produtos beneficiados, do tempo para que as cotas sejam eliminadas (e, portanto, as importações se tornem livres)", responde José Alfredo Graça Lima, embaixador do Brasil na União Européia.

Competição
Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, é mais receptivo à idéia. Antes de jantar, ontem, com Franz Fischler, o austríaco que é comissário europeu para Agricultura (uma espécie de ministro), Furlan dizia que os europeus têm uma série de "flexibilidades" para oferecer na negociação, entre elas as cotas.
A reunião ministerial entre Mercosul e União Européia se dará apenas uma semana antes de idêntico encontro entre os 34 países americanos que discutem a formação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Por mais que europeus e norte-americanos neguem que haja uma competição entre eles pelo mercado do Mercosul, a disputa é óbvia.
"A Alca é um elemento motivador para a União Européia, pelo exemplo mexicano. Os europeus não aceitam perder mercado para os EUA", diz Graça Lima.
É uma alusão ao fato de que a Europa perdeu importante fatia de mercado no México, quando foi criado em 1994 o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte, envolvendo México, Canadá e EUA).

Mais fácil com a UE
Furlan também vê a Alca no caminho das negociações Mercosul/UE: "Eles assistem de camarote toda a discussão que houve no Brasil em torno da Alca", diz o ministro.
Para ele, é de certa forma mais fácil um entendimento com a Europa do que com os Estados Unidos.
"A opinião pública brasileira não é contra um acordo com a Europa, mesmo que critique a política agrícola dos europeus. Não há um algoz, como o Zoellick é visto em alguns setores do Brasil, ao contrário do Lamy", afirma Furlan.
Zoellick é Robert Zoellick, responsável pelo comércio exterior norte-americano e autor de um punhado de críticas ao Brasil. Lamy é Pascal Lamy, comissário europeu para o Comércio, mais suave.
Além disso, facilita a negociação o fato de que ela se dá entre "dois blocos relativamente homogêneos, ao contrário da Alca, em que há diferenças enormes entre seus 34 integrantes", diz Furlan.


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