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COMÉRCIO MUNDIAL
Blocos se reúnem hoje para tentar acordo, mas proposta dos europeus deve
preservar política agrícola
Mercosul quer cotas para avançar com UE
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS
Oferecer cotas mais suculentas
ao Mercosul tende a ser o caminho da União Européia para fazer
avançar as negociações com o
bloco do Sul sem, ao mesmo tempo, modificar substancialmente a
sua política agrícola.
É essa a expectativa dos delegados brasileiros para a reunião ministerial que os dois blocos farão
hoje, destinada a desenhar o mapa do caminho daqui para a frente, em uma negociação que começou em 1995 e tem como ponto de
chegada a criação de uma zona de
livre comércio entre os 15 países
da UE (que serão 25 a partir de
maio) e os quatro do Mercosul.
Cotas é o sistema pelo qual um
país (ou bloco) autoriza a importação de bens com tarifa zero ou
baixa, até um certo limite. Acima
dele, a tarifa é bem alta, tornando
quase inviáveis as exportações.
Não é exatamente liberdade de
comércio, ao contrário do que
pressupõe uma área de livre comércio. Mas é aceitável para o
Mercosul?
"Depende das cotas, dos produtos beneficiados, do tempo para
que as cotas sejam eliminadas (e,
portanto, as importações se tornem livres)", responde José Alfredo Graça Lima, embaixador do
Brasil na União Européia.
Competição
Luiz Fernando Furlan, ministro
do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, é mais receptivo à idéia. Antes de jantar, ontem, com Franz Fischler, o austríaco que é comissário europeu
para Agricultura (uma espécie de
ministro), Furlan dizia que os europeus têm uma série de "flexibilidades" para oferecer na negociação, entre elas as cotas.
A reunião ministerial entre
Mercosul e União Européia se dará apenas uma semana antes de
idêntico encontro entre os 34 países americanos que discutem a
formação da Alca (Área de Livre
Comércio das Américas). Por
mais que europeus e norte-americanos neguem que haja uma
competição entre eles pelo mercado do Mercosul, a disputa é óbvia.
"A Alca é um elemento motivador para a União Européia, pelo
exemplo mexicano. Os europeus
não aceitam perder mercado para
os EUA", diz Graça Lima.
É uma alusão ao fato de que a
Europa perdeu importante fatia
de mercado no México, quando
foi criado em 1994 o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América
do Norte, envolvendo México,
Canadá e EUA).
Mais fácil com a UE
Furlan também vê a Alca no caminho das negociações Mercosul/UE: "Eles assistem de camarote toda a discussão que houve no
Brasil em torno da Alca", diz o
ministro.
Para ele, é de certa forma mais
fácil um entendimento com a Europa do que com os Estados Unidos.
"A opinião pública brasileira
não é contra um acordo com a
Europa, mesmo que critique a política agrícola dos europeus. Não
há um algoz, como o Zoellick é
visto em alguns setores do Brasil,
ao contrário do Lamy", afirma
Furlan.
Zoellick é Robert Zoellick, responsável pelo comércio exterior
norte-americano e autor de um
punhado de críticas ao Brasil.
Lamy é Pascal Lamy, comissário
europeu para o Comércio, mais
suave.
Além disso, facilita a negociação
o fato de que ela se dá entre "dois
blocos relativamente homogêneos, ao contrário da Alca, em
que há diferenças enormes entre
seus 34 integrantes", diz Furlan.
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