|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Jovens chegam ao mercado de trabalho sem qualificação
Da população de 15 a 25 anos, 37% não completaram nem o ensino fundamental
Dos jovens que não concluíram o ensino, 23% já deixaram estudo; mercado exclui quem tem menos de oito anos de escolaridade
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil não pode deixar de
investir no futuro, mas ainda
tem contas a acertar com o passado. É o que mostra estudo
realizado pela economista Sonia Rocha, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.
A partir da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, ela mostra que
37% dos jovens de 15 a 25 anos
não completaram nem o ensino
fundamental.
É essa a população que, apesar de todos os esforços que levaram o país a praticamente
universalizar o acesso ao ensino fundamental na década passada, está entrando no mercado com baixa qualificação. A escolarização precária acaba sendo também mais um entrave
para o desenvolvimento.
Rocha mostra que, desses jovens que não concluíram o fundamental, 23% já não mais estudam. Na maioria dos casos,
vão acabar encontrando a mesma dificuldade pela qual passou Marcos Vinícius Amaral,
22, para achar um emprego. Ele
abandonou a escola quando
cursava a quinta série para ajudar o pai a cuidar dos irmãos.
Amaral chegou a trabalhar
como garçom e tentou vaga em
restaurantes apostando nessa
experiência. "Mas me disseram
que não me aceitariam sem o
ensino fundamental. Por isso,
voltei a estudar", diz ele.
Para Rocha, os dados deixam
claro que ainda temos um
imenso passivo educacional e
que é urgente garantir que esses jovens tenham, ao menos, o
ensino fundamental completo:
"O mercado está excluindo o
trabalhador com menos de oito
anos de escolaridade. A tendência é que o ensino médio completo venha brevemente a ser o
nível mínimo de escolaridade
aceito pelo mercado formal".
A economista defende que,
visto que é praticamente inviável qualificar todos os trabalhadores adultos -a média dessa
força de trabalho é de só 6,6
anos de estudo-, o melhor caminho seria ter como meta que
todos os jovens de até 25 anos
consigam ao menos completar
o ensino fundamental. "Essa situação já é crítica e tende a só se
agravar, criando um extraordinário ônus econômico e social."
Uma das razões que levaram
o país a não aproveitar na totalidade os benefícios da quase
universalização do ensino fundamental foi que, uma vez na
escola, parcela significativa
desses jovens não aprendeu.
Como resultado disso, muitos abandonaram os estudos no
meio do caminho após repetirem sucessivamente de ano. Isso pôde ser comprovado com a
divulgação, neste ano, da Pnad
de 2005. Ela mostrou que desde 2003 vem aumentando o
percentual de jovens de 15 a 17
anos fora da escola, interrompendo uma curva de melhoria
nesse indicador que vinha desde a década passada.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Avanço do ensino superior é insuficiente Índice
|