São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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JORGE GERDAU JOHANNPETER

Uma agenda para o crescimento

A meta de 5% de evolução do PIB demonstra a atenção na retomada, mas deveríamos buscar mais, de 6% a 7%

O RECENTE processo eleitoral permitiu à sociedade maturar conceitos importantes sobre os desafios do Brasil e estabelecer uma prioridade: o crescimento econômico, determinante para a geração de empregos e para o resgate da dignidade das pessoas. Pela dramática realidade social do Brasil, o Estado carrega o ônus do assistencialismo, necessário como iniciativa transitória diante da dificuldade de inserção de milhares de pessoas no mercado de trabalho. Não podemos ter pessoas passando fome no país.
Acima de tudo, o problema é ético, de posicionamento do país diante das camadas mais pobres da população. Entretanto, a exclusão somente será revertida com o aumento de novas vagas de trabalho.
Não há dúvidas de que muitas conquistas importantes já foram obtidas. O país conseguiu, sem artificialismos, ter o câmbio flutuante, aumentar o superávit primário, elevar as exportações e controlar a inflação. Esses fatores se consolidaram fortemente no governo Lula.
A meta de 5% de evolução no PIB, divulgada pelo governo federal, demonstra a atenção na retomada do crescimento. No entanto, deveríamos buscar mais, de 6% a 7% ao ano.
O desempenho do Brasil está amarrado ao baixo índice de poupança pública, cujos níveis históricos têm sido negativos ou próximos a zero, apesar de o Estado concentrar hoje 40% do PIB. Por mais de 20 anos, o percentual médio de crescimento do PIB tem sido inferior a 2,5%, enquanto o da poupança nacional, abaixo de 20%. Em 2005, a poupança nacional chegou a 22% do PIB, o que demonstra uma evolução nos números históricos. O problema é que, se o país mantiver esse ritmo de evolução do PIB, levará cerca de cem anos para dobrar a renda per capita dos brasileiros. Para ter mais crescimento, então, é preciso aumentar a poupança pública para, no mínimo, 15% da receita tributária.
A iniciativa privada, por sua vez, responde pelos 60% do PIB restante e pela totalidade da poupança. No agregado, o país deveria alcançar pelo menos 26% de poupança sobre o PIB. Como não é mais possível elevar a carga tributária, a única alternativa é transformar a gestão pública, reduzindo o contínuo aumento dos gastos. Gestão não é um tema ideológico; é um assunto de interesse público, de todos os cidadãos.
Em diversas regiões, há prefeituras e governos estaduais que já obtiveram resultados positivos com a introdução de novas práticas de gestão. No plano federal, esse trabalho também é feito no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Além disso, é fundamental realizar a mais importante das reformas, a da previdência. No mundo todo, a previdência é um fator de poupança, mas, no Brasil, ela drena os recursos da economia e contribui fortemente para o déficit das contas públicas.
Independentemente do regime de benefícios, ninguém deveria receber valores acima da contribuição real feita ao longo da vida de trabalho.
Falta mais comprometimento por parte das lideranças -empresariais, políticas, sindicais ou acadêmicas- para reverter esse cenário. Um país socialmente justo passa por um engajamento na modernização do Estado e no uso de tecnologias de gestão que possa torná-lo mais eficiente. Assim, o crescimento econômico deixa de ser uma retórica e passa a impulsionar a criação de empregos.


JORGE GERDAU JOHANNPETER, 69, é presidente do grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial.
jorge.gerdau@gerdau.com.br


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