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JORGE GERDAU JOHANNPETER
Uma agenda para o crescimento
A meta de 5% de evolução do PIB demonstra a atenção na
retomada, mas deveríamos buscar mais, de 6% a 7%
O RECENTE processo eleitoral
permitiu à sociedade maturar conceitos importantes
sobre os desafios do Brasil e estabelecer uma prioridade: o crescimento
econômico, determinante para a geração de empregos e para o resgate
da dignidade das pessoas. Pela dramática realidade social do Brasil, o
Estado carrega o ônus do assistencialismo, necessário como iniciativa
transitória diante da dificuldade de
inserção de milhares de pessoas no
mercado de trabalho. Não podemos
ter pessoas passando fome no país.
Acima de tudo, o problema é ético,
de posicionamento do país diante
das camadas mais pobres da população. Entretanto, a exclusão somente
será revertida com o aumento de
novas vagas de trabalho.
Não há dúvidas de que muitas
conquistas importantes já foram obtidas. O país conseguiu, sem artificialismos, ter o câmbio flutuante,
aumentar o superávit primário, elevar as exportações e controlar a inflação. Esses fatores se consolidaram fortemente no governo Lula.
A meta de 5% de evolução no PIB,
divulgada pelo governo federal, demonstra a atenção na retomada do
crescimento. No entanto, deveríamos buscar mais, de 6% a 7% ao ano.
O desempenho do Brasil está amarrado ao baixo índice de poupança
pública, cujos níveis históricos têm
sido negativos ou próximos a zero,
apesar de o Estado concentrar hoje
40% do PIB. Por mais de 20 anos, o
percentual médio de crescimento
do PIB tem sido inferior a 2,5%, enquanto o da poupança nacional,
abaixo de 20%. Em 2005, a poupança nacional chegou a 22% do PIB, o
que demonstra uma evolução nos
números históricos. O problema é
que, se o país mantiver esse ritmo de
evolução do PIB, levará cerca de
cem anos para dobrar a renda per
capita dos brasileiros. Para ter mais
crescimento, então, é preciso aumentar a poupança pública para, no
mínimo, 15% da receita tributária.
A iniciativa privada, por sua vez,
responde pelos 60% do PIB restante
e pela totalidade da poupança. No
agregado, o país deveria alcançar pelo menos 26% de poupança sobre o
PIB. Como não é mais possível elevar a carga tributária, a única alternativa é transformar a gestão pública, reduzindo o contínuo aumento
dos gastos. Gestão não é um tema
ideológico; é um assunto de interesse público, de todos os cidadãos.
Em diversas regiões, há prefeituras e governos estaduais que já obtiveram resultados positivos com a introdução de novas práticas de gestão. No plano federal, esse trabalho
também é feito no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome.
Além disso, é fundamental realizar a mais importante das reformas,
a da previdência. No mundo todo, a
previdência é um fator de poupança,
mas, no Brasil, ela drena os recursos
da economia e contribui fortemente
para o déficit das contas públicas.
Independentemente do regime de
benefícios, ninguém deveria receber
valores acima da contribuição real
feita ao longo da vida de trabalho.
Falta mais comprometimento por
parte das lideranças -empresariais,
políticas, sindicais ou acadêmicas-
para reverter esse cenário. Um país
socialmente justo passa por um engajamento na modernização do Estado e no uso de tecnologias de gestão que possa torná-lo mais eficiente. Assim, o crescimento econômico
deixa de ser uma retórica e passa a
impulsionar a criação de empregos.
JORGE GERDAU JOHANNPETER, 69, é presidente do grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial.
jorge.gerdau@gerdau.com.br
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