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Fazenda quer reduzir despesa em 2 pontos percentuais do PIB
Medidas de ajuste fiscal para diminuir os gastos do governo serão apresentadas ao presidente Lula na próxima terça-feira
Programa de ajuste fiscal de longo prazo só prevê medidas para conter expansão das despesas e não prevê cortes, afirma Appy
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A equipe econômica estuda
medidas de ajuste fiscal que poderão reduzir as despesas do
governo em dois pontos percentuais do PIB (Produto Interno Bruto) nos próximos dez
anos. Esse é um dos cenários
que os técnicos do governo
montaram para apresentar ao
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na próxima terça-feira.
"Estamos trabalhando na
criação de um espaço para aumentar investimentos e desonerar tributos", disse à Folha o
secretário-executivo da Fazenda, Bernard Appy.
Segundo ele, o programa de
ajuste fiscal de longo prazo que
está em elaboração prevê apenas medidas para conter o ritmo de expansão dos gastos.
"Em nenhum caso discute-se
corte de despesas", assegura.
A equipe de técnicos dos ministérios da Fazenda e do Planejamento e da Casa Civil iria
se reunir ontem para traçar várias alternativas para o programa fiscal. A dificuldade maior
continuava sendo estabelecer
um cenário comum de crescimento da economia e o leque
de medidas que farão parte de
cada um dos cenários.
Para ter uma idéia, os técnicos chegaram a discutir, na sexta-feira, a fixação de tetos para
os gastos com Saúde e Educação. A proposta era que os gastos determinados pela Constituição Federal se transformassem no limite máximo de gastos. Na prática, isso implicaria
cortes principalmente na Educação.
A idéia, porém, foi descartada antes mesmo de ser levada
ao ministros. "Não estamos
considerando a possibilidade
de tetos para Saúde e Educação. Essa idéia até foi colocada,
mas não está em discussão",
afirma, categórico, Appy.
Nos vários cenários em elaboração pelos técnicos do governo, não há nenhum que
considera uma retomada imediata dos investimentos ou a
criação, a curto prazo, de condições para reduzir tributos.
A "sobra" de recursos para
investir virá apenas se houver
crescimento significativo da
economia. E é essa a aposta do
governo. Com as despesas controladas e o aumento do PIB, o
peso dos gastos em relação ao
tamanho da economia será reduzido e o ganho de receita advindo do crescimento poderá
ser direcionado para outras
fontes.
Inicialmente, a prioridade da
equipe econômica será o aumento do investimento. Até setembro, o governo gastou
R$ 7,961 bilhões em obras, o
equivalente a 0,5% do PIB.
Esse resultado não foge da
média que vem sendo executada desde o governo FHC (1995-2002) e é considerado muito
baixo para criar estímulos significativos para o crescimento
da economia. Só para comparar, durante o "milagre econômico" brasileiro, nos anos 70, o
governo federal investia o equivalente a 2% do PIB, quatro vezes mais que hoje.
Corte de impostos
A desoneração de tributos será feita em paralelo ao aumento
de investimentos, mas não é o
alvo principal no primeiro momento do programa fiscal, segundo a Folha apurou.
Nessa área, a intenção do governo é cortar tributos que hoje incidem sobre investimentos. Ou seja, fazer com que durante a etapa de construção e
implementação de uma fábrica, por exemplo, o empresário
não pague impostos.
No início deste ano, o governo considerou dar um passo
importante nessa direção com
o fim da cobrança do PIS e da
Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social) sobre as vendas de máquinas e equipamentos. Mas
acabaram prevalecendo considerações eleitorais e o governo
optou por corrigir primeiro a
tabela do IRPF (Imposto de
Renda Pessoa Física).
Gestão
A outra face do programa que
será apresentado ao presidente
Lula inclui medidas para melhorar a gestão do gasto público. Nessa categoria estão propostas como a mudança na elaboração do Orçamento para
que, uma vez iniciada uma
obra, ela tenha recursos garantidos até a sua conclusão.
A equipe técnica também
considera necessário criar regras para que a contratação de
obras pelo governo não seja dividida em inúmeros contratos,
com diferentes empresas. A
avaliação é que isso dificulta a
gestão, aumenta custos e ainda
abre espaço para corrupção, já
que ao fatiar uma obra, o governo acaba atendendo a várias
empreiteiras.
Buscando apoio para permanecer no cargo, o ministro Guido Mantega (Fazenda) pretende entregar, nesta semana, um
esboço das medidas em estudo
ao presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. Também participam
das discussões os ministros
Paulo Bernardo (Planejamento), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Dilma Rousseff (Casa Civil).
(LEANDRA PERES)
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