São Paulo, quinta, 12 de novembro de 1998

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CONTAS EXTERNAS
Nova norma para "63 caipira" contraria promessa de restrição
BC facilita de novo entrada dos capitais especulativos

Sergio Lima/Folha Imagem
O presidente do Banco Central, Gustavo Franco, deixa Fazenda


da Sucursal de Brasília

O Banco Central baixou ontem norma que facilita a captação de capitais estrangeiros de curto prazo pela chamada "63 caipira", operação que permite aos bancos captar dinheiro no exterior a pretexto de investir em agricultura.
A regra foi editada cerca de um mês após o diretor de Política Monetária do Banco Central, Francisco Lopes, ter declarado que esse tipo de capital era "muito ruim".
A partir de agora, bancos que captarem dólares no exterior pela "63 caipira" poderão repassar os recursos a outras instituições do país por meio de empréstimos com prazo mínimo de três meses.
Pela regra anterior, os dólares só podiam ser repassados a outras instituições em empréstimos com prazo mínimo de um ano.
A medida facilita a captação de empréstimos no exterior porque, quanto menor o prazo de aplicação dos recursos dentro do país, menores os riscos dos bancos que participam da operação.

Promessa de restrições
Em 30 de setembro passado, Lopes declarou que seriam criadas barreiras ao ingresso de capitais de curto prazo.
"O capital de curto prazo é muito ruim porque entra para ganhar com juros e sai muito rápido", disse Lopes, por intermédio da assessoria do Banco Central.
Na época, ele argumentou que essa saída acaba "provocando perda de reservas, causando insegurança e impedindo uma análise mais clara da situação do país".
De fato, boa parte da debandada de dólares que ocorreu após a moratória russa era das linhas "63 caipira".
A "63 caipira" é uma linha de empréstimos de curto prazo que teoricamente deveria levantar recursos no exterior para financiar a agricultura, mas que acaba sendo usada por capitais especulativos que desejam lucrar com os juros altos dentro do país.
Os bancos tomam empréstimos no exterior, com prazo mínimo de seis meses, com a justificativa de financiar a agricultura.
Mas o Banco Central permite que, enquanto o empréstimo não é concedido aos agricultores, o capital seja aplicado em títulos com variação cambial ou emprestado a outros bancos.
Essa brecha permite que os bancos levantem recursos sem repassá-los aos agricultores. As instituições captam no exterior, pagando juros baixos, e aplicam dentro do país, onde as taxas são maiores.
Essa regra flexível permitiu ao BC, ao longo deste ano, atrair dólares para reforçar suas reservas, compensando baixas ocorridas na crise asiática.
De janeiro a setembro, a entrada líquida de dólares pela " 63 caipira" somou US$ 2,937 bilhões.
No auge da crise russa, em agosto passado, o BC já havia adotado medidas para incentivar os bancos a captarem dólares pela "63 caipira". Os bancos receberam autorização para aplicar em títulos públicos 100% dos recursos. Antes, só podiam aplicar metade.



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