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SALTO NO ESCURO
Novo modelo fortalece o Estado e esvazia Aneel; para o governo, regras vão "abortar explosão tarifária"
Ministério vai centralizar política energética
HUMBERTO MEDINA
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo anunciou ontem novas regras para o setor elétrico que
aumentam o poder do Estado e
esvaziam o papel da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Segundo a ministra Dilma Rouseff (Minas e Energia), o novo
modelo permitirá que as tarifas de
energia aumentem menos para o
consumidor ou cheguem a cair.
"O novo modelo vai estancar a
explosão tarifária", disse a ministra. "Estamos abortando um processo de aumento tarifário crescente que estava em curso no setor elétrico", afirmou.
Entre 1995 e 2002, a tarifa média
de energia para o consumidor residencial subiu 175%, segundo a
Aneel. Entre 2002 e 2003, esse aumento médio foi de 11,28%.
Ontem o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva assinou as duas medidas provisórias que estabelecem as novas regras.
Com o novo modelo, aumenta a
intervenção estatal no setor. O governo criará duas empresas: uma
para centralizar a comercialização
de energia entre distribuidoras e
geradoras e outra para planejar as
atividades do setor.
Além disso, o governo definirá o
nome do presidente do ONS
(Operador Nacional do Sistema
Elétrico). Hoje, quem escolhe o
presidente do ONS é um conselho
formado por representantes do
setor privado e do governo.
Além disso, o Ministério de Minas e Energia passará a comandar
os processos de concessão, seja na
área de geração, distribuição ou
nas linhas de transmissão.
Questionada sobre o caráter estatizante do novo modelo, que entra em vigor em abril ou maio de
2004, Dilma disse que o planejamento do setor deve ser sempre
uma prerrogativa do governo.
"Explique-me o que há de estatizante em tentar reconstruir uma
função que nunca deixou de ser
do governo e que nós estamos retomando?" De acordo com a ministra, "a crítica estatizante carece
absolutamente de sentido".
Segundo Dilma, três características do novo modelo vão impedir
reajustes altos de tarifa ou até fazer com que elas caiam.
São eles: a proibição das distribuidoras de comprar energia
mais cara de geradoras do mesmo
grupo empresarial; a instituição
do critério de menor tarifa nas licitações para obras de geração de
energia; e a centralização da venda da energia das geradoras para
as distribuidoras.
A ministra ressaltou que hoje há
sobra de energia e que, por isso, os
leilões que serão feitos para compra de energia das geradoras deverão resultar em preços mais
baixos para o MWh (megawatt/
hora) do que os que seriam cobrados se os contratos entre distribuidoras e geradoras fossem simplesmente renovados.
Os efeitos do novo modelo sobre as tarifas não serão imediatos.
Como os atuais contratos entre
geradoras e distribuidoras serão
respeitados, o modelo entrará em
vigor aos poucos, à medida que
esses compromissos terminem.
O governo ainda não sabe o
quanto menos a energia poderá
subir nos próximos anos, mas,
pelos exemplos oferecidos, o preço poderia triplicar.
"A tendência era subir muito.
No Nordeste, tem distribuidora
que irá renovar contratos nos
quais a energia custava R$ 50
MWh e passará a custar R$ 150
por MWh", disse o secretário-executivo do ministério, Maurício
Tolmasquim.
Para Dilma, a sobreoferta de
energia atual vai jogar os preços
para baixo. "O preço médio das
tarifas é bem abaixo desse [da renovação dos contratos]."
As distribuidoras de energia farão leilões para comprar energia.
Essa energia será comprada das
geradoras por meio da CCEE (Câmara de Comercialização de
Energia Elétrica) -órgão que irá
centralizar a venda de todas as geradoras e repassará para as distribuidoras por um preço médio.
As licitações para novos projetos de geração de energia serão
vencidas pela empresa ou consórcio que oferecer a menor tarifa a
ser cobrada do consumidor.
Além disso, quando o projeto
for licitado, ele já terá todas as licenças ambientais necessárias para a sua construção. O concessionário que ganhar a licitação também levará o empreendimento já
com os contratos de longo prazo
para a venda de energia.
Assim, o governo pretende diminuir os riscos para novas obras
de geração de energia e atrair investidores privados.
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