|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A liberalização cambial
A tal "faxina" na área
cambial, com simplificação da legislação do câmbio,
proposta por alguns economistas, deve ser melhor analisada
antes de se avançar na matéria. Uma coisa é a desburocratização das normas cambiais,
inclusive permitindo maiores
facilidades operacionais para
as empresas no seu dia-a-dia.
Outra coisa é permitir o livre
fluxo de capitais.
A campanha vem sendo liderada impropriamente pelo diretor da Área Internacional do
Banco Central, Alexandre
Schwartzman, que, ao emiti-la,
atropelou princípios básicos de
atuação de uma autoridade
monetária. Autônoma ou não,
autoridade monetária não
emite opinião exploratória sobre assuntos monetários ou
cambiais, porque sua opinião
tem peso próprio e não pode ser
veiculada como idéia acadêmica. Ou há consenso no governo
sobre determina linha, e essa é
então exposta, ou a autoridade
monetária não fala sobre ela.
Pai do Plano Real, Pérsio
Arida tornou-se o maior ideólogo dessa tese da abertura
cambial. Sua visão é a de que,
com a plena conversibilidade,
haveria redução do risco Brasil
-já que os dólares poderiam
entrar e sair livremente- com
reflexos sobre as taxas internas
de juros e sobre o capital externo. Não haveria necessidade de
hedge (proteção cambial) em
momentos de pânico, como
ocorreu no ano passado, porque as empresas disporiam de
contas em dólares.
Não se trata de ser contra liberalizações. Trata-se de avaliar com precisão todos os seus
desdobramentos, algo não feito
no Plano Real, que, com sua
fórmula de abertura financeira
e apreciação cambial, produziu um desastre que fez o Brasil
perder completamente o bonde
desse novo ciclo de desenvolvimento dos países-baleia.
A liberalização pode evitar
momentos de ansiedade, como
os do ano passado. Mas qual
seu impacto sobre a exportação
de capitais? Lembre-se que a liberalização das contas CC5,
editada por Gustavo Franco,
causou uma enorme fuga de
capitais, de mais de US$ 130 bilhões no período.
O consultor André Araújo
envia e-mail com considerações sobre o tema. "A legislação
cambial, que começou em 1921,
não nasceu por diletantismo
do governo. Ela existiu e existe
para proteger as reservas do
país. Não é por outra razão que
o economista Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia em Berkeley, participante desse mesmo seminário
da BM&F onde essas idéias circularam, foi contra a liberação
do câmbio e demonstrou que
circunstâncias de vulnerabilidade não permitem essa abertura irrestrita", escreve ele.
"Todos os países, mesmo os
mais liberais na área financeira, têm legislação cambial minuciosa. Não se entra ou sai
com grandes somas nos Estados Unidos ou na Inglaterra
sem fiscalização. Essa liberdade absoluta que esses amigos
do capital volátil querem só
existe nas Ilhas Cayman e nas
Bahamas, é coisa de país suspeito", continua.
De seu lado, a proposta de
Arida é estabelecer um horizonte longo de implementação
e um conjunto de precondições
para que a meta seja alcançada.
É uma discussão que está se
iniciando. Espera-se que caminhe sem simplificações.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Opinião econômica: Um olhar para a Índia Próximo Texto: Tributação: Palocci sinaliza com Cofins mais branda Índice
|