|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIBERALIZAÇÃO
Douglass North, vencedor do prêmio em 93, diz que países em desenvolvimento tendem a ser prejudicados
Livre comércio pode prejudicar os pobres, diz Nobel
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Diferenças institucionais significativas entre países desenvolvidos e nações em desenvolvimento
fazem com que o livre comércio
entre ambas tenda a prejudicar o
segundo grupo. O pensamento é,
por incrível que pareça, de um liberal: o economista Douglass
North, 83 anos, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, em 1993.
O economista norte-americano
está de passagem pelo Brasil onde
participará de um evento acadêmico. Ele defende a importância
de instituições que reforcem a
prática das leis como forma de
promoção do desenvolvimento
econômico e elogia as mudanças
que estão sendo implementadas
no Brasil. Veja as opiniões dele,
divididas por tópicos.
BRASIL - "O Brasil sempre teve
uma das piores distribuições de
renda do mundo. Eu acho que esse é um fator inibidor do crescimento. Muito mais que isso, o
Brasil tem tido um sistema político que não estimula, particularmente, projetos de educação para
grupos de baixa renda. Se você
tem uma população pobre, tem
de estabelecer um sistema educacional que aumente o nível de habilidade dessas pessoas. O Brasil
tem um longo caminho a seguir.
As coisas parecem promissoras
no Brasil nestes dias. Mas eu não
sei, vou esperar para ver."
TROCAS - "Na América Latina,
vocês herdaram do sistema estabelecido por Portugal e Espanha
o que eu chamo de trocas pessoais. São os tipos de estrutura de
trocas, nos níveis político e econômico, nos quais as trocas funcionam bem se você conhece a
outra parte, se você é membro da
família. Mas não foi criado um
clima apropriado para as trocas
impessoais, necessárias para que
uma economia funcione bem.
Vocês têm de criar um corpo de
regras da lei impessoal que permitam que eu possa negociar
com você e nunca ver você de novo. E você não vai me enganar e
eu não vou te enganar."
CHINA - "Eu vou à China todo
ano. Sou uma estrela de rock na
China [risos]. A razão para isso é
que a China leva a sério as análises institucionais. Até hoje, na
China, as trocas pessoais dominam o modo como o sistema funciona. Eles têm nos livros regras
de direitos de propriedade, mas
elas não significam muito.
Mas eles estão seriamente tentando mudar esse jogo. Se os chineses serão bem-sucedidos ou
não, é uma pergunta interessante.
No que se refere à América Latina, eu não vejo nenhum sistema
político, partido político que esteja se abrindo, que venha sendo
tão consciente sobre os problemas que enfrentam, como os chineses têm sido."
DEMOCRACIA - "O que não
sabemos ainda é como criar um
sistema político que colocará em
prática, seja numa democracia ou
em outro regime, regras do jogo
que levem ao crescimento.
Não há relação clara entre democracia e crescimento. Por outro lado, você olha Taiwan, Coréia do Sul, Cingapura e são todos
países que conseguiram manter
taxas muito altas de crescimento
sob ditaduras ou regimes autoritários. E os dois primeiros conseguiram, gradualmente, evoluir
para uma democracia."
IRAQUE - "No caso do Iraque,
os EUA -que mergulharam em
uma confusão enorme na qual
não tinham idéia do que estavam
fazendo- pensam que vão conseguir instalar uma democracia lá
nos próximos um ou dois anos.
Isso é uma insanidade."
LIVRE COMÉRCIO - "Numa
área de livre comércio, você só
consegue importar boas instituições de outros países caso se trate
de situação em que todos têm nível parecido de desenvolvimento.
Nenhum economista pode
manter suas credenciais sem
apoiar o livre comércio. Mas temos de reconhecer que chegar lá
é outra coisa. Se você tem livre comércio entre todos os países desenvolvidos, com relações estáveis, regras da lei, vai dar certo.
Mas, se você é um país pobre e
tenta se abrir para o comércio,
você pode ser bem-sucedido-a
China é um exemplo interessante-, mas enfrentará várias desvantagens em relação aos países
desenvolvidos."
FMI - "Por muito tempo, o FMI
foi a síntese de tudo o que eu sou
contra. Agora, o FMI agora quer
que eu vire um conselheiro deles.
Eu dou palestras lá todo ano. Mas
eu acho que o FMI já deu muito
conselho ruim, porque ignorava
o tipo de problemas institucionais fundamentais, que são o pano de fundo, em todo lugar, para
explicar a disparidade no bem-estar econômico das sociedades."
MUDANÇA - O que você realmente deveria ter são estruturas
institucionais que vão, gradualmente, mudando o jeito como o
jogo é jogado. E, no caminho, você quer garantir que não afete negativamente as famílias de baixa
renda. E isso é difícil de fazer. Estou fascinado em ver o que vocês
vão fazer aqui no Brasil. O país está prestes a fazer algo que me interessa muito: construir uma economia que funciona melhor mas,
ao mesmo tempo, não prejudica
as pessoas, como os mais pobres,
que têm sido protegidas por regras muito ineficientes do jogo."
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Comunicações: Pool de teles entrega oferta pela Embratel Índice
|