São Paulo, quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Quem dança a quadrilha

Collor pariu Renan, que pariu Garibaldi, apoiado por Sarney, que "articula" pelo lulismo, como Jader. Severino voltará

NÓS, JORNALISTAS , que temos uma queda meio tonta por efemérides, deixamos passar data importante, o passado de uma perversão e o futuro de uma ilusão, a de um Congresso melhor. Pelo livro de efemérides do atual barão de Murici e ex-mordomo do paço de Fernando Collor, Renan Calheiros, vê-se que uma das grandes linhagens políticas que degradam a vida brasileira atingiu a maioridade neste ano. Faz 18 anos que esse Calheiros se grudou como uma craca no casco do barco furado da política nacional.
Cracas, aqueles bichos cascudos, também conhecidos como caracas. Foi na eleição de Collor, em 1989.
Após Collor, esse Calheiros viveu breve ostracismo. Mas foi vice-presidente da estatal Petroquisa no governo Itamar Franco. Foi ministro da Justiça de FHC. Tornou-se enfim articulador político do lulismo.
Calheiros, que ora submerge e novamente se gruda no fundo do casco, multiplicou a sua linhagem, além de reuni-la a famílias mais antigas do coronelato, como a de José Sarney.
Sarney, ex-UDN, ex-Arena e ex-PDS, esteios da ditadura, a seguir juntou-se à facção ratos do navio do PDS, o PFL, facção que pulou fora do barco quando a ditadura afundava, esse PFL que ficou com o collorismo até o fim, a ponto de carregar o caixão do presidente impichado.
Collor pariu Renan, que pariu Garibaldi Alves, que deve se aboletar na presidência do Senado. Garibaldi é um tipo que, diante de perguntas sobre rádios supostamente de sua propriedade, disse "não saber" se possuía uma empresa de comunicação e, caso possuísse, seria "um pepino".
Segundo lógica básica, quem diz tal tipo de coisa é idiota ou é safado.
Sarney, que se bandeou do PFL para o PMDB, inaugurou a linhagem Jader Barbalho. Barbalho foi ministro da Reforma Agrária e da Previdência no governo Sarney, que mal começado promoveu o estelionato do Cruzado e acabou em hiperinflação, o colapso que deu em Collor.
Barbalho viria a ser presidente do Senado nos tempos de FHC, com o apoio do presidente tucano. Bateu ACM na disputa. ACM e Jader renunciaram a seus mandatos por medo de cassação. O duelo de titanics, as acusações entre os dois, terminou em abraço de afogados. Progresso?
Um renunciável como Calheiros logrou manter o mandato, com apoio da escória do Senado, a maioria. Aliás, antes de FHC agregar Barbalho à sua corte, o ex-governador do Pará dizia o seguinte do mandarinato fernandino: "Todo governo começa em clima de festa. O do outro Fernando também começou assim".
O ingrato Barbalho e Sarney hoje "articulam" pelo lulismo.
ACM era amigão de José Roberto Arruda, senador pelo PSDB, com quem violou o segredo de votação no Senado. Arruda, ora no PFL-Democratas, é amiguinho de Lula, apesar de seu partido de direita carcomida ser de oposição. É liderado pelo "deminho" júnior Rodrigo Maia. Para Maia, os "demos" são o "centro reformista", embora não creia em esquerda e direita. É um gênio da geometria política: acha o centro sem acreditar em extremidades. Talvez se trate de outro conceito transcendental desse partido que, "reformista", abriga a senadora Kátia Abreu, da bancada do pelourinho.
Sim, estamos perto de ver a ressurgência de Severino Cavalcanti.


vinit@uol.com.br

Texto Anterior: Alexandre Schwartsman: A falácia de Sherwood
Próximo Texto: Fed corta juro, mas frustra investidores
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.