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TR dá perda de R$ 9,86 bi ao FGTS do trabalhador
Valor corresponde ao dinheiro que seria depositado se correção fosse pela inflação
Mesmo que à TR sejam somados os juros de 3% ao ano, ainda há perda para os trabalhadores; solução seria mudar o índice de correção
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Se as contas do FGTS (Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço) fossem corrigidas pelo
IPCA (o índice oficial de inflação usado pelo governo), os trabalhadores brasileiros teriam
seus saldos no fundo engordados em mais R$ 9,86 bilhões somente neste ano.
Esse valor corresponde à
perda que os trabalhadores tiveram porque as contas do
FGTS são corrigidas, como determina a lei, pela TR (Taxa Referencial) mais juros de 3% ao
ano. Neste ano, a TR rendeu
apenas 0,8716%, enquanto o
IPCA está em 4,22% nos últimos 12 meses até novembro.
Assim, excluídos os juros, a
perda é de 3,32%.
Mesmo que à TR sejam
acrescidos os juros de 3% ao
ano -como enfatiza o governo,
quando divulga o rendimento
do FGTS-, ainda assim há perda de 0,31% para os trabalhadores, porque são 3,90% para o
fundo ante os 4,22% da inflação
oficial pelo IPCA.
Em consequência, o rendimento do fundo neste ano foi o
menor desde a sua criação, em
1966 -portanto, há 43 anos.
Quando se diz "perda", não
significa que o dinheiro foi tirado das contas, mas sim que deixou de ser creditado. Traduzindo em números: uma conta do
FGTS com R$ 100 em dezembro de 2008 tem R$ 103,90 hoje, incluindo os juros (o último
crédito deste ano foi feito no
dia 10 deste mês). Para apenas
acompanhar a inflação, era preciso que essa conta tivesse, no
mínimo, R$ 104,22.
Como se nota, o dinheiro do
trabalhador está perdendo poder de compra, uma vez que
não acompanha sequer a inflação. Em resumo, o dinheiro que
o trabalhador tem hoje no fundo compra menos do que comprava ao final do passado.
R$ 55,7 bi em sete anos
O valor de R$ 9,86 bilhões
-uma espécie de "expurgômetro" do fundo- foi calculado
pela ONG Instituto FGTS Fácil. Segundo os cálculos, que
não incluem os juros de 3%,
desde dezembro de 2002 os
trabalhadores já perderam
30,12% por conta do uso da TR.
Segundo Mario Avelino, presidente do instituto, o uso da
TR nos últimos sete anos já resultou em prejuízo acumulado
de R$ 55,74 bilhões para todos
os trabalhadores que têm conta
no FGTS. Assim, o saldo das
contas em nome dos trabalhadores, que era de R$ 179,3 bilhões em setembro, poderia estar em R$ 189,2 bilhões; se fossem somadas as perdas desde
2002, o saldo hoje seria de, no
mínimo, R$ 235 bilhões.
Um exemplo da perda: quem
tinha R$ 10 mil no FGTS em
dezembro de 2002 tem hoje R$
14.320. Se fosse usado o IPCA
para corrigir o saldo, essa conta
deveria ter R$ 18.634 (esses valores não incluem os depósitos
mensais). Perda: R$ 4.314.
Avelino diz que só o trabalhador perde, mas os ganhos vão
para o governo federal, os Estados e os municípios (que obtêm
dinheiro barato para obras de
saneamento básico e infraestrutura urbana), a Caixa (gestora do fundo, que gasta menos
para corrigir os saldos das contas), as empresas (no caso de
demissão sem justa causa, terão de pagar multa menor ao
trabalhador dispensado -de
cada 100 trabalhadores demitidos no país, 65, em média, são
sem justa causa).
Solução é mudar
No momento, os trabalhadores continuarão amargando
perdas, uma vez que a lei
8.036/90 (que determina a correção pela TR) está sendo cumprida. Avelino diz que "a única
forma de essa situação ser mudada seria a aprovação de algum dos projetos em tramitação na Câmara e no Senado".
No Senado há o projeto de lei
nº 193/2008, do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE), que prevê a troca da TR pelo IPCA. Já
foi aprovado na Comissão de
Assuntos Sociais do Senado e
está na Comissão de Assuntos
Econômicos do Senado, para
ser votado.
Há também o projeto de lei
nº 581/2007, do senador Paulo
Paim (PT-RS), que pede a substituição da TR pelo INPC. Há
ainda na Câmara o projeto de
lei nº 4.566/2008, que também
pede a troca da TR pelo IPCA.
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