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OPINIÃO ECONÔMICA
O custo Banco Central
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Por várias vezes nesta coluna tenho criticado a forma
como o Banco Central e a Secretaria do Tesouro vêm administrando a dívida pública interna nos
últimos dois anos. "A ânsia de eliminar a qualquer custo a correção cambial dos títulos emitidos
em reais", dizia eu, "vai provocar
um custo adicional desnecessário
para o Tesouro, e por conseqüência, para todos nós, brasileiros."
A redução da parcela da dívida
mobiliária interna indexada à
variação da cotação do dólar,
herdada da crise de confiança
que atingiu nossa economia entre
2002 e 2003, era uma medida sensata naquele momento. Mas o
compromisso formal posterior,
sem qualificações, de zerar essa
parcela da dívida, no momento
em que ficava clara a melhora de
nossas condições de solvência externa, era um ato de fundamentalismo ortodoxo. E, como todo
ato de fundamentalismo, era
uma decisão insensata e que traria problemas no futuro.
O Banco Central tem combatido a tendência de apreciação
cambial por meio da colocação
dos chamados "swaps" cambiais.
Mas há um exagero nessa ação.
Pode-se até argumentar que havia sentido em converter para
reais o pequeno saldo remanescente de dívida interna de curto
prazo referenciada ao dólar, na
medida em que se reduziria a
sensibilidade do valor da dívida
mobiliária à taxa de câmbio. No
entanto, não foi uma medida
acertada trocar para reais a indexação das dívidas de longo prazo
dolarizadas, as chamadas NTN
D, NTN I e NTN A, como foi feito
nas últimas semanas.
Mas parece que o Banco Central está disposto a ir até além disso. O volume dos chamados
"swaps" cambiais na última
quinta-feira praticamente igualou-se ao da dívida mobiliária interna indexada ao dólar, inclusive a parcela de longo prazo. E o
Banco Central já mandou dizer
que pode continuar a emitir tais
"swaps". Quem clamava por mais
racionalidade e menos preconceito na questão da indexação ao
dólar não poderia imaginar que
essa marcha da insensatez chegaria a ponto de trocar também a
dívida externa por indexação à
taxa Selic.
Felizmente apareceu a primeira
cobrança pública sobre os custos
desses procedimentos. Até agora
as críticas a essa política do governo vinham apenas sendo sussurradas entre alguns participantes
do mercado financeiro. Mas o jornal "Valor" da última quinta-feira traz uma reportagem esclarecedora sobre essa questão. Sugiro
a leitura cuidadosa e uma reflexão sobre o assunto.
Tivesse o Banco Central mantido inalterada a composição dos
títulos existentes no início de
2003, hoje a dívida pública no
Brasil seria de 47% do PIB, e não
51% como está contabilizado no
fim de 2005. Mas aqui é preciso
que seja feita a qualificação que
fiz no início desta coluna. A proporção dos títulos indexados ao
dólar no início do governo Lula
era elevada demais dentro de
uma gestão não especulativa da
dívida mobiliária. Sua redução,
mesmo ao custo de um aumento
nos juros pagos pelo Tesouro, foi
uma decisão correta do ponto de
vista técnico. Portanto o custo de
4% do PIB associado à ação do
BC também não é correto, pois
superdimensiona essa perda.
Contudo, se o Banco Central tivesse se guiado pelo equilíbrio e
pela sensatez, ou seja, resgatasse a
dívida de curto prazo, mas mantivesse a referência ao dólar dos
títulos de longo prazo, a relação
dívida sobre PIB teria terminado
o ano por volta de 49%. Com uma
situação cambial mais tranqüila,
era absolutamente correto manter essa parcela da dívida indexada ao dólar. Haveria um perfeito
casamento entre um passivo indexado à taxa de câmbio e um
ativo representado por aplicações
em dólares no exterior.
Mas passar a trocar o indexador da dívida externa, em dólares, pela taxa Selic é uma política
irresponsável e que deve ser repudiada por todos nós. Não faz sentido econômico e financeiro. O
que sabemos estar motivando esse caminho desesperado é a tentativa do governo de evitar que a taxa de câmbio se valorize ainda
mais em decorrência dos juros excessivamente altos.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 63,
engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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