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Setor demite na capital para pagar menos no interior
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A indústria brasileira vem recorrendo à alta rotatividade de
empregados para reduzir os custos com salários. Estudo realizado
pelo Senai (Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial) mostra
que, entre os anos de 2000 e 2004,
a remuneração de novos contratados ficou, em média, entre 10%
e 20% abaixo dos salários de funcionários desligados (demitidos
ou aposentados).
Além disso, o documento confirma a tendência verificada no
início dos anos 90 de que o emprego industrial está migrando
para o interior do país. Os dados
revelam que, a cada quatro vagas
abertas pela indústria, três estão
fora das capitais.
O autor do estudo e diretor do
Instituto de Economia da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de
Janeiro), João Luiz Sabóia, afirma
que já era esperado que os salários
dos trabalhadores admitidos fossem inferiores aos de empregados
desligados.
"O diferencial é que é muito
grande. Receber cerca de 85% do
salário do demitido é um diferencial muito elevado", explicou o especialista.
O estudo mostra que os trabalhadores contratados nas capitais
entre 2000 e 2004 receberam o
equivalente a 84,3% do salário de
funcionários demitidos no período. No caso do interior, a diferença foi menor: 86,5%. A situação
mais extrema acontece quando as
empresas demitem na capital para contratar no interior. "Despedindo na capital e contratando no
interior, a empresa tem 30% de
ganho", afirmou Sabóia.
Segundo ele, os salários dos trabalhadores são em média mais
elevados nas capitais. Por esse
motivo, há mais espaço para reduções salariais quando há renovação de mão-de-obra. "No interior, o salário já é mais baixo."
Os dados apontados no estudo
do Senai revelam que a remuneração média nas capitais, em
2004, foi de 2,3 salários mínimos.
No interior, não passava de 1,9 salário mínimo. As atividades industriais que garantiram melhor
remuneração foram material de
transporte, mecânica, material
elétrico e de comunicação, papel,
metalurgia, química e extração
mineral, entre outros.
A queda no nível salarial de novos contratados vem ocorrendo
apesar de a indústria ter aumentado a exigência de escolaridade dos
trabalhadores. "A indústria não
gera mais empregos líquidos [diferença entre contratações e demissões] para quem tem baixa escolaridade", afirma o autor do estudo. Para trabalhadores que cursaram até a 4ª série, o mercado
perdeu mais de 200 mil vagas entre 2000-2004.
Migração
Do 1,057 milhão de empregos
gerados pela indústria nos primeiros cinco anos do século 21,
75,9% concentraram-se no interior do país. O setor industrial
perde apenas para a agropecuária
no nível de geração de emprego
fora das capitais. As principais razões para esse movimento de migração do emprego industrial são
a guerra fiscal entre Estados e municípios, os salários mais baixos
no interior, a proximidade dos insumos e a infra-estrutura (viária,
portuária, comunicações).
Sabóia acrescenta, porém, que
as regiões Sul e Sudeste ainda são
pólos de geração de emprego industrial. Cerca de 60% das vagas
na indústria foram criadas nos Estados de São Paulo, Rio Grande
do Sul, Paraná, Santa Catarina e
Minas Gerais.
A chamada microrregião de
Porto Alegre (abrange a capital
gaúcha e cidades próximas) foi a
campeã na abertura de postos,
com a criação de 48.496 vagas. Em
seguida, aparecem São Paulo
(35.801), Campinas (35.633) e Curitiba (35.196).
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