São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

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Setor demite na capital para pagar menos no interior

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A indústria brasileira vem recorrendo à alta rotatividade de empregados para reduzir os custos com salários. Estudo realizado pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) mostra que, entre os anos de 2000 e 2004, a remuneração de novos contratados ficou, em média, entre 10% e 20% abaixo dos salários de funcionários desligados (demitidos ou aposentados).
Além disso, o documento confirma a tendência verificada no início dos anos 90 de que o emprego industrial está migrando para o interior do país. Os dados revelam que, a cada quatro vagas abertas pela indústria, três estão fora das capitais.
O autor do estudo e diretor do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), João Luiz Sabóia, afirma que já era esperado que os salários dos trabalhadores admitidos fossem inferiores aos de empregados desligados.
"O diferencial é que é muito grande. Receber cerca de 85% do salário do demitido é um diferencial muito elevado", explicou o especialista.
O estudo mostra que os trabalhadores contratados nas capitais entre 2000 e 2004 receberam o equivalente a 84,3% do salário de funcionários demitidos no período. No caso do interior, a diferença foi menor: 86,5%. A situação mais extrema acontece quando as empresas demitem na capital para contratar no interior. "Despedindo na capital e contratando no interior, a empresa tem 30% de ganho", afirmou Sabóia.
Segundo ele, os salários dos trabalhadores são em média mais elevados nas capitais. Por esse motivo, há mais espaço para reduções salariais quando há renovação de mão-de-obra. "No interior, o salário já é mais baixo."
Os dados apontados no estudo do Senai revelam que a remuneração média nas capitais, em 2004, foi de 2,3 salários mínimos. No interior, não passava de 1,9 salário mínimo. As atividades industriais que garantiram melhor remuneração foram material de transporte, mecânica, material elétrico e de comunicação, papel, metalurgia, química e extração mineral, entre outros.
A queda no nível salarial de novos contratados vem ocorrendo apesar de a indústria ter aumentado a exigência de escolaridade dos trabalhadores. "A indústria não gera mais empregos líquidos [diferença entre contratações e demissões] para quem tem baixa escolaridade", afirma o autor do estudo. Para trabalhadores que cursaram até a 4ª série, o mercado perdeu mais de 200 mil vagas entre 2000-2004.

Migração
Do 1,057 milhão de empregos gerados pela indústria nos primeiros cinco anos do século 21, 75,9% concentraram-se no interior do país. O setor industrial perde apenas para a agropecuária no nível de geração de emprego fora das capitais. As principais razões para esse movimento de migração do emprego industrial são a guerra fiscal entre Estados e municípios, os salários mais baixos no interior, a proximidade dos insumos e a infra-estrutura (viária, portuária, comunicações).
Sabóia acrescenta, porém, que as regiões Sul e Sudeste ainda são pólos de geração de emprego industrial. Cerca de 60% das vagas na indústria foram criadas nos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais.
A chamada microrregião de Porto Alegre (abrange a capital gaúcha e cidades próximas) foi a campeã na abertura de postos, com a criação de 48.496 vagas. Em seguida, aparecem São Paulo (35.801), Campinas (35.633) e Curitiba (35.196).


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