São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

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RECEITA ORTODOXA

Menor IPCA desde 98 foi pressionado por tarifas e contido por dólar e alimentos; previsão para 2006 é de 4,5%

Inflação fecha 2005 em 5,69% e deve cair mais

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Mais uma vez pressionado por tarifas públicas e preços administrados, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fechou o ano de 2005 com alta de 5,69% -dentro do limite máximo da meta oficial de inflação (7,6%), mas distante do objetivo central do governo (5,1%). Foi a menor variação do índice desde 1998, quando havia sido de 1,65%, segundo o IBGE.
Em 2004, a inflação ficou em 7,60%, também no intervalo máximo de tolerância da meta. Já em dezembro de 2005, o índice ficou em 0,36%, em linha com as expectativas de mercado graças à desaceleração dos preços de gasolina, ônibus e passagens áreas.
Em 2005, a maior pressão sobre o IPCA veio das tarifas públicas, que contribuíram com 47% do índice -ou 2,94 pontos percentuais. Em 2004, representaram 39%. Já câmbio e os alimentos ajudaram a conter o índice.
Para 2006, as expectativas são de que o governo consiga atingir o centro da meta de 4,5% (o que não ocorre desde 2000), apesar de o álcool combustível e as mensalidades escolares estarem subindo acima do previsto em janeiro.
Alexandre Sant'Anna, economista da ARX Capital, acredita numa taxa de 4,5% no ano: "Todas as pressões são pontuais e ficarão concentradas no primeiro trimestre". Os preços dos alimentos irão segurar novamente o IPCA, acredita o economista.
Já a consultoria LCA aposta que a alta dos combustíveis (a alta do álcool eleva também o preço da gasolina) impedirá o BC de acertar o centro da meta -que conta com um intervalo de tolerância de dois pontos- e prevê um IPCA de 4,6% para 2006.
Para Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-Rio, mais importante do que mirar no centro da meta é observar a desaceleração da atividade econômica, que está maior que a prevista pelo BC: "Qual é a diferença de ter inflação de 4,5% ou 5,5%? O mais importante é que os juros permitam crescimento de 3% a 4% no ano".
Ficar só um pouco acima do núcleo da meta em 2005, diz Cunha, teve um custo: crescimento de só 2% neste ano. Em 2006, segundo Cunha, o BC contará com a ajuda dos preços administrados, que devem subir menos -e em alguns casos, até cair- graças à menor variação dos IGP's, indexadores de tarifas de energia, telefonia e outros serviços.
No ano passado, os reajustes represados de tarifas de ônibus, que não subiram em 2004 em muitas capitais por causa das eleições municipais, puxaram o IPCA para cima. As passagens aumentaram 10,44%, com impacto de 0,52 ponto no índice, a maior contribuição individual para o IPCA.
Também pesou, mas com menos intensidade do que em 2004, a alta da gasolina, que subiu 7,76% (alta de 14,64% em 2004) e teve impacto de 0,33 ponto no índice.
Por outro lado, dólar baixo e as altas moderadas de alimentos seguraram a inflação. "Foram âncoras importantes em 2005, o que não deve se repetir em 2006", prevê Cunha. Para o IBGE, o câmbio teve papel decisivo para conter os preços, especialmente de alimentos, que subiram só 1,99% -também a menor taxa desde 1998.
Sob efeito direto ou indireto do recuo do dólar, itens como óleo de soja, farinha de trigo e derivados e carnes tiveram queda ou pequenas variações positivas. Também cederam os preços de televisores, computadores e artigos de higiene e limpeza que utilizam componentes importados.
"O dólar tem historicamente efeito direto sobre a inflação no Brasil. Em 2005, ajudou a conter a inflação principalmente por causa dos alimentos", disse Eulina Nunes dos Santos, do IBGE.
Além do câmbio, preços mais baixos de commodities e concorrência de importados reduziram os preços dos alimentos. O arroz caiu 21,45% -a principal contribuição negativa para o índice, de 0,18 ponto percentual.
Entre as altas de destaque estão os planos de saúde (12,02%) e as passagens aéreas -alta de 28,13% por conta do aumento do combustível. Pressionado desde o final de 2005 por causa da entressafra, o álcool subiu menos em 2005 -5,64%, contra 31,58% em 2004.

INPC
O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que mede a inflação para famílias de mais baixa renda, ficou em 5,05%. Ele mede a inflação para famílias de um a oito salários mínimos, enquanto o IPCA apura a taxa para as de 1 a 40 salários.


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