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RECEITA ORTODOXA
Menor IPCA desde 98 foi pressionado por tarifas e contido por dólar e alimentos; previsão para 2006 é de 4,5%
Inflação fecha 2005 em 5,69% e deve cair mais
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Mais uma vez pressionado por
tarifas públicas e preços administrados, o IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo) fechou o
ano de 2005 com alta de 5,69%
-dentro do limite máximo da
meta oficial de inflação (7,6%),
mas distante do objetivo central
do governo (5,1%). Foi a menor
variação do índice desde 1998,
quando havia sido de 1,65%, segundo o IBGE.
Em 2004, a inflação ficou em
7,60%, também no intervalo máximo de tolerância da meta. Já em
dezembro de 2005, o índice ficou
em 0,36%, em linha com as expectativas de mercado graças à desaceleração dos preços de gasolina,
ônibus e passagens áreas.
Em 2005, a maior pressão sobre
o IPCA veio das tarifas públicas,
que contribuíram com 47% do índice -ou 2,94 pontos percentuais. Em 2004, representaram
39%. Já câmbio e os alimentos
ajudaram a conter o índice.
Para 2006, as expectativas são de
que o governo consiga atingir o
centro da meta de 4,5% (o que
não ocorre desde 2000), apesar de
o álcool combustível e as mensalidades escolares estarem subindo
acima do previsto em janeiro.
Alexandre Sant'Anna, economista da ARX Capital, acredita
numa taxa de 4,5% no ano: "Todas as pressões são pontuais e ficarão concentradas no primeiro
trimestre". Os preços dos alimentos irão segurar novamente o IPCA, acredita o economista.
Já a consultoria LCA aposta que
a alta dos combustíveis (a alta do
álcool eleva também o preço da
gasolina) impedirá o BC de acertar o centro da meta -que conta
com um intervalo de tolerância de
dois pontos- e prevê um IPCA
de 4,6% para 2006.
Para Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-Rio, mais importante do que mirar no centro
da meta é observar a desaceleração da atividade econômica, que
está maior que a prevista pelo BC:
"Qual é a diferença de ter inflação
de 4,5% ou 5,5%? O mais importante é que os juros permitam
crescimento de 3% a 4% no ano".
Ficar só um pouco acima do núcleo da meta em 2005, diz Cunha,
teve um custo: crescimento de só
2% neste ano. Em 2006, segundo
Cunha, o BC contará com a ajuda
dos preços administrados, que
devem subir menos -e em alguns casos, até cair- graças à
menor variação dos IGP's, indexadores de tarifas de energia, telefonia e outros serviços.
No ano passado, os reajustes represados de tarifas de ônibus, que
não subiram em 2004 em muitas
capitais por causa das eleições
municipais, puxaram o IPCA para cima. As passagens aumentaram 10,44%, com impacto de 0,52
ponto no índice, a maior contribuição individual para o IPCA.
Também pesou, mas com menos intensidade do que em 2004, a
alta da gasolina, que subiu 7,76%
(alta de 14,64% em 2004) e teve
impacto de 0,33 ponto no índice.
Por outro lado, dólar baixo e as
altas moderadas de alimentos seguraram a inflação. "Foram âncoras importantes em 2005, o que
não deve se repetir em 2006", prevê Cunha. Para o IBGE, o câmbio
teve papel decisivo para conter os
preços, especialmente de alimentos, que subiram só 1,99% -também a menor taxa desde 1998.
Sob efeito direto ou indireto do
recuo do dólar, itens como óleo
de soja, farinha de trigo e derivados e carnes tiveram queda ou pequenas variações positivas. Também cederam os preços de televisores, computadores e artigos de
higiene e limpeza que utilizam
componentes importados.
"O dólar tem historicamente
efeito direto sobre a inflação no
Brasil. Em 2005, ajudou a conter a
inflação principalmente por causa dos alimentos", disse Eulina
Nunes dos Santos, do IBGE.
Além do câmbio, preços mais
baixos de commodities e concorrência de importados reduziram
os preços dos alimentos. O arroz
caiu 21,45% -a principal contribuição negativa para o índice, de
0,18 ponto percentual.
Entre as altas de destaque estão
os planos de saúde (12,02%) e as
passagens aéreas -alta de 28,13%
por conta do aumento do combustível. Pressionado desde o final de 2005 por causa da entressafra, o álcool subiu menos em 2005
-5,64%, contra 31,58% em 2004.
INPC
O INPC (Índice Nacional de
Preços ao Consumidor), que mede a inflação para famílias de mais
baixa renda, ficou em 5,05%. Ele
mede a inflação para famílias de
um a oito salários mínimos, enquanto o IPCA apura a taxa para
as de 1 a 40 salários.
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