São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

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MEMÓRIA INFLACIONÁRIA

Híper atrapalhava planos de longo prazo

DA REPORTAGEM LOCAL

Os economistas tentam prever a inflação mensal. São um pouco mais precisos quando tentam fazer previsões para a alta de preços no ano. Em fins dos anos 80, Heron do Carmo, presidente do Corecon-SP e economista da Fipe, fazia previsões sobre a inflação semanal. E errava.
A sensação do economista é comparável à da dona-de-casa que ia comprar pão e leite e sabia que o preço seria mais alto no dia seguinte, e mais alto ainda uma semana depois. E nunca sabia ao certo quanto teria que pagar por produtos tão básicos em espaço tão curto de tempo.
"Não havia condições de prever nada", diz Heron. Hoje, lembra o economista, analistas fazem projeções para 2007. Todos trabalham com cenários de mais longo prazo, tentando estimar como estará a economia brasileira nos próximos anos, algo impossível quando a inflação distorcia todos os preços.
"Hoje em dia, uma pessoa pode pensar em comprar um carro em 24 meses e, como deve ser, encara isso com naturalidade" -algo, continua Heron, impensável no Brasil pré-estabilização.
Pessoas físicas e empresas ganharam previsibilidade. O Brasil conviveu de forma praticamente ininterrupta com taxas altas de inflação de 1985 a 1994. Foi uma convivência aparentemente pacífica dada a generalização dos mecanismos de correção monetária. Mas só aparentemente.
A correção monetária preservava o governo e os brasileiros com certo poder aquisitivo. Sobrava aos mais pobres conviver com a moeda que derretia todo mês e, no período mais crítico, praticamente toda a semana. "A correção monetária tornou possível certa convivência com a inflação. A injustiça é que os mais ricos é que conseguiam [se proteger]", diz Carlos Thadeu de Freitas, economista da UFRJ.
Heron diz que, com a conquista da estabilidade e anos com inflação relativamente sob controle, o descontrole de preços deixa de ser a prioridade número um da política econômica. O combate à inflação nunca pode ser relaxado, diz o economista da Corecon-SP, mas "a inflação deixou de predominar inclusive nas discussões, o crescimento voltou para a pauta".
O Brasil ganhou previsibilidade e, prevê Heron, pode entrar em círculo virtuoso de crescimento à medida que os juros caiam e a economia cresça. "Com juros menores, cai o serviço da dívida, aparece espaço para diminuir a carga tributária e para gastos com investimentos", diz ele.
Já a economista Eliana Cardoso diz que o Brasil ainda não resolveu o grande problema macroeconômico que arrasta há mais de 50 anos. "Temos uma política fiscal torta", afirma. Os governos brasileiros lidaram com o desequilíbrio fiscal aumentando impostos, lembra ela, "não fomos ainda a fundo em nossos problemas orçamentários".
(MARCELO BILLI)


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