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MEMÓRIA INFLACIONÁRIA
Híper atrapalhava
planos de longo prazo
DA REPORTAGEM LOCAL
Os economistas tentam prever
a inflação mensal. São um pouco
mais precisos quando tentam fazer previsões para a alta de preços
no ano. Em fins dos anos 80, Heron do Carmo, presidente do Corecon-SP e economista da Fipe,
fazia previsões sobre a inflação semanal. E errava.
A sensação do economista é
comparável à da dona-de-casa
que ia comprar pão e leite e sabia
que o preço seria mais alto no dia
seguinte, e mais alto ainda uma
semana depois. E nunca sabia ao
certo quanto teria que pagar por
produtos tão básicos em espaço
tão curto de tempo.
"Não havia condições de prever
nada", diz Heron. Hoje, lembra o
economista, analistas fazem projeções para 2007. Todos trabalham com cenários de mais longo
prazo, tentando estimar como estará a economia brasileira nos
próximos anos, algo impossível
quando a inflação distorcia todos
os preços.
"Hoje em dia, uma pessoa pode
pensar em comprar um carro em
24 meses e, como deve ser, encara
isso com naturalidade" -algo,
continua Heron, impensável no
Brasil pré-estabilização.
Pessoas físicas e empresas ganharam previsibilidade. O Brasil
conviveu de forma praticamente
ininterrupta com taxas altas de inflação de 1985 a 1994. Foi uma
convivência aparentemente pacífica dada a generalização dos mecanismos de correção monetária.
Mas só aparentemente.
A correção monetária preservava o governo e os brasileiros com
certo poder aquisitivo. Sobrava
aos mais pobres conviver com a
moeda que derretia todo mês e,
no período mais crítico, praticamente toda a semana. "A correção monetária tornou possível
certa convivência com a inflação.
A injustiça é que os mais ricos é
que conseguiam [se proteger]",
diz Carlos Thadeu de Freitas, economista da UFRJ.
Heron diz que, com a conquista
da estabilidade e anos com inflação relativamente sob controle, o
descontrole de preços deixa de ser
a prioridade número um da política econômica. O combate à inflação nunca pode ser relaxado,
diz o economista da Corecon-SP,
mas "a inflação deixou de predominar inclusive nas discussões, o
crescimento voltou para a pauta".
O Brasil ganhou previsibilidade
e, prevê Heron, pode entrar em
círculo virtuoso de crescimento à
medida que os juros caiam e a
economia cresça. "Com juros menores, cai o serviço da dívida, aparece espaço para diminuir a carga
tributária e para gastos com investimentos", diz ele.
Já a economista Eliana Cardoso
diz que o Brasil ainda não resolveu o grande problema macroeconômico que arrasta há mais de
50 anos. "Temos uma política fiscal torta", afirma. Os governos
brasileiros lidaram com o desequilíbrio fiscal aumentando impostos, lembra ela, "não fomos
ainda a fundo em nossos problemas orçamentários".
(MARCELO BILLI)
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