São Paulo, quarta, 13 de janeiro de 1999

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MERCADO TENSO
Substituto deve ser o diretor do BC Francisco Lopes, que também é contra uma forte desvalorização do real
Gustavo Franco sai em meio à turbulência

da Reportagem Local

O presidente do Banco Central, Gustavo Franco, apresenta seu pedido de demissão no momento em que o país volta ao epicentro da crise financeira internacional: só ontem saíram do país quase US$ 1 bilhão, a Bovespa registrou queda de 7,61% e os títulos brasileiros caíram no exterior.
O substituto de Franco deverá ser o economista Francisco Lopes, diretor de Política Econômica e de Política Monetária do BC.
A decisão de Franco ocorre um dia depois de o porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral, afirmar que ele permaneceria no cargo.

Substituto
Lopes fez no mês passado uma longa exposição técnica em que defendeu a manutenção da política cambial e criticou os argumentos favoráveis a uma desvalorização mais forte do real.
Em seminário promovido pela Fundação Getúlio Vargas no Rio, Lopes disse que os defensores da desvalorização acreditavam em um "almoço grátis" -expressão dos economistas para definir um benefício sem custos que, por definição, não existe.
Segundo o raciocínio de Lopes, seria um engano contar com a possibilidade de uma alteração na política cambial capaz de estimular as exportações com impacto mínimo sobre a inflação.
O diretor do BC avaliou que uma desvalorização cambial entre 7% e 8% em 1999, no mesmo ritmo dos anos anteriores, seria suficiente para que as cotações do dólar atingissem os patamares desejados. Leia-se: o suficiente para reduzir o déficit nas transações de bens e serviços do Brasil com o resto do mundo.
A partir daí, a correção do real -que vem sendo executada gradualmente pelo BC desde 1995- seria "marginal".
Segundo Lopes, o próprio mercado já vem se encarregando de tornar as exportações mais competitivas, reduzindo preços e aumentando a produtividade.
O papel do BC, segundo essa tese, se limitaria a dar margem de manobra às empresas, desvalorizando aos poucos o real em relação ao dólar.
Na argumentação, se o BC não fizesse a desvalorização, o mercado seria obrigado a promover uma deflação, o que seria excessivamente doloroso.


Colaborou a Sucursal de Brasília



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