São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

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ARTIGO

As alternativas para a taxa de câmbio na China

MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"

Quais são as alternativas da China para sua atual taxa de câmbio fixa? Para responder a essas perguntas, é preciso compreender a situação.
A China vem apresentando um superávit em conta corrente (saldo das transações com o exterior) apenas modesto: no primeiro semestre do ano passado, foi de US$ 11,1 bilhões. Mas também teve uma constante entrada líquida de investimento direto estrangeiro -chegou a US$ 26,9 bilhões no primeiro semestre do ano passado. Além disso, a China recebeu recentemente um grande fluxo de outras formas de capital, atraídas por expectativas de valorização.
O resultado foi um aumento explosivo nas reservas de moeda estrangeira, que chegaram a US$ 208 bilhões entre o final de 2000 e novembro do ano passado.
Isso torna altamente problemática uma das opções mais simples: uma reavaliação da taxa fixa de câmbio, em uma margem modesta de 10% mais ou menos. Isso poderia deixar de aliviar a pressão especulativa.
Ajustar a taxa em uma margem muito maior poderia desestabilizar a economia e prejudicar o desempenho das exportações e até gerar uma deflação importante.
Uma segunda opção é mudar o atrelamento da paridade com o dólar para uma mistura de moedas, incluindo o euro e o iene.
Isso teria as desvantagens de ser menos transparente para os agentes econômicos que o atrelamento ao dólar e de chegar tarde, pois a moeda dos Estados Unidos já se depreciou bastante. Mas reduziria as oscilações da taxa de câmbio real, geradas pela volatilidade da moeda norte-americana.

Flutuação
Uma terceira opção é uma taxa flutuante. Poderia ser uma flutuação livre, uma flutuação administrada, sem margens anunciadas para cima ou para baixo, ou uma flutuação administrada com margens. Qualquer flutuação teria a vantagem de gerar incerteza sobre a taxa de câmbio, afastando a especulação. Mas criaria incerteza para os produtores. Na presença de controles cambiais, uma flutuação livre é impossível, já que as autoridades chinesas continuariam sendo a força dominante no mercado.
Mas uma passagem para a liberalização da conta de capital seria arriscada, diante da frágil situação do sistema financeiro. Poderia até gerar fuga de capitais e uma depreciação do yuan.
A opção realista, em curto prazo, é a flutuação administrada, juntamente com constantes controles de câmbio.
A vantagem de também dar margens claras para cima e para baixo é que isso geraria um grau de previsibilidade, mas o sistema também seria semelhante a um regime de taxa fixa quando o valor da moeda se aproximasse de seus limites. Alternativamente, a China poderia escolher uma flutuação sem margens anunciadas, mas então não teria uma âncora monetária.
Essa é uma preocupação mais geral. Quanto menos a taxa de câmbio serve como âncora monetária, mais importante é encontrar uma alternativa.

Conflito
Mas, se a China escolher uma combinação de flutuação restrita com uma âncora monetária doméstica, previsivelmente uma meta de inflação, poderiam facilmente surgir conflitos entre os dois.
Não é difícil entender por que os chineses deveriam considerar uma mudança de sua taxa de câmbio fixa. É bem mais difícil identificar uma alternativa melhor. É por isso que eles esperam continuar como estão enquanto for possível.


Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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