|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
As alternativas para a taxa de câmbio na China
MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"
Quais são as alternativas da
China para sua atual taxa de
câmbio fixa? Para responder a essas perguntas, é preciso compreender a situação.
A China vem apresentando um
superávit em conta corrente (saldo das transações com o exterior)
apenas modesto: no primeiro semestre do ano passado, foi de US$
11,1 bilhões. Mas também teve
uma constante entrada líquida de
investimento direto estrangeiro
-chegou a US$ 26,9 bilhões no
primeiro semestre do ano passado. Além disso, a China recebeu
recentemente um grande fluxo de
outras formas de capital, atraídas
por expectativas de valorização.
O resultado foi um aumento explosivo nas reservas de moeda estrangeira, que chegaram a US$
208 bilhões entre o final de 2000 e
novembro do ano passado.
Isso torna altamente problemática uma das opções mais simples:
uma reavaliação da taxa fixa de
câmbio, em uma margem modesta de 10% mais ou menos. Isso poderia deixar de aliviar a pressão
especulativa.
Ajustar a taxa em uma margem
muito maior poderia desestabilizar a economia e prejudicar o desempenho das exportações e até
gerar uma deflação importante.
Uma segunda opção é mudar o
atrelamento da paridade com o
dólar para uma mistura de moedas, incluindo o euro e o iene.
Isso teria as desvantagens de ser
menos transparente para os agentes econômicos que o atrelamento
ao dólar e de chegar tarde, pois a
moeda dos Estados Unidos já se
depreciou bastante. Mas reduziria
as oscilações da taxa de câmbio
real, geradas pela volatilidade da
moeda norte-americana.
Flutuação
Uma terceira opção é uma taxa
flutuante. Poderia ser uma flutuação livre, uma flutuação administrada, sem margens anunciadas
para cima ou para baixo, ou uma
flutuação administrada com margens. Qualquer flutuação teria a
vantagem de gerar incerteza sobre a taxa de câmbio, afastando a
especulação. Mas criaria incerteza
para os produtores. Na presença
de controles cambiais, uma flutuação livre é impossível, já que as
autoridades chinesas continuariam sendo a força dominante no
mercado.
Mas uma passagem para a liberalização da conta de capital seria
arriscada, diante da frágil situação
do sistema financeiro. Poderia até
gerar fuga de capitais e uma depreciação do yuan.
A opção realista, em curto prazo, é a flutuação administrada,
juntamente com constantes controles de câmbio.
A vantagem de também dar
margens claras para cima e para
baixo é que isso geraria um grau
de previsibilidade, mas o sistema
também seria semelhante a um
regime de taxa fixa quando o valor da moeda se aproximasse de
seus limites. Alternativamente, a
China poderia escolher uma flutuação sem margens anunciadas,
mas então não teria uma âncora
monetária.
Essa é uma preocupação mais
geral. Quanto menos a taxa de
câmbio serve como âncora monetária, mais importante é encontrar uma alternativa.
Conflito
Mas, se a China escolher uma
combinação de flutuação restrita
com uma âncora monetária doméstica, previsivelmente uma
meta de inflação, poderiam facilmente surgir conflitos entre os
dois.
Não é difícil entender por que os
chineses deveriam considerar
uma mudança de sua taxa de
câmbio fixa. É bem mais difícil
identificar uma alternativa melhor. É por isso que eles esperam
continuar como estão enquanto
for possível.
Tradução de Luiz Roberto
Mendes Gonçalves
Texto Anterior: Opinião econômica: Uma camisa-de-força Próximo Texto: Crédito: Bancos negam terem elevado taxa de juros Índice
|