São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

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CONSUMO

Desemprego elevado, renda em queda e juros altos no primeiro semestre reduziram as compras do brasileiro, diz IBGE

Comércio vende menos pelo 3º ano seguido

ANA PAULA GRABOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A queda da renda e o desemprego elevado em 2003, combinados aos juros altos no primeiro semestre do ano passado, prejudicaram o consumo do brasileiro e deixaram o comércio com o pior desempenho em três anos.
As vendas do varejo amargaram queda de 3,68% em 2003. Foi a maior redução desde o início da PMC (Pesquisa Mensal de Comércio), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a partir de 2001. Em 2002, as vendas diminuíram 0,69%. Em 2001, a queda foi de 1,57%.
"O quadro do ano passado foi de um primeiro semestre desfavorável, com taxas de juros altas, uma política para segurar a inflação e a renda cadente. No segundo semestre, o cenário melhorou. O dólar se estabilizou, a inflação foi controlada e a taxa de juros começou a cair. Ficou o dado de renda e emprego, que não se recuperou", disse o responsável pela pesquisa, Nilo Macedo.
No ano passado, a taxa de desemprego no país ficou em 12,3%. Em 2002, atingiu 11,7% no período de março a dezembro (o IBGE não tem os dados referentes a janeiro e fevereiro de 2002). A renda caiu 12,9% de março a dezembro de 2003 na comparação com igual período do ano anterior.
Todos os segmentos do varejo pesquisados pelo IBGE registraram perda nas vendas. O de hipermercados, supermercados, alimentos, bebidas e fumo (sensível às condições de emprego e renda) foi o que mais sofreu, com queda de 4,87%. "O comércio só não perdeu mais porque os juros caíram no segundo semestre e a expectativa do consumidor melhorou", afirmou Macedo.
Em dezembro, o comércio registrou a primeira alta nas vendas, de 3,2%, após 12 meses em retração. Também pela primeira vez, após 15 meses em queda, o segmento de hipermercados, supermercados, alimentos, bebidas e fumo vendeu mais 1,8%. As vendas de tecidos, vestuário e calçados subiram 0,73%.

Tendência positiva
Já os setores que reagem a condições favoráveis de crédito apresentaram forte alta, refletindo a queda dos juros no segundo semestre, como móveis e eletrodomésticos (20,89%) e veículos e motos (14,77%).
Para Macedo, o dado de dezembro indica uma tendência de taxas positivas para este ano, embora limitada. "A renda e o emprego ainda são os fatores limitadores para o comércio deslanchar."
Para o economista Paulo Levy, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o desempenho de dezembro, especialmente devido aos alimentos e ao vestuário, confirma uma tendência de crescimento do setor para o ano. "O quadro é de recuperação gradual na atividade, sem euforia", afirmou Levy.
Cálculos do chefe do Departamento de Economia da CNC (Confederação Nacional do Comércio), Carlos Thadeu de Freitas, mostram, porém, queda de 0,5% nas vendas do comércio em dezembro na comparação com novembro, descontada a sazonalidade (movimento típico do período, como as vendas de Natal).
Para Freitas, 2004 será melhor porque a base de comparação (2003) é muito baixa. A CNC projeta alta de 3% a 3,5% para o setor. "Apesar da recomposição dos salários e do crédito, a economia vai andar devagar. O primeiro trimestre já está perdido para o comércio. A permanência dos juros em 16,5% ao ano em janeiro deu uma freada no crédito", disse.
Na sua avaliação, o comércio vai recuperar parte das perdas. Entretanto o processo será mais lento para as vendas de alimentos e de vestuário devido à expectativa de melhora no mercado de trabalho somente no segundo semestre. Em relação aos eletrodomésticos e aos carros, ele prevê que as vendas voltarão a subir assim que o Banco Central voltar a sinalizar para a queda nos juros. Isso poderá ocorrer na reunião do Copom na próxima semana.
Se as vendas sofreram em 2003, a receita nominal (sem descontar a inflação) do setor aumentou 13,4% no ano. Para o IBGE, o aumento reflete a tentativa de recompor as margens de lucro.
"A inflação foi um fator impeditivo para o aumento da receita. Houve o repasse de custos aos preços para recompor as margens de lucro", disse Macedo.


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