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CONSUMO
Desemprego elevado, renda em queda e juros altos no primeiro semestre reduziram as compras do brasileiro, diz IBGE
Comércio vende menos pelo 3º ano seguido
ANA PAULA GRABOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A queda da renda e o desemprego elevado em 2003, combinados
aos juros altos no primeiro semestre do ano passado, prejudicaram o consumo do brasileiro e
deixaram o comércio com o pior
desempenho em três anos.
As vendas do varejo amargaram
queda de 3,68% em 2003. Foi a
maior redução desde o início da
PMC (Pesquisa Mensal de Comércio), realizada pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) a partir de 2001. Em
2002, as vendas diminuíram
0,69%. Em 2001, a queda foi de
1,57%.
"O quadro do ano passado foi
de um primeiro semestre desfavorável, com taxas de juros altas,
uma política para segurar a inflação e a renda cadente. No segundo semestre, o cenário melhorou.
O dólar se estabilizou, a inflação
foi controlada e a taxa de juros começou a cair. Ficou o dado de
renda e emprego, que não se recuperou", disse o responsável pela
pesquisa, Nilo Macedo.
No ano passado, a taxa de desemprego no país ficou em 12,3%.
Em 2002, atingiu 11,7% no período de março a dezembro (o IBGE
não tem os dados referentes a janeiro e fevereiro de 2002). A renda
caiu 12,9% de março a dezembro
de 2003 na comparação com igual
período do ano anterior.
Todos os segmentos do varejo
pesquisados pelo IBGE registraram perda nas vendas. O de hipermercados, supermercados,
alimentos, bebidas e fumo (sensível às condições de emprego e
renda) foi o que mais sofreu, com
queda de 4,87%. "O comércio só
não perdeu mais porque os juros
caíram no segundo semestre e a
expectativa do consumidor melhorou", afirmou Macedo.
Em dezembro, o comércio registrou a primeira alta nas vendas,
de 3,2%, após 12 meses em retração. Também pela primeira vez,
após 15 meses em queda, o segmento de hipermercados, supermercados, alimentos, bebidas e
fumo vendeu mais 1,8%. As vendas de tecidos, vestuário e calçados subiram 0,73%.
Tendência positiva
Já os setores que reagem a condições favoráveis de crédito apresentaram forte alta, refletindo a
queda dos juros no segundo semestre, como móveis e eletrodomésticos (20,89%) e veículos e
motos (14,77%).
Para Macedo, o dado de dezembro indica uma tendência de taxas
positivas para este ano, embora limitada. "A renda e o emprego
ainda são os fatores limitadores
para o comércio deslanchar."
Para o economista Paulo Levy,
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), o desempenho de dezembro, especialmente devido aos alimentos e ao
vestuário, confirma uma tendência de crescimento do setor para o
ano. "O quadro é de recuperação
gradual na atividade, sem euforia", afirmou Levy.
Cálculos do chefe do Departamento de Economia da CNC
(Confederação Nacional do Comércio), Carlos Thadeu de Freitas, mostram, porém, queda de
0,5% nas vendas do comércio em
dezembro na comparação com
novembro, descontada a sazonalidade (movimento típico do período, como as vendas de Natal).
Para Freitas, 2004 será melhor
porque a base de comparação
(2003) é muito baixa. A CNC projeta alta de 3% a 3,5% para o setor.
"Apesar da recomposição dos salários e do crédito, a economia vai
andar devagar. O primeiro trimestre já está perdido para o comércio. A permanência dos juros
em 16,5% ao ano em janeiro deu
uma freada no crédito", disse.
Na sua avaliação, o comércio vai
recuperar parte das perdas. Entretanto o processo será mais lento
para as vendas de alimentos e de
vestuário devido à expectativa de
melhora no mercado de trabalho
somente no segundo semestre.
Em relação aos eletrodomésticos
e aos carros, ele prevê que as vendas voltarão a subir assim que o
Banco Central voltar a sinalizar
para a queda nos juros. Isso poderá ocorrer na reunião do Copom
na próxima semana.
Se as vendas sofreram em 2003,
a receita nominal (sem descontar
a inflação) do setor aumentou
13,4% no ano. Para o IBGE, o aumento reflete a tentativa de recompor as margens de lucro.
"A inflação foi um fator impeditivo para o aumento da receita.
Houve o repasse de custos aos
preços para recompor as margens
de lucro", disse Macedo.
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