São Paulo, sábado, 13 de fevereiro de 2010

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ROBERTO RODRIGUES

Futuro promissor


Mesmo com o mercado interno aquecido, haverá bastante excedente exportável no agronegócio


INDICADORES recentes mostram a grande importância que teve o mercado interno para a recuperação mais rápida do Brasil diante da crise econômica global. Com a retração das exportações, foram os consumidores brasileiros que garantiram a atividade produtiva no país. E deverão seguir aumentando a demanda de produtos de origem rural, o que, se não houver mais problemas do que os já existentes para o setor, permitirá o crescimento da produção.
No entanto, o esvaziamento da crise deve também voltar a intensificar o mercado externo, especialmente nos países em desenvolvimento, com populações e renda crescentes: a própria FAO calcula que a demanda por alimentos crescerá 70% até 2050.
Tudo isso marca com certeza o horizonte de um Brasil fortemente presente nos mercados agrícolas internacionais.
Dados preliminares do mais novo trabalho sobre Projeções do Agronegócio Brasileiro, preparado pela Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sinalizam com clareza o imenso potencial que temos nesse cenário, sublinhando o esgotamento de áreas agricultáveis nos países mais populosos e a dificuldade de repor os estoques mundiais de grãos, sobretudo por causa do aumento já referido do consumo de arroz, trigo, milho e soja.
Segundo esse excelente trabalho, as expectativas são animadoras.
O milho deverá saltar de uma produção de 51 milhões de toneladas em 2008/09 para mais de 70 milhões em 2019/20, um crescimento de 37,5%.
A soja, de 57 milhões de toneladas para 82 milhões, crescendo 43,5%.
A carne de frango, de 11,13 milhões de toneladas para 16,63 milhões, quase 50% a mais.
O algodão crescerá 68%, saltando de 1,19 milhão de toneladas para 2,01 milhões.
Celulose irá de 12,7 milhões para 18,10 milhões, mais 43%.
Mas a grande vedete mesmo é o etanol, cuja previsão de crescimento é de 127,33%, saindo dos atuais 27 bilhões de litros para 63 bilhões em 2019/20.
Esses expressivos aumentos da produção estarão fundamentados na maior produtividade por área, graças às novas tecnologias agropecuárias geradas em nossos órgãos de pesquisa e à notável melhoria de gestão incorporada pelos nossos produtores rurais.
E, se concretizados, mesmo com o mercado interno aquecido, haverá bastante excedente exportável. O trabalho do Ministério da Agricultura informa que nossas exportações crescerão espetacularmente, nos próximos dez anos. O maior salto será dado pelo etanol, saindo de 4,7 bilhões de litros em 2008 para 15 bilhões em 2019/20 -alta de 223%. Claro que isso depende de estratégias a serem implementadas pelo governo e pelo setor, mas o fim da crise já está provocando um grande movimento na área sucroenergética em torno de aquisições e incorporações.
O segundo colocado seria o algodão, crescendo 91,6%, seguido de leite (84%), carne bovina (83%), milho (80%), carne de frango (71,5%), celulose (57%), óleo de soja (53%), açúcar (52,3%) e papel (42,4%).
Embora esses dados sejam preliminares e, portanto, sujeitos a pequenas modificações, é notável o que o agronegócio brasileiro fará pelo país, em termos de abastecimento interno e exportação, de geração de empregos, riqueza e renda para todos os cidadãos, principalmente os urbanos.
Tranquilidade de abastecimento é garantia de que a inflação não voltará, elemento base para nosso desenvolvimento equilibrado.

ROBERTO RODRIGUES , 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

rr.ceres@uol.com.br


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