São Paulo, sábado, 13 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bolsa tenta evitar que bancos tragam "mercado negro" ao Brasil

Grandes investidores querem importar plataformas de negociação de menor custo

DA REPORTAGEM LOCAL

Além de viabilizar sua expansão global e acessar novos investidores, a BM&FBovespa busca atualizar sua tecnologia para sobreviver em um ambiente cada vez mais competitivo e oligopolizado. O maior pesadelo da Bolsa brasileira atende pelo nome de "dark pool" [aposta no escuro], uma espécie de sistema paralelo de negociação de ativos dominado pelos maiores bancos e fundos do planeta para negociar com custos menores do que na Bolsa.
Esses investidores exigem preços diferenciados de negociação e questionam a necessidade de pagar caro para a Bolsa fechar negócios que poderiam fazer entre si, quase sem custos e burocracia.
Segundo o presidente da BM&F Bovespa, Edemir Pinto, a Bolsa desenhou uma proposta competitiva para absorver a demanda brasileira de "dark pool", por meio de negociações com regras diferenciadas para grandes blocos de ações.
Ele lembra que os reguladores estão de olho nos "dark pools" por conta da falta de transparência nas negociações. Além de preço baixo, esse investidor pede uma dose de sigilo nas informações sobre as ordens colocadas -daí o nome "dark pool".
O objetivo é impedir que os demais investidores consigam deduzir o volume de ações que será negociado. Isso porque, se um fundo de pensão decidir vender US$ 1 bilhão de uma única ação, poderá derrubar seu preço em poucos minutos.
"Não estamos preocupados. É zero de preocupação. Na verdade, isso é uma oportunidade de negócio. Queremos trazer isso para cá, mas já melhorado. Vamos começar atendendo o que eles pedem, mas de uma forma diferenciada e dentro de um sistema completamente regulado e transparente. O grande lote, muitas vezes, pode ter dificuldade de ser colocado porque mexe com os preços. A ideia é trazer isso para a Bolsa."

Custos
Investidores internacionais afirmam que os custos de transação de ações no Brasil estão entre os mais altos do mundo. Contando impostos, chegariam a até 35 vezes mais do que nos Estados Unidos.
Carlos Kawal, diretor financeiro da Bolsa, afirma que os custos totais das transações para grandes investidores no Brasil não são incompatíveis com os internacionais. Ele disse que a Bolsa brasileira agrega no preço uma série de serviços, como de liquidação financeira, que nos EUA ficam fora do preço da transação.
No Brasil, esses sistemas alternativos dependem de regulamentação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que afirma não ter nada em vista no momento. Dificilmente, porém, o Brasil conseguirá impedir a entrada dessas redes.
Na Ásia, o mercado acredita que os "dark pools" têm quase o mesmo volume de negócios das Bolsas locais. Os EUA têm 40 sistemas conhecidos de negociação alternativa.
Para impedir a entrada do "dark pool" no mercado brasileiro, a Bolsa domina sozinha o serviço de liquidação e de custódia de ações e de ativos no país. Por esse motivo, mesmo que os "dark pools" se instalem no país, terão de utilizar serviços que são feitos hoje pela CBLC (Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia).
(TONI SCIARRETTA)


Texto Anterior: Roberto Rodrigues: Futuro promissor
Próximo Texto: Acordo: Cetip diz negociar cooperação com alemã
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.