São Paulo, sábado, 13 de fevereiro de 2010

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Alemanha para de crescer e trava UE

Economia alemã fica estagnada no 4º tri e tira fôlego da recuperação do bloco, que cresce só 0,1%

Na zona do euro, expansão também foi de 0,1%; Reino Unido sai da recessão e França se destaca, com crescimento de 0,6%

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

A economia alemã se estagnou no último trimestre do ano, e o PIB (Produto Interno Bruto) da União Europeia perdeu o fôlego, avançando pífio 0,1% após ter crescido 0,3% entre julho e setembro.
A desaceleração alimenta dúvidas sobre a sustentabilidade da recuperação econômica do bloco ante o inchaço generalizado da dívida pública -uma crise de confiança que, em último caso, afeta o euro- e o aumento contínuo do desemprego em boa parte do continente.
Na zona do euro, o crescimento também foi de só 0,1%. Além da estagnação alemã, a Espanha permaneceu em recessão (0,1%), e a Itália voltou a encolher (0,2%) após registrar avanço no terceiro trimestre. No ano, a zona do euro viveu uma retração de 4%, e, se tomados os 27 países que compõem a União Europeia, o recuo foi de 4,1%.
Parcas, as boas notícias vieram da economia francesa, que avançou 0,6% no quarto trimestre, e da britânica, que finalmente saiu da recessão e cresceu 0,1%. Para economistas britânicos ouvidos pela Folha recentemente, a recuperação de seu país é mais sustentável que a dos vizinhos, amparada nas idas e vindas do humor do consumidor.
Ainda assim, os números de ontem surpreenderam negativamente. Especialmente porque a Alemanha tem sido o motor da recuperação europeia.
O crescimento visto nos dois trimestres anteriores no país ocorreu em larga medida com o impulso pontual dos incentivos tributários para a venda de automóveis, tanto no país como nos vizinhos, à moda da isenção do IPI no Brasil.
Mas o fôlego desse tipo de medida é limitado, já que carros são bens semiduráveis.
Em declarações às agências de notícias, mais analistas optaram pela cautela do que pelo pessimismo e atribuíram a desaceleração da produção e do consumo também ao inverno rigoroso deste ano e à acomodação após um avanço que se seguiu à fase aguda da crise econômica global (a economia do país encolheu 5% em 2008).

Exportação
Um número evocado pelos que esperam dias melhores é a alta de 3% das exportações alemãs em dezembro -os dados de janeiro saem na semana que vem. Embora tenha sido recentemente superada pela China, a Alemanha continua puxando sua economia -e a dos vizinhos- com suas exportações, e o avanço do PIB asiático e a melhora do norte-americano são, portanto, boas notícias para os alemães.
Do lado negativo, pesará o humor dos consumidores em meio a tantas más notícias.
O desemprego na Europa, contido no auge da crise à base de contratos temporários com número de horas reduzido, agora custa a ceder. O nível de poupança já começa a aumentar, sinalizando temores.
A crise da dívida pública nos países mediterrâneos (Grécia, sobretudo, Portugal, Espanha e Itália) colocou à prova o euro e a resistência da união monetária, que precisa arrumar uma forma de fazer os vizinhos perdulários acertarem o caixa -e, eventualmente, socorrê-los financeiramente.
A Alemanha, candidato maior a fiador, espera neste ano um deficit orçamentário de 6%, o dobro do teto fixado nas regras da zona do euro.
Embora os investidores não duvidem de sua capacidade de solvência, isso aumenta o custo político da abnegação pró-Europa (mesmo que pró-euro). Num momento em que a chanceler Angela Merkel tem dificuldades para negociar com o Parlamento e vê sua popularidade cair, não é algo a ignorar.


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