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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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ÓLEO DA DISCÓRDIA

Secretaria do Ministério de Minas e Energia contesta números, apresentados por agência para descoberta

Poço gigante expõe conflito governo-ANP

FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM ARAÇATUBA

A divulgação da descoberta de um campo gigante de petróleo expôs mais uma fratura na já esgarçada relação entre o novo governo e as agências reguladoras criadas no governo anterior.
Ontem a secretária nacional de Petróleo, Gás e Combustíveis Renováveis, Maria das Graças Foster, negou que sejam de 1,9 bilhão de barris as reservas estimadas para o campo existente na bacia de Sergipe-Alagoas, cuja descoberta foi anunciada pela ANP (Agência Nacional de Petróleo) anteontem. O 1,9 bilhão de barris representaria 14,5% das reservas do país (13,1 bilhões de barris).
No final da tarde de ontem, a ANP divulgou nota afirmando que "em nenhum momento empregou o termo reserva" para se referir ao tamanho da descoberta.
"A esperança é que haja um cálculo promissor, mas falar sobre um número agora, ainda mais sobre 1,9 bilhão, é uma antecipação tecnicamente indevida", disse.
Para a secretária, ocorreu uma "trombada" entre técnicos da ANP e da Petrobras. "Pode ter havido um desencontro de informações, mas essas coisas não são aceitáveis sem uma discussão bem conceituada entre técnicos da agência e técnicos especialistas da Petrobras, que conhecem os postos da região."
A secretária também não confirmou o grau de qualidade do óleo, que seria pelo menos 100% superior ao encontrado na bacia da Campos. "O que existe são indícios positivos sobre a qualidade do óleo, que estão sendo avaliados pela Petrobras."
Segundo ela, o governo está preocupado com a turbulência causada no mercado pela alta que as ações da Petrobras sofreram após o anúncio da descoberta. De acordo com a ANP, o campo gigante seria o primeiro descoberto pela Petrobras fora da bacia de Campos e o maior encontrado no país desde 1996, o que elevou a cotação das ações nas Bolsas.
Segundo Maria das Graças, na avaliação do governo a notícia publicada pela imprensa foi "imatura". "Essas coisas não são aceitáveis. Vamos fazer os ajustes nos números e nos grupos que eventualmente passaram uma informação imprecisa à imprensa."
Ela negou a demissão de profissionais do corpo técnico da ANP, mas não respondeu às perguntas sobre possíveis mudanças na diretoria da agência.
A Agência Folha apurou que o governo já teria alguns nomes para assumir postos-chaves nas agências reguladoras. A troca ocorreria por conta da política de redefinição do papel das agências reguladoras. Um dos substituídos pode ser o presidente da ANP.
Apesar das declarações de sua secretária, a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia) informou que "o ministério não tem nenhuma posição a esse respeito" porque não tem os dados técnicos. Questionada sobre a oportunidade da divulgação do anúncio pela ANP, Dilma disse que não é assessora de imprensa da agência.
A secretária que criticou a posição da ANP é funcionária de carreira da Petrobras -está há 22 anos na empresa. Antes de assumir o posto, era gerente de tecnologia de gás na estatal.


Colaboraram a Sucursal de Brasília e a Sucursal do Rio


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