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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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ANP vê "mal-entendido'; Petrobras, "confusão"

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Em rota de colisão com a Petrobras e o governo por ter divulgado, sem consulta prévia, a descoberta de um campo de petróleo da estatal, a ANP (Agência Nacional do Petróleo) se defendeu ontem afirmando que "em nenhum momento empregou o termo "reserva'" para se referir ao tamanho da descoberta.
Em outra nota, a Petrobras disse que "a ANP divulgou a descoberta de forma confusa e incorreta", o que levou a uma "interpretação equivocada" dos dados.
Anteontem, a ANP informou que a estatal perfurou dois poços nos quais descobriu óleo e que a "estimativa preliminar do volume potencial descoberto" era de 1,9 bilhão de barris de óleo. Por causa da redação confusa do comunicado, o mercado concluiu que se tratava das reservas do campo.
Por definição, reservas são apenas as quantidades de óleo que podem ser retiradas -o que depende das condições geológicas da região-, e não o total que está no fundo do mar.
A ANP sustenta que o volume divulgado é referente à quantidade total que está no fundo do mar e que sua divulgação não dá margem a interpretações erradas. Diz ainda, por por meio de sua assessoria, que todas as informações que foram passadas à imprensa vieram da Petrobras.
Segundo a estatal, a ANP foi informada inicialmente de que havia uma estimativa de 1,9 bilhão de barris de óleo no local (equivalente a 14,5% das reservas totais do Brasil, de 13,1 bilhões de barris). Ao aprofundar as perfurações, porém, essa previsão teria sido "drasticamente reduzida" -a estatal não citou em quanto. A Petrobras, que é obrigada por lei a informar à agência suas descobertas, afirmou que ANP foi avisada da mudança.
De acordo com a Petrobras, com base na previsão inicial (acumulação total de 1,9 bilhão de barris), esperavam-se reservas de cerca de 370 milhões de barris, o que caracterizaria uma descoberta de médio porte. Apenas de 20% a 30% do óleo achado, em geral, tem condições de ser extraído.
Só depois de testes, que ainda não foram concluídos, é que serão determinadas as reservas. Em comunicado enviado à Bovespa, a Petrobras afirmou que um dos poços produziu em fase de testes 3.000 barris/dia -0,18% da produção nacional de 1,597 milhão de barris.
Segundo a Petrobras, o anúncio não foi feito à espera da conclusão dos estudos de viabilidade comercial do campo e do volume de óleo possível de ser extraído.
A Folha apurou que os dados sobre localização da descoberta (a 29 km da costa de Sergipe), profundidade e qualidade do óleo dados pela ANP não estavam errados. O tipo de petróleo achado é leve, de maior valor comercial.
Para o ex-diretor-geral da ANP David Zylbersztajn, a agência não está impedida por lei de comunicar descobertas ao público. Mas, para ele, o anúncio foi feito de forma errada.
Não é a primeira vez que a ANP atropela uma empresa. No ano passado, divulgou antes da Shell - que aguardava testes para determinar o tamanho das reservas- uma descoberta na bacia de Campos.


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