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ANP vê "mal-entendido'; Petrobras, "confusão"
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Em rota de colisão com a Petrobras e o governo por ter divulgado, sem consulta prévia, a descoberta de um campo de petróleo da
estatal, a ANP (Agência Nacional
do Petróleo) se defendeu ontem
afirmando que "em nenhum momento empregou o termo "reserva'" para se referir ao tamanho da
descoberta.
Em outra nota, a Petrobras disse
que "a ANP divulgou a descoberta de forma confusa e incorreta",
o que levou a uma "interpretação
equivocada" dos dados.
Anteontem, a ANP informou
que a estatal perfurou dois poços
nos quais descobriu óleo e que a
"estimativa preliminar do volume
potencial descoberto" era de 1,9
bilhão de barris de óleo. Por causa
da redação confusa do comunicado, o mercado concluiu que se
tratava das reservas do campo.
Por definição, reservas são apenas as quantidades de óleo que
podem ser retiradas -o que depende das condições geológicas
da região-, e não o total que está
no fundo do mar.
A ANP sustenta que o volume
divulgado é referente à quantidade total que está no fundo do mar
e que sua divulgação não dá margem a interpretações erradas. Diz
ainda, por por meio de sua assessoria, que todas as informações
que foram passadas à imprensa
vieram da Petrobras.
Segundo a estatal, a ANP foi informada inicialmente de que havia uma estimativa de 1,9 bilhão
de barris de óleo no local (equivalente a 14,5% das reservas totais
do Brasil, de 13,1 bilhões de barris). Ao aprofundar as perfurações, porém, essa previsão teria
sido "drasticamente reduzida"
-a estatal não citou em quanto.
A Petrobras, que é obrigada por
lei a informar à agência suas descobertas, afirmou que ANP foi
avisada da mudança.
De acordo com a Petrobras,
com base na previsão inicial (acumulação total de 1,9 bilhão de barris), esperavam-se reservas de
cerca de 370 milhões de barris, o
que caracterizaria uma descoberta de médio porte. Apenas de 20%
a 30% do óleo achado, em geral,
tem condições de ser extraído.
Só depois de testes, que ainda
não foram concluídos, é que serão
determinadas as reservas. Em comunicado enviado à Bovespa, a
Petrobras afirmou que um dos
poços produziu em fase de testes
3.000 barris/dia -0,18% da produção nacional de 1,597 milhão
de barris.
Segundo a Petrobras, o anúncio
não foi feito à espera da conclusão
dos estudos de viabilidade comercial do campo e do volume de óleo
possível de ser extraído.
A Folha apurou que os dados
sobre localização da descoberta (a
29 km da costa de Sergipe), profundidade e qualidade do óleo dados pela ANP não estavam errados. O tipo de petróleo achado é
leve, de maior valor comercial.
Para o ex-diretor-geral da ANP
David Zylbersztajn, a agência não
está impedida por lei de comunicar descobertas ao público. Mas,
para ele, o anúncio foi feito de forma errada.
Não é a primeira vez que a ANP
atropela uma empresa. No ano
passado, divulgou antes da Shell
- que aguardava testes para determinar o tamanho das reservas- uma descoberta na bacia de
Campos.
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