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ANÁLISE
Como perenizar o crescimento
PAULO PEREIRA MIGUEL
ESPECIAL PARA A FOLHA
A divulgação do PIB de 2009
na quinta-feira passada oferece
uma oportunidade para avaliar
os caminhos recentes da economia brasileira e considerar
trajetórias para o futuro.
De 2004 a 2008, o dinamismo da economia teve origem
externa. O choque positivo em
nossos termos de troca (preços
das exportações em relação aos
das importações), decorrente
do impacto sistêmico da China
na demanda de matérias-primas, eliminou o endividamento externo, principal restrição
histórica ao crescimento.
A partir daí, foi desencadeado o longo e gradual processo
de redução da taxa real de juros, que disseminou as condições externas favoráveis para o
restante da economia. As políticas de transferência de renda
e de aumento do salário mínimo também tiveram papel importante e ajudaram a consolidar alguns vetores internos de
crescimento. O resultado foi a
aceleração da economia em bases equilibradas: a participação
do consumo permaneceu estável, em torno de 60% do PIB,
houve aumento do investimento em paralelo (grosso modo)
ao da poupança doméstica e o
Brasil cresceu sem incorrer em
deficit externos significativos.
Esse foi o "primeiro estágio",
que se esgotou.
Com a crise de 2008, o equilíbrio foi interrompido, ainda
que, em parte, temporariamente. A forte -e correta para o
momento- reação da política
econômica à crise resultou no
aumento da participação do
consumo (privado + público)
na economia para 83,6% do
PIB em 2009 (ante 79,9% em
2008). A contrapartida foi a
queda da poupança interna, para 14,6% do PIB.
Passada a crise, é importante
considerar como perenizar o
crescimento: será o segundo
estágio, que precisará ser construído nos próximos anos. As
alternativas são, pelo menos,
duas: 1) manter a trajetória
atual, contar com consumo e financiar o necessário aumento
do investimento com poupança
externa crescente ou 2) iniciar
políticas que levem progressivamente ao aumento da poupança interna e evitem que o
país incorra em deficit externos preocupantes -por exemplo, próximos a US$ 100 bilhões- já a partir de 2011.
Tem sido demonstrado amplamente que os países em desenvolvimento mais bem-sucedidos em manter crescimento
alto e estável por longos períodos são os que se alicerçaram
em financiamento doméstico e
na manutenção da competitividade da indústria.
É inescapável que cada alternativa envolva escolhas diferentes nos próximos anos, que
estão no campo da economia
política. Seria equívoco, entretanto, considerar que o país está
fadado a manter o curso atual.
PAULO PEREIRA MIGUEL é economista-chefe
da Quest Investimentos.
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