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LUÍS NASSIF
As armas contra o crime
O sucesso conseguido até agora
pelo Ministério Público do Estado
de São Paulo na luta contra a
"máfia dos fiscais" deve-se à determinação de promotores, juízes
e delegados. Mas também a novos
instrumentos legais, específicos
para o combate ao crime organizado. Em pouco tempo, numa
blitz inédita, foram detidas mais
de 30 pessoas e as investigações
avançam a cada dia sobre terrenos nunca dantes navegados.
Um dos novos instrumentos
-violento, por isso necessitando
ser utilizado com parcimônia- é
o instituto da prisão temporária.
Em geral, recorre-se contra pessoas que, soltas, possam representar risco às investigações. Na prática, representa um formidável fator de coerção sobre os suspeitos.
Muitos deles, para não serem submetidos a esse constrangimento,
abriram informações preciosas
sobre o restante do esquema.
Outro instrumento é a possibilidade de oferecer abrandamento
de pena para quem colaborar com
as investigações. Foi por aí que se
obteve a colaboração da namorada e secretária do vereador Vicente Viscomi e de outras testemunhas relevantes. É um recurso que
destrói os vínculos de solidariedade das quadrilhas. Finalmente,
recursos já existentes, como escuta e quebra de sigilo bancário.
Junto com as investigações sobre
políticos goianos -que levaram à
prisão de um suplente de senador- o processo da "máfia dos
fiscais" deverá representar um
marco na luta contra o crime organizado.
A independência cada vez
maior dos ministérios públicos estaduais e do federal, a impetuosidade das novas gerações de promotores -que pode resvalar para
a arbitrariedade, se não for bem
dosada-, o sentimento de descrença nas instituições, que volta
a tomar corpo na opinião pública,
são um conjunto de fatores poderosos, que prenunciam o início de
uma operação "mãos limpas"
brasileira.
Vêm por aí tempos turbulentos
-e necessários-, que vão exigir
muita firmeza, mas muito discernimento por parte das autoridades competentes, para que não
transformem a sede de justiça em
mera sede de punição.
Ode à inércia
Nos próximos dias, o ministro
que passou quatro anos percorrendo o mundo, defendendo a excelência da política cambial anterior brasileira, percorrerá novamente o mesmo mundo -que
continua no lugar, apesar dos terremotos-, defendendo para as
mesmas platéias tema completamente oposto: o de que o bom é a
liberação cambial.
É duvidoso que o ministro Pedro
Malan tenha se submetido a essa
excentricidade de livre vontade.
Cheira mais a um sacrifício pessoal, em solidariedade ao seu chefe, FHC. Mas é chocante a insensibilidade do presidente, de não
submeter sua vontade pessoal a
princípios mínimos de prudência
política.
Repito, não se trata da pessoa de
Malan, nem de outros membros
da equipe econômica. São pessoas
sérias, que acreditam cegamente
no que fazem -até de forma temerária. Trocas de ministros
ocorrem em caso de falta grave,
ou como sinalização imprescindível de mudança de rotas em governos. Está-se na segunda alternativa,
O país não precisa de magia,
mas de gerência. Em meio à mais
grave crise da década, só agora,
dois meses depois da liberação
cambial, tem-se presidente de BC,
"road show" junto a investidores
internacionais, e pouca coisa
mais.
Instrumentos legítimos de combate a aumentos de preços -como impostos de exportação sobre
commodities- até agora não foram acionados. O desenho do segundo governo nem sequer foi esboçado. Propostas audaciosas
-como o "encontro de contas"-
, que poderiam fornecer o desenho
do segundo governo, não são perseguidas, por excesso de visão burocrática da história.
FHC está prisioneiro de seus
próprios medos. Enquanto não
romper com o medo de inovar, vai
permanecer uma gestão apenas
medíocre da economia.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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