|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Asean apóia autonomia do Mercosul
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
O secretário-executivo da Associação das Nações do Sudeste Asiático, embaixador Dato Ajit Singh,
defende uma aproximação com o
Mercosul visando fortalecer a autonomia dos sistemas regionais
diante das grandes potências.
Em debate promovido no auditório da Folha, no dia 3 de abril,
Singh insistiu na importância dos
laços políticos, tema de sua visita
ao Brasil e à Argentina.
Singh foi embaixador da Malásia
no Brasil entre 1985 e 1989 (acumulando, no mesmo período, a representação junto a Bolívia, Peru,
Colômbia e Venezuela).
O debate foi promovido em conjunto com o Centro de Estudos Estratégicos (CEE) da Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Na área econômica, crescem as
relações entre o Brasil e os ``tigres''
do Sudeste Asiático, principalmente no comércio exterior. Na
América Latina, o Sistema Econômico Latino-Americano (Sela)
vem defendendo uma estratégia de
aproximação entre os governos
das duas regiões.
A Asean foi criada em agosto de
1967 em Bancoc, Tailândia, por
cinco países: Indonésia, Malásia,
Filipinas, Cingapura e Tailândia.
Brunei juntou-se ao grupo em 1984
e, em julho de 1995, o Vietnã foi
incorporado. Laos e Camboja devem entrar em 1997.
A instituição fixava três objetivos
estratégicos: promoção do desenvolvimento, defesa da estabilidade
política em contraposição aos conflitos entre as grandes potências e
criação de um foro intra-regional
para questões de segurança. Trinta
anos depois, os países da Asean
respondem por um comércio (importações e exportações) da ordem
de US$ 550 bilhões.
Um dos aspectos importantes da
Asean é a aproximação entre as
questões econômicas e a busca de
um contraponto regional na área
da segurança.
No panorama dos sistemas econômicos regionais atuais, a associação projeta um modelo de integração entre potências médias que
lembra o próprio Mercosul. A
Asean patrocina um projeto próprio de integração, a Afta (Área de
Livre Comércio da Asean).
O modelo, segundo o relatório
publicado pelo Sela, é centrado nas
exportações, com altas taxas de
poupança interna e forte investimento produtivo, sobretudo com
uma participação vigorosa de investimento direto estrangeiro.
Vários países seguiram uma estratégia que ficou conhecida como
``substituição de exportações''.
Diante da queda nos preços das
matérias-primas nos mercados internacionais nos anos 60 e 70, houve fortes investimentos para a criação de capacidade industrial exportadora.
Segundo Carlos Moneta, o argentino que atualmente ocupa a
secretaria executiva do Sela, temos
muito a aprender com as políticas
de desenvolvimento adotadas pelas economias do Sudeste Asiático.
Elas combinam ação do Estado e
fortalecimento da iniciativa privada, investimento em pesquisa tecnológica e recursos humanos,
poupança doméstica e captação
externa.
A aproximação entre o Brasil e a
Asean começou, segundo o embaixador Singh, na última reunião
da Organização Mundial do Comércio (OMC). O próximo passo é
a participação de ministros latino-americanos na reunião da
Asean, que acontece em outubro.
Para quem ainda acha que os
mercados asiáticos são algo exótico, Eliana C. Bussinger, do Banco
do Brasil, esclareceu no debate que
empresas brasileiras já participam
de um dos projetos centrais da
Asean, a integração ao longo do
rio Mekong. O banco aposta na
aproximação entre o Mercosul e a
Asean.
Os professores Henrique Altemani (da USP) e Paulo Visentini
(da UFRGS) questionaram Singh
sobre qual seria o papel dos Estados Unidos numa aproximação
entre Brasil e Asean. O secretário-executivo fez, então, questão
de afirmar que o objetivo da Asean
é precisamente o de evitar que as
questões regionais fiquem sujeitas
a interferências de potências globais.
Qualquer semelhança entre o
discurso de Singh e a atitude brasileira de confrontar o cronograma
norte-americano de integração
continental pode não ser mera
coincidência.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|