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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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CÚPULA DE WASHINGTON

Fundo alerta que capital estrangeiro pode sair do Brasil e de outros emergentes e voltar para os ricos

Fim da guerra pode secar crédito, diz FMI

Rick Bowmer
O presidente do BC Europeu, Wim Duinsenberg, e o presidente do federal reserve, Alan Greenspan, no encontro do G7


LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O forte fluxo de capitais que migram hoje para os títulos de dívida externa do Brasil e de outros países emergentes, em busca de maior rentabilidade, pode retornar para os mercados financeiros dos países desenvolvidos com o fim da Guerra do Iraque.
O alerta foi feito pelo economista argentino Jorge-Marquez Ruarte, chefe das missões do FMI (Fundo Monetário Internacional) ao Brasil. "Claro que há o risco de que esses fundos [dinheiro dos investidores estrangeiros" possam voltar para os países industrializados", disse ele.
Se isso ocorrer, a queda do risco-país brasileiro, em curso nas últimas semanas, pode ser interrompida. Risco-país é a taxa de juros que os investidores cobram acima do rendimento dos títulos do Tesouro americano para comprar papéis de dívida externa de mercados emergentes.
Se o risco-país voltar a subir (hoje está em torno de 960 pontos), toda a melhoria dos indicadores econômicos brasileiros verificada recentemente pode ser prejudicada. O dólar pode voltar a subir e a inflação ser novamente pressionada.
No final do ano passado, no auge do pessimismo do mercado internacional em relação ao Brasil, o risco-país chegou a atingir 2.400 pontos básicos, o equivalente a 24 pontos percentuais de juros a mais do que pagavam os títulos do Tesouro americano.
À medida que o governo do presidente Lula foi anunciando medidas econômicas ortodoxas, como o aumento da meta de superávit primário (economia de receitas para o pagamento de juros da dívida) para 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto), a confiança do no Brasil foi retornando.
Em paralelo a isso, a rentabilidade dos ativos das economias desenvolvidas, como as Bolsas e os títulos dos governos, está muito baixa. Sem contar que as perspectivas para as economias americana, européias e japonesa são pessimistas para este ano. O próprio FMI reduziu para 2,2% a projeção de crescimento da economia neste ano.
Quando mais alto o risco-país, maiores são as taxas de juros que as empresas e o governo têm de pagar ao tomarem empréstimos no exterior. Uma das principais razões para a queda do dólar nas últimas semanas foi o forte volume de captações feitas por bancos brasileiros no mercado internacional, elevando o ingresso da moeda estrangeira no país.
Se o risco-país subir, as taxas cobradas dos bancos e empresas brasileiras também sobem, reduzindo o ingresso de capital estrangeiro no país.
Segundo Ruarte, se, após o fim da guerra, as economias desenvolvidas se estabilizarem, o dinheiro pode voltar para os mercados dos países ricos.
O economista argentino ressaltou, no entanto, que o capital voltou aos papéis brasileiros não só em busca de maior rentabilidade, mas, também, devido à condução da política econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele ressaltou também que, mesmo haja refluxo de recursos para os países industrializados, alguma parte dos fundos permanecerão nas economias emergentes.

Superávit
O diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental, Anoop Singh, disse ontem que o FMI está muito "ansioso" para obter opiniões da equipe econômica brasileira sobre a proposta do ministro Antonio Palocci (Fazenda) de adotar metas anticíclicas de superávit primário.
As metas anticíclicas pressupõem maior economia de receitas em períodos de expansão econômica e mais gastos em épocas de contração da economia.
"Nós teremos uma missão liderada pelo Jorge Ruarte em algumas semanas. Estamos ansiosos para ter informações da equipe econômica brasileira", disse Singh ontem, em coletiva.
Ele não se mostrou preocupado com adoção das metas anticíclicas. "Eu diria que isso não será adotado imediatamente, a idéia [do governo brasileiro" é introduzir esse mecanismo a partir de 2005", disse.
Ressaltou também que muitos países já adotam essa prática: "Portanto não é algo novo".

América Latina
Singh ressaltou que a performance do Brasil tem sido animadora e ajudado a melhorar as expectativas para a América Latina como um todo. Até mesmo em relação à Argentina os comentários foram positivos. Segundo Singh, os governos latino-americanos já emitiram no mercado internacional neste ano cerca de US$ 7 bilhões em títulos.


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