São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2004

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LUÍS NASSIF

Os chineses estão chegando

Em 1981 , a Brasilinvest abriu um escritório de representação na China, em Pequim, visando quadruplicar o comércio bilateral, na época em US$ 500 milhões. Em fins de 2002, o empresário Mário Garnero aproximou o futuro chefe da Casa Civil, José Dirceu, do grupo de Bush, nos Estados Unidos, ajudando a aplacar as desconfianças em relação ao novo governo. Dessa relação, nasceram estratégias de aproximação com grupos internacionais, entre os quais Muammar Gaddafi, da Líbia, resultando na visita de Lula ao país.
Nesta semana estará sendo montado o lance mais ousado, com Garnero recebendo e ciceroneando o estado-maior do Citic, o superbanco estatal chinês (US$ 100 bilhões em ativos) incumbido das estratégias de investimento do governo.
Compõem a missão, entre outros, o presidente do Conselho, Wang Jun, o vice-presidente Mi Zeng Xin, o vice presidente do Conselho da Citic Energy (o braço do grupo que investe em energia), So Hon Chun Hans. No caso da China, valeu a presença no conselho da Brasilinvest de David Tang, megaempresário de Hong Kong, com negócios na China continental.
Criado em 1981, no auge do poder da chamada "camarilha dos quatro", o Citic ganhou envergadura. Nos anos 90, passou a empreender uma furiosa estratégia de investimentos internacionais, buscando suprir as vulnerabilidades econômicas da China.
Essa visita se insere nesse planejamento. A lógica estratégica da China é utilizar o Brasil como parceiro em três áreas críticas para ela: energia, importação de minério de ferro e de alimentos.
Como há gargalos de infra-estrutura, uma das prioridades do grupo será analisar propostas de investimento em portos e escoamento em geral. Nas visitas a Brasília, os chineses serão apresentados aos projetos incluídos na PPP (Parceria Público Privada) e no Plano Plurianual. Há 27 projetos do PPP ligados diretamente à produção e ao escoamento. O grupo visitará vários ministros em Brasília e planeja, também, conhecer centros de produção suína e bovina em Santa Catarina.
Os pontos de maior fôlego a serem prospectados serão os seguintes:
1) Interesse concreto em uma joint venture com a Petrobras, para a exploração de reservas petrolíferas já adquiridas pela Citic em São Tomé e Príncipe e Chade.
2) Financiar a chamada saída para o Pacífico -a estrada ligando o Centro-Oeste ao litoral do Peru-, possibilidade divulgada na semana passada pelo "New York Times". No ano retrasado, estudos do Departamento da Agricultura norte-americano indicavam que essa estrada poderia conferir uma competitividade insuperável à soja do Centro-Oeste.
3) Colaboração na área aeroespacial e de armamentos, setor que a China logrou dominar graças à colaboração com a ex-União Soviética.
Depois dos impasses da Alca, as duas frentes da diplomacia comercial brasileira estão apresentando suas fichas. Numa ponta, as negociações com a União Européia. Agora, a possibilidade de avançar rapidamente nas negociações com a China.
O crescimento explosivo chinês transformou-o não apenas em um cliente com apetite voraz por produtos brasileiros mas em um país que está lançando bóias pelo mundo para garantir a auto-sustentabilidade.


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