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OPINIÃO ECONÔMICA
A disputa pelo controle
da energia elétrica
LUIZ PINGUELLI ROSA
Um fato curioso foi a pouca,
ou quase nula, repercussão
no Brasil da operação do maior
grupo de empresas de energia
elétrica da Alemanha, EON, para
adquirir o controle da Endesa espanhola. A curiosidade deriva de
ter a Endesa forte presença no
controle de distribuidoras elétricas brasileiras privatizadas, tendo se organizado sob forma de
holding recentemente no país,
colocando na sua liderança Mario Santos, o ex-presidente do
ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
A pouca repercussão nacional
contrasta com a enorme repercussão da operação na Europa.
Foi notícia de primeira página no
"Financial Times", no fim de fevereiro, ressaltando a forte reação do governo espanhol contra
a Endesa ser controlada pelo grupo alemão EON. Foi destacada na
imprensa a declaração do porta-voz do governo de José Luis Zapatero, Fernando Moraleda, na
qual ressaltava: "Faremos tudo
ao nosso alcance para garantir
que as companhias espanholas
de energia continuem espanholas". E isso aconteceu no âmbito
da União Européia, provocando
forte estremecimento em Bruxelas. O fato concreto é que a operação foi suspensa, apesar da oferta
elevada de 29 bilhões feita pela
EON para adquirir a Endesa.
A EON, com a incorporação da
Endesa aos seus ativos, passará a
ser o maior grupo de empresas
elétricas do mundo, ultrapassando a EDF, estatal francesa, que
passaria ao segundo lugar. A posição de Madri foi que a Gás Natural, também espanhola, fundisse-se com a Endesa, criando um
grande grupo de energia na Espanha. Tudo isso mostra o grave erro em que o governo Fernando
Henrique Cardoso incorreu nas
privatizações do setor elétrico, baseadas em uma política econômica de mercado que se revelou irrealista, como o racionamento de
2001 evidenciou. A tendência que
tanto a EON revela como o governo espanhol é a de concentração
empresarial nessa área.
O governo Lula teve o mérito de
interromper as privatizações, mas
infelizmente não mudou as restrições que tolhem as iniciativas do
grupo Eletrobrás, que continua
impedido de ser majoritário em
parcerias com o setor privado,
nem tem acesso a recursos do
BNDES. Não há fórmula mágica.
A atuação do grupo Eletrobrás é
fundamental para expandir o setor elétrico. Pessoalmente, lutei
contra as restrições da área econômica do governo e busquei, como presidente do grupo Eletrobrás, dirigir estrategicamente as
empresas geradoras federais por
meio de um Conselho de Presidentes, que se revelou eficaz para
agilizar a atuação do grupo em leilões de energia e de linhas de
transmissão e em projetos hidrelétricos estruturantes para o país.
O exemplo espanhol deveria motivar a mudança das restrições
que emperram os investimentos
públicos no setor elétrico brasileiro.
O resultado do leilão de energia
nova do fim de 2005 foi problemático. A presença efetiva do setor privado, tido como ator principal na expansão do setor elétrico na política do governo, foi
muito abaixo da expectativa. A
absoluta maior parte da energia
que será contratada em decorrência do leilão será gerada por empresas estatais. Entretanto, grande parte dessa energia nova não é
nova, isto é, não será gerada por
novas usinas, mas, sim, por termelétricas já existentes e que não
tinham contrato para venda às
distribuidoras elétricas. Logo não
significa expansão da capacidade
instalada. A participação das hidrelétricas entre as novas usinas é
pífia e o governo não chegou a um
acordo aceitável para os grupos
ambientalistas que se opõem à hidreletricidade, extremamente
atuantes.
Por fim, o crescimento da oferta
de energia elétrica poderá não fazer face ao aumento da demanda,
em um horizonte de três a quatro
anos, caso o crescimento da economia retome o nível de 2004,
vencendo o marasmo de 2005. O
recém-divulgado Plano Energético divulgado pela EPE é um avanço, mas ainda assim tímido em
vários pontos.
Luiz Pinguelli Rosa é coordenador do
Programa de Planejamento Energético
da Coppe/UFRJ.
Excepcionalmente, hoje, a coluna de
Paulo Nogueira Batista Jr.
não é publicada.
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