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BORIS TABACOF
"Soft landing" para o câmbio
Há uma série de medidas que podem reverter essa situação nefasta do real valorizado, apesar do que dizem teóricos
NEGAR O ESTRAGO que o real
hipervalorizado causa à economia e que vai acabar batendo nas costas dos brasileiros indefesos é como negar a lei da gravidade. Nem a mecânica quântica nega as leis de Newton aplicáveis à
queda dos corpos, com o seu inevitável choque com o solo. É comparável
com a dura realidade no caso da queda do dólar em relação ao real.
Os sinais são evidentes e não dependem mais da eficiência dos empresários. A indústria manufatureira, que sempre foi o carro-chefe da
atividade econômica, já puxa para
baixo a taxa de crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto). Mesmo
com a revisão feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que elevou os números nacionais, a indústria ficou com mísero 1,9% de avanço. Isso soma-se aos
estragos já causados pelo câmbio na
renda dos produtores agrícolas, levados a uma situação crítica de difícil recuperação.
A resiliência demonstrada pelo
superávit da balança comercial não
impede um processo de redução que
já está em marcha. Vistas as coisas
de forma dinâmica, sondando o caminho que a economia já aponta,
não é negativismo prever dias difíceis ante eventos que podem escapar ao controle. Vejamos:
1) Incertezas na demanda aquecida, principalmente dos Estados
Unidos e da China, o que pode comprometer os bons preços das commodities, pois, quanto aos produtos
de maior valor agregado, isso já
aconteceu;
2) Contínua queda das receitas de
exportação das empresas, que, de
início, causa diminuição dos lucros e
da capacidade de investir e depois
leva à redução e à paralisação de atividades quando os preços obtidos
em reais alcançam e ultrapassam os
custos variáveis, isto é, geram prejuízos na atividade;
3) Desindustrialização que ainda
não é generalizada, mas que, de
acordo com a "lei da gravidade", vai
se espalhando para muitos segmentos;
4) riscos da redução da enorme liquidez global, o que pode diminuir
os recursos de financiamento das
exportações, como já vimos no passado recente.
A acumulação de reservas, que é
uma ação positiva, pois representa
uma defesa contra crises globais,
ajuda a reduzir a velocidade de queda do câmbio, mas tem se mostrado
insuficiente.
Contra os teóricos da impossibilidade de administrar a flutuação
cambial pode ser relacionada uma
série de medidas que podem reverter essa situação nefasta. Trata-se de
buscar um "soft landing", isto é, um
pouso suave, ante as possibilidades
de um "crash" como aconteceu com
a desvalorização cambial em 1999,
quando a pressão sobre o câmbio
tornou-se insuportável.
Com isso, preservam-se os ganhos
reais obtidos com as políticas macroeconômicas, que, mesmo dolorosas, surtiram efeitos positivos, principalmente a conquista da estabilidade, além da melhoria de renda que
se observa nos segmentos mais desprotegidos da população.
O Banco Central mostrou grande
competência no que chamou de "administração das expectativas" no
que se refere à inflação. Trata-se,
agora, de reverter as expectativas de
que o real vai cair abaixo de 2 por dólar e continuar caindo.
Sugere-se: 1) rápida redução dos
juros, o que não representa riscos de
inflação, que seria a meta de chegar a
6% de juros reais, dito explicitamente pelo Banco Central;
2) eliminação da isenção de 15%
de Imposto de Renda sobre os ganhos dos investidores estrangeiros
em títulos públicos federais;
3) tributação crescente sobre rendimentos de capitais que ingressam
para ganhar na arbitragem dos juros, por exemplo, pegando-se empréstimos com taxas japonesas muito baixas e trazendo para a aplicação
em títulos com juros brasileiros, o
que dá um lucro garantido de, no mínimo, 6% ao especulador financeiro,
sendo a progressividade da taxação
inversamente proporcional ao prazo de permanência do investimento
não produtivo no país. Além da adoção de medidas que a criatividade
das autoridades de Brasília têm demonstrado com tanto sucesso na
criação de constrangimentos ao
crescimento da economia brasileira.
Agora, é fazer com que a expectativa dos agentes financeiros passe a
ser a de que o dólar vai se valorizar e
que o real buscará uma posição
compatível com os interesses da sociedade brasileira.
BORIS TABACOF é diretor do Departamento de Economia
do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e
vice-presidente do Conselho de Administração da Suzano.
Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna
de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS.
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