São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2007

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BORIS TABACOF

"Soft landing" para o câmbio

Há uma série de medidas que podem reverter essa situação nefasta do real valorizado, apesar do que dizem teóricos

NEGAR O ESTRAGO que o real hipervalorizado causa à economia e que vai acabar batendo nas costas dos brasileiros indefesos é como negar a lei da gravidade. Nem a mecânica quântica nega as leis de Newton aplicáveis à queda dos corpos, com o seu inevitável choque com o solo. É comparável com a dura realidade no caso da queda do dólar em relação ao real.
Os sinais são evidentes e não dependem mais da eficiência dos empresários. A indústria manufatureira, que sempre foi o carro-chefe da atividade econômica, já puxa para baixo a taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Mesmo com a revisão feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que elevou os números nacionais, a indústria ficou com mísero 1,9% de avanço. Isso soma-se aos estragos já causados pelo câmbio na renda dos produtores agrícolas, levados a uma situação crítica de difícil recuperação.
A resiliência demonstrada pelo superávit da balança comercial não impede um processo de redução que já está em marcha. Vistas as coisas de forma dinâmica, sondando o caminho que a economia já aponta, não é negativismo prever dias difíceis ante eventos que podem escapar ao controle. Vejamos:
1) Incertezas na demanda aquecida, principalmente dos Estados Unidos e da China, o que pode comprometer os bons preços das commodities, pois, quanto aos produtos de maior valor agregado, isso já aconteceu;
2) Contínua queda das receitas de exportação das empresas, que, de início, causa diminuição dos lucros e da capacidade de investir e depois leva à redução e à paralisação de atividades quando os preços obtidos em reais alcançam e ultrapassam os custos variáveis, isto é, geram prejuízos na atividade;
3) Desindustrialização que ainda não é generalizada, mas que, de acordo com a "lei da gravidade", vai se espalhando para muitos segmentos;
4) riscos da redução da enorme liquidez global, o que pode diminuir os recursos de financiamento das exportações, como já vimos no passado recente.
A acumulação de reservas, que é uma ação positiva, pois representa uma defesa contra crises globais, ajuda a reduzir a velocidade de queda do câmbio, mas tem se mostrado insuficiente.
Contra os teóricos da impossibilidade de administrar a flutuação cambial pode ser relacionada uma série de medidas que podem reverter essa situação nefasta. Trata-se de buscar um "soft landing", isto é, um pouso suave, ante as possibilidades de um "crash" como aconteceu com a desvalorização cambial em 1999, quando a pressão sobre o câmbio tornou-se insuportável.
Com isso, preservam-se os ganhos reais obtidos com as políticas macroeconômicas, que, mesmo dolorosas, surtiram efeitos positivos, principalmente a conquista da estabilidade, além da melhoria de renda que se observa nos segmentos mais desprotegidos da população.
O Banco Central mostrou grande competência no que chamou de "administração das expectativas" no que se refere à inflação. Trata-se, agora, de reverter as expectativas de que o real vai cair abaixo de 2 por dólar e continuar caindo.
Sugere-se: 1) rápida redução dos juros, o que não representa riscos de inflação, que seria a meta de chegar a 6% de juros reais, dito explicitamente pelo Banco Central;
2) eliminação da isenção de 15% de Imposto de Renda sobre os ganhos dos investidores estrangeiros em títulos públicos federais;
3) tributação crescente sobre rendimentos de capitais que ingressam para ganhar na arbitragem dos juros, por exemplo, pegando-se empréstimos com taxas japonesas muito baixas e trazendo para a aplicação em títulos com juros brasileiros, o que dá um lucro garantido de, no mínimo, 6% ao especulador financeiro, sendo a progressividade da taxação inversamente proporcional ao prazo de permanência do investimento não produtivo no país. Além da adoção de medidas que a criatividade das autoridades de Brasília têm demonstrado com tanto sucesso na criação de constrangimentos ao crescimento da economia brasileira.
Agora, é fazer com que a expectativa dos agentes financeiros passe a ser a de que o dólar vai se valorizar e que o real buscará uma posição compatível com os interesses da sociedade brasileira.


BORIS TABACOF é diretor do Departamento de Economia do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e vice-presidente do Conselho de Administração da Suzano.

Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS.


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