São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997.

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MINERAÇÃO
Túnel do empreendimento que chegou a produzir 32 kg do metal em um ano recebe manutenção até hoje
Mina de ouro `urbana' espera reativação

LUIZ ANTONIO CINTRA
da Reportagem Local

Quem pensa em ouro, no Brasil, logo se lembra de Serra Pelada, Carajás, Minas, locais distantes de grandes centros urbanos como São Paulo. Pois a cidade de Araçariguama, a 50 km a oeste da capital paulista, mostra que quem pensa assim está enganado.
Ali, desde 1926, existe a Saint George Gold Mine, mina de ouro situada a menos de cem metros da rodovia Castelo Branco, que liga a cidade de São Paulo à região noroeste do Estado.
A mina foi fundada pelo general canadense George Raston e viveu o seu auge nas décadas de 20 e de 30, chegando a produzir, no ano de 1936, 32 quilos de ouro.
Com esse desempenho, a Saint George passou a ser considerada o principal veio aurífero encontrado no Estado de São Paulo, de acordo com o livro ``Recursos Minerais do Brasil'', de Sylvio Froés Abreu, numa edição de 1973 elaborada com a colaboração da USP.
Nessa ocasião, a mina de Araçariguama tinha produção mensal média de 2 quilos de ouro e de 20 de prata, chegando a exportar parte da produção para os EUA.
No caso da produção de ouro, a concentração encontrada nessa época era de aproximadamente 25,2 gramas do mineral por tonelada extraída.
Segundo funcionários da mina, ela possui atualmente uma extensão de aproximadamente 160 metros, chegando a ter 60 metros de profundidade.
O auge da mina, no entanto, não durou muito tempo. No final dos anos 30, ela foi fechada. Segundo moradores da cidade que viram a mina em funcionamento, a decisão foi tomada pelo governo federal, que optou por lacrar a Saint George. O motivo alegado na ocasião teria sido a existência de desvio ilegal de ouro para o exterior.
Mais tarde, com dificuldades financeiras, o canadense Raston, então proprietário da mina, precisou usá-la para pagar uma dívida com o empresário e político paulistano Antonio Cintra Gordinho, morto há muitos anos.
Assim a mina acabou fazendo parte da fazenda São José, que já era de propriedade de Gordinho.
A fazenda ainda existe, possui 260 alqueires ao redor da Saint George, e pertence à Fundação Antonio Antonieta Cintra Gordinho, de Jundiaí, cidade próxima.
O direito à exploração da mina, no entanto, não pertence mais à fundação, de acordo com o DNPM (Departamento Nacional de Pesquisa Mineral), órgão do governo federal encarregado da fiscalização das minas existentes no país.
Segundo o DNPM, o direito à exploração da mina é da Effedip, empresa de mineração do italiano Francesco D'Ippolito.
Manutenção
Em Araçariguama, a Folha conversou com alguns funcionários que trabalhavam no local, fazendo a manutenção da mina.
Há anos a Saint George deixou de produzir ouro ou outro mineral. O trabalho que estava sendo feito, disseram os funcionários, era apenas para retirar a areia que havia desmoronado com as chuvas.
De acordo com Pedro Taborda, responsável pela mina em Araçariguama, não há previsão para a retomada das operações da mina.
Ele diz acreditar, no entanto, que ainda é possível encontrar ouro ali, mas que para isso seria preciso um grande investimento.
Outro problema é jurídico: um processo entre a mineradora Effedip e a Fundação Cintra Gordinho. No processo, a Effedip solicita a abertura de uma estrada que passaria dentro da fazenda São José. Só assim a mina seria reativada.
O processo ainda está tramitando na Justiça de São Roque, que tem autonomia para autorizar ou não a abertura da estrada.

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