São Paulo, domingo, 13 de maio de 2001

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Demora na definição de diretrizes emperra programa de termelétricas; neste ano, só saem 6 das 14 usinas previstas

Fiasco de plano do governo agrava apagão

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O governo demorou a desatar os nós que amarravam a construção de termelétricas no Brasil. Resultado: apenas 6 das 14 usinas previstas para este ano vão começar a operar efetivamente. Em fevereiro do ano passado o governo anunciou, com estardalhaço, um programa de construção de 49 usinas até 2003.
Se essas usinas já estivessem em operação, os apagões seriam mais curtos, os prejuízos das empresas, reduzidos e as dores de cabeça dos moradores das grandes cidades, menores.
Dos 6.000 MW (cerca de 12% da energia consumida no país) que deveriam ser gerados pelo programa emergencial, 1.200 MW entram em operação neste ano.
Logo após o lançamento do programa para a construção das 49 usinas, os fabricantes de turbinas deram o alerta: o governo não os havia avisado e faltariam turbinas a gás no mercado. Foi o primeiro tropeço do programa.
Ele foi resolvido, em parte, pela participação, na maioria dos projetos, de grandes empresas multinacionais e da Petrobras, cujos relacionamentos comerciais com os grandes fabricantes tornavam mais fácil garantir a compra dos equipamentos.
O maior obstáculo, no entanto, demorou a ser resolvido -o preço do gás, matéria-prima das usinas, é definido em dólar e a energia, vendida em reais. Nenhum investidor arriscou emprestar dinheiro no mercado internacional, comprar máquinas, instalá-las e começar a gerar energia sem saber se teria garantido o direito de repassar a alta do preço do gás -em dólares- para as tarifas.

"Conta-gás"
Os técnicos do governo ensaiaram várias soluções: 1) o governo poderia subsidiar o gás; 2) as tarifas poderiam ser corrigidas pelo IGP-M; 3) uma conta de compensação, parecida com a conta-petróleo, poderia ser criada.
A última proposta, feita pela própria Petrobras, tende a ser adotada. A empresa estatal, nesse caso, não repassaria para o preço do gás as variações do dólar. As diferenças entre preços em reais e em dólares seriam contabilizadas em uma conta. Uma vez por ano, essa conta seria zerada, e a diferença, repassada para os preços.
"Estamos dando os últimos retoques no acordo, mas a proposta deve ser aprovada em breve", diz Nestor Cerveró, gerente-executivo de energia da Petrobras.
Até o final deste ano, seis usinas devem entrar em operação. Elas terão, inicialmente, capacidade para gerar cerca de 1.200 MW. Não acabam com os apagões, mas se elas estivessem operando, poderiam reduzir a necessidade de corte de 20% para 18%, nas contas do professor Roberto Schaeffer, do Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Energia da UFRJ).
A Petrobras é sócia de quatro dessas usinas: Fafen (BA), Refap (RS), Ibirité e Três Lagoas (MG) e Piratininga (SP). As outras duas, no Rio de Janeiro, estão sendo construídas pelas norte-americanas Enron e El Paso.
Mesmo nos dois projetos dos quais a Petrobras não é sócia, a participação da estatal é importante: ela garante o preço do gás e irá participar da comercialização da energia gerada. Na prática, a empresa brasileira reduziu o risco assumido pelos investidores.
O PPT (Programa Prioritário de Termelétricas) do governo previa 49 usinas que gerariam 15 mil MW até 2003. Elas emperraram. Apenas 25 projetos, com capacidade de geração de 10 mil MW, foram levados adiante, todos com participação da Petrobras.
O fiasco do programa das usinas termelétricas fez o PPT virar PET (Programa Emergencial de Termelétricas), que engloba a construção de 14 usinas. Elas deveriam entrar em operação neste ano e gerar de início 3.000 MW, chegando a 6.000 MW.
A Petrobras selecionou dez projetos para o PET. Quatro entram em operação neste ano. Os demais, segundo as previsões dos técnicos da empresa, começam a gerar energia em 2002. Outros cinco projetos estão estruturados, e sua construção pode começar no segundo semestre deste ano.
Solucionado o imbróglio do preço do gás, o interesse dos investidores privados deve aumentar, e mais alguns projetos podem sair do papel.
Empenhados na construção das usinas, os engenheiros da Petrobras se depararam com mais um problema: os fabricantes brasileiros de máquinas querem que a estatal os inclua nas listas de fornecedores de equipamentos.
Não existem fabricantes de turbinas a gás no Brasil. Os brasileiros podem fornecer pouco mais de 30% dos equipamentos usados na construção de uma termelétrica. Nas que já estão em construção, não forneceram nada.
Na semana passada, engenheiros da empresa vieram à Abimaq (entidade que reúne as indústrias de máquinas) explicar o programa. Ouviram as críticas dos fabricantes: os sócios internacionais estavam dando preferência aos fornecedores de seus países. Dois comitês, formados por industriais e executivos da Petrobras, tratarão do assunto.


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