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Demora na definição de diretrizes emperra programa de termelétricas; neste ano, só saem 6 das 14 usinas previstas
Fiasco de plano do governo agrava apagão
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O governo demorou a desatar
os nós que amarravam a construção de termelétricas no Brasil. Resultado: apenas 6 das 14 usinas
previstas para este ano vão começar a operar efetivamente. Em fevereiro do ano passado o governo
anunciou, com estardalhaço, um
programa de construção de 49
usinas até 2003.
Se essas usinas já estivessem em
operação, os apagões seriam mais
curtos, os prejuízos das empresas,
reduzidos e as dores de cabeça
dos moradores das grandes cidades, menores.
Dos 6.000 MW (cerca de 12% da
energia consumida no país) que
deveriam ser gerados pelo programa emergencial, 1.200 MW
entram em operação neste ano.
Logo após o lançamento do
programa para a construção das
49 usinas, os fabricantes de turbinas deram o alerta: o governo não
os havia avisado e faltariam turbinas a gás no mercado. Foi o primeiro tropeço do programa.
Ele foi resolvido, em parte, pela
participação, na maioria dos projetos, de grandes empresas multinacionais e da Petrobras, cujos relacionamentos comerciais com os
grandes fabricantes tornavam
mais fácil garantir a compra dos
equipamentos.
O maior obstáculo, no entanto,
demorou a ser resolvido -o preço do gás, matéria-prima das usinas, é definido em dólar e a energia, vendida em reais. Nenhum
investidor arriscou emprestar dinheiro no mercado internacional,
comprar máquinas, instalá-las e
começar a gerar energia sem saber se teria garantido o direito de
repassar a alta do preço do gás
-em dólares- para as tarifas.
"Conta-gás"
Os técnicos do governo ensaiaram várias soluções: 1) o governo
poderia subsidiar o gás; 2) as tarifas poderiam ser corrigidas pelo
IGP-M; 3) uma conta de compensação, parecida com a conta-petróleo, poderia ser criada.
A última proposta, feita pela
própria Petrobras, tende a ser
adotada. A empresa estatal, nesse
caso, não repassaria para o preço
do gás as variações do dólar. As
diferenças entre preços em reais e
em dólares seriam contabilizadas
em uma conta. Uma vez por ano,
essa conta seria zerada, e a diferença, repassada para os preços.
"Estamos dando os últimos retoques no acordo, mas a proposta
deve ser aprovada em breve", diz
Nestor Cerveró, gerente-executivo de energia da Petrobras.
Até o final deste ano, seis usinas
devem entrar em operação. Elas
terão, inicialmente, capacidade
para gerar cerca de 1.200 MW.
Não acabam com os apagões, mas
se elas estivessem operando, poderiam reduzir a necessidade de
corte de 20% para 18%, nas contas
do professor Roberto Schaeffer,
do Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em
Energia da UFRJ).
A Petrobras é sócia de quatro
dessas usinas: Fafen (BA), Refap
(RS), Ibirité e Três Lagoas (MG) e
Piratininga (SP). As outras duas,
no Rio de Janeiro, estão sendo
construídas pelas norte-americanas Enron e El Paso.
Mesmo nos dois projetos dos
quais a Petrobras não é sócia, a
participação da estatal é importante: ela garante o preço do gás e
irá participar da comercialização
da energia gerada. Na prática, a
empresa brasileira reduziu o risco
assumido pelos investidores.
O PPT (Programa Prioritário de
Termelétricas) do governo previa
49 usinas que gerariam 15 mil
MW até 2003. Elas emperraram.
Apenas 25 projetos, com capacidade de geração de 10 mil MW,
foram levados adiante, todos com
participação da Petrobras.
O fiasco do programa das usinas termelétricas fez o PPT virar
PET (Programa Emergencial de
Termelétricas), que engloba a
construção de 14 usinas. Elas deveriam entrar em operação neste
ano e gerar de início 3.000 MW,
chegando a 6.000 MW.
A Petrobras selecionou dez projetos para o PET. Quatro entram
em operação neste ano. Os demais, segundo as previsões dos
técnicos da empresa, começam a
gerar energia em 2002. Outros
cinco projetos estão estruturados,
e sua construção pode começar
no segundo semestre deste ano.
Solucionado o imbróglio do
preço do gás, o interesse dos investidores privados deve aumentar, e mais alguns projetos podem
sair do papel.
Empenhados na construção das
usinas, os engenheiros da Petrobras se depararam com mais um
problema: os fabricantes brasileiros de máquinas querem que a estatal os inclua nas listas de fornecedores de equipamentos.
Não existem fabricantes de turbinas a gás no Brasil. Os brasileiros podem fornecer pouco mais
de 30% dos equipamentos usados
na construção de uma termelétrica. Nas que já estão em construção, não forneceram nada.
Na semana passada, engenheiros da empresa vieram à Abimaq
(entidade que reúne as indústrias
de máquinas) explicar o programa. Ouviram as críticas dos fabricantes: os sócios internacionais
estavam dando preferência aos
fornecedores de seus países. Dois
comitês, formados por industriais
e executivos da Petrobras, tratarão do assunto.
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