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Acordo com europeus avança pouco, mas mais do que a Alca
DO ENVIADO A MADRI
O modesto resultado previsto
para a Cúpula de Madri não desanima o principal negociador brasileiro, o embaixador Clodoaldo
Hugueney. "Se comparar com a
Alca [Área de Livre Comércio das
Américas], o avanço foi parecido
ou até mais positivo", afirma o
embaixador.
Tem razão. Formalmente as negociações para criar a Alca e as
discussões entre Mercosul e
União Européia estão no mesmo
estágio: na fase final da pré-negociação, em que ainda não há efetiva discussão sobre redução tarifária entre os blocos.
Mas a UE leva vantagem sobre
os Estados Unidos, principal motor da Alca: os europeus já têm
um mandato negociador, ao passo que o Executivo norte-americana sofre para arrancar do Congresso a aprovação de um dispositivo similar (antes conhecido
como "fast track e agora chamado
de Trade Promotion Authority,
ou Autorização para Promoção
Comercial).
Por mais que as partes envolvidas neguem, o fato é que há uma
evidente competição entre UE e
EUA para ver quem faz primeiro
o acordo com o Mercosul.
Observadores externos, embora
com o viés europeu, não têm dúvidas sobre qual é o mais vantajoso para o Mercosul.
EUA X UE
"A consolidação do Mercosul só
será possível com o aprofundamento das relações com a União
Européia, o que lhe permitiria ter
um espaço de maior autonomia
relativa para negociar em uma
economia globalizada", diz, por
exemplo, José Déniz Espinós,
professor titular de economia
aplicada da Universidade Complutense de Madri e especialista
em América Latina.
Para Déniz, os Estados Unidos
jogam na atual debilidade argentina para facilitar a criação da
Área de Livre Comércio das Américas, sobre a qual o governo e os
empresários brasileiros têm sérias
dúvidas.
"A crise argentina afastará a
presença européia, na medida em
que se afastarão os investimentos
de origem européia, e o governo
do país se aproxime politicamente mais dos organismos multilaterais [como o FMI" e dos Estados
Unidos", completa o especialista
espanhol.
No lado brasileiro, as vantagens
oferecidas pela Europa são menos
palpáveis.
"Se há unilateralismo norte-americano, também há certas medidas européias que são igualmente condenáveis. Não se trata
de se alinhar automaticamente
com um ou com o outro", afirma
o embaixador José Alfredo Graça
Lima, que está assumindo o cargo
de representante do Brasil na sede
da União Européia, em Bruxelas,
Bélgica.
Graça Lima se irrita, em particular, com o fato de que os europeus insistem em dizer que não
vão abrir sua área agrícola (a mais
cobiçada pelo Mercosul) nas negociações bilaterais, porque não
querem "pagar duas vezes", como
diz Gunnar Wiegand, o porta-voz
de Chris Patten, uma espécie de
ministro do Exterior europeu.
Nó agrícola
A Europa pretende pagar o preço da abertura agrícola apenas
uma vez, nas negociações planetárias que estão se iniciando agora, no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio).
"Esse não é argumento de parceiro", afirma Graça Lima. Para o
embaixador, a abertura agrícola
européia seria uma espécie de pagamento de um sinal da Europa
ao Mercosul, já que as negociações agrícolas na OMC engatinham penosamente.
A questão agrícola é a divergência central também entre os empresários dos dois blocos, que se
reúnem igualmente em Madri,
nas vésperas da cúpula oficial.
"Uma oferta de liberalização tarifária sem avanço no tratamento
dos subsídios à agricultura tem
muito pouco valor para o Mercosul", diz Sandra Rios, da Confederação Nacional da Indústria.
O que une os empresários de
parte a parte é o pacote de "facilitação de negócios" que será anunciado em Madri. São medidas burocráticas, que facilitam o comércio, sem interferir diretamente
nas políticas comerciais de um lado ou do outro.
O plano de ação nesse capítulo
está focado em questões alfandegárias, padrões, normas, medidas
sanitárias e fitossanitárias e comércio eletrônico.
"Qualitativamente é importante, mas é difícil avaliar seu impacto quantitativo", diz Stefano Gatto, responsável pelo comércio na
representação da UE em Brasília.(CR)
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