São Paulo, Quinta-feira, 13 de Maio de 1999
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Velocidade imposta ao ritmo de queda surpreende mercado

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

A redução da taxa de juros, de 29,5% para 27% ao ano, anunciada ontem pelo Banco Central, surpreendeu o mercado financeiro. Já se sabia que o governo pretendia manter a trajetória de queda dos juros, mas não tão rápido.
"A queda surpreendeu pela velocidade. É uma mudança de atitude do Banco Central, que agora está buscando reduções mais agressivas", diz Danny Rappaport, economista do banco Santander.
A redução anterior havia ocorrido na última sexta-feira. Há expectativa de que as taxas voltem a cair na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), marcada para o dia 19 deste mês.
Uma das explicações para o corte mais agressivo nos juros é a queda na taxa de inflação. Os últimos resultados dos índices de preços indicam não só menor pressão por reajustes como também uma tendência para deflação neste mês. O IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas, ficou em 0,03% em abril, contra 1,98% em março.
"Muitos produtos importados tiveram reajustes quando a cotação da moeda estava entre R$ 1,70 e R$ 1,80 por dólar. Como a cotação caiu e a recessão está dificultando as vendas, há espaço para queda nos preços", diz Luis Stuhlberger, diretor da corretora Hedging-Griffo. "A redução nos juros mostra que o governo está fazendo uma sintonia fina de acordo com os novos dados da inflação."
Com preços em queda, o governo já não precisa manter juros altos para conter a inflação. Além disso, os juros altos ajudavam a atrair investimentos para o país e manter o equilíbrio na taxa de câmbio. Agora, porém, há muita entrada de capital estrangeiro, forçando a valorização do real.
Ontem, o governo interveio no mercado de câmbio para não deixar o real se valorizar muito em relação ao dólar. Com juros mais baixos, pode ocorrer uma diminuição do interesse dos investidores estrangeiros por aplicações financeiras no país, o que reduziria a pressão sobre a taxa de câmbio.

Pressão inflacionária
"O governo está respondendo à expectativa do mercado financeiro, que está muito otimista e projeta uma queda acelerada nos juros", diz o ex-ministro Mailson da Nóbrega. "Além disso, a atual pressão sobre o câmbio justifica uma redução mais agressiva da taxa, mesmo considerando que alguns economistas vêem riscos de maior pressão inflacionária."
O risco de maior pressão inflacionária ocorre se a recuperação da economia for mais rápida do que se previa. Com juros mais baixos, a economia poderia voltar a crescer e as empresas poderiam se sentir mais à vontade para reajustar seus preços.
"Não faz sentido manter juros tão altos com inflação tão baixa. Como não ocorreu a reindexação, mesmo se a economia se recuperar mais rápido, a pressão inflacionária é pequena", diz Alexandre Azara, economista do banco BBA.
A postura mais agressiva adotada pelo BC está levando os bancos a refazer suas contas para a queda dos juros nos próximos meses. Até a semana passada, o banco Santander projetava que, em julho, a taxa estaria em 25% ao ano. Agora, a expectativa é de que fique em 23%. Para o Santander, os juros já devem cair para 25% na próxima reunião do Copom.
"O governo pode reduzir as taxas porque os investidores estão demonstrando maior confiança na economia. A queda mais rápida dos juros reduz a pressão sobre a dívida pública, mas ainda falta muito para se chegar a uma taxa de equilíbrio", diz Rappaport.

Empréstimo pessoal
O Bradesco anunciou ontem também uma redução na taxa de juros para financiamento de veículos e para empréstimos pessoais. As taxas de financiamento para compra de veículos caíram de 3% para 2,60% ao mês. Já os juros para empréstimo pessoal foram de 6,5% para 5,5% ao mês.


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