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Velocidade imposta ao ritmo de queda surpreende mercado
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
A redução da taxa de juros, de
29,5% para 27% ao ano, anunciada
ontem pelo Banco Central, surpreendeu o mercado financeiro. Já
se sabia que o governo pretendia
manter a trajetória de queda dos
juros, mas não tão rápido.
"A queda surpreendeu pela velocidade. É uma mudança de atitude
do Banco Central, que agora está
buscando reduções mais agressivas", diz Danny Rappaport, economista do banco Santander.
A redução anterior havia ocorrido na última sexta-feira. Há expectativa de que as taxas voltem a cair
na próxima reunião do Conselho
de Política Monetária (Copom),
marcada para o dia 19 deste mês.
Uma das explicações para o corte
mais agressivo nos juros é a queda
na taxa de inflação. Os últimos resultados dos índices de preços indicam não só menor pressão por
reajustes como também uma tendência para deflação neste mês. O
IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas, ficou em 0,03% em abril, contra 1,98% em março.
"Muitos produtos importados tiveram reajustes quando a cotação
da moeda estava entre R$ 1,70 e R$
1,80 por dólar. Como a cotação
caiu e a recessão está dificultando
as vendas, há espaço para queda
nos preços", diz Luis Stuhlberger,
diretor da corretora Hedging-Griffo. "A redução nos juros mostra
que o governo está fazendo uma
sintonia fina de acordo com os novos dados da inflação."
Com preços em queda, o governo já não precisa manter juros altos para conter a inflação. Além
disso, os juros altos ajudavam a
atrair investimentos para o país e
manter o equilíbrio na taxa de
câmbio. Agora, porém, há muita
entrada de capital estrangeiro, forçando a valorização do real.
Ontem, o governo interveio no
mercado de câmbio para não deixar o real se valorizar muito em relação ao dólar. Com juros mais
baixos, pode ocorrer uma diminuição do interesse dos investidores estrangeiros por aplicações financeiras no país, o que reduziria a
pressão sobre a taxa de câmbio.
Pressão inflacionária
"O governo está respondendo à
expectativa do mercado financeiro, que está muito otimista e projeta uma queda acelerada nos juros",
diz o ex-ministro Mailson da Nóbrega. "Além disso, a atual pressão
sobre o câmbio justifica uma redução mais agressiva da taxa, mesmo
considerando que alguns economistas vêem riscos de maior pressão inflacionária."
O risco de maior pressão inflacionária ocorre se a recuperação
da economia for mais rápida do
que se previa. Com juros mais baixos, a economia poderia voltar a
crescer e as empresas poderiam se
sentir mais à vontade para reajustar seus preços.
"Não faz sentido manter juros
tão altos com inflação tão baixa.
Como não ocorreu a reindexação,
mesmo se a economia se recuperar
mais rápido, a pressão inflacionária é pequena", diz Alexandre Azara, economista do banco BBA.
A postura mais agressiva adotada pelo BC está levando os bancos
a refazer suas contas para a queda
dos juros nos próximos meses. Até
a semana passada, o banco Santander projetava que, em julho, a taxa
estaria em 25% ao ano. Agora, a
expectativa é de que fique em 23%.
Para o Santander, os juros já devem cair para 25% na próxima reunião do Copom.
"O governo pode reduzir as taxas
porque os investidores estão demonstrando maior confiança na
economia. A queda mais rápida
dos juros reduz a pressão sobre a
dívida pública, mas ainda falta
muito para se chegar a uma taxa de
equilíbrio", diz Rappaport.
Empréstimo pessoal
O Bradesco anunciou ontem
também uma redução na taxa de
juros para financiamento de veículos e para empréstimos pessoais.
As taxas de financiamento para
compra de veículos caíram de 3%
para 2,60% ao mês. Já os juros para
empréstimo pessoal foram de
6,5% para 5,5% ao mês.
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