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OPINIÃO ECONÔMICA
Um pouco de crédito, por favor!
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Caros leitores, dêem-me um
crédito, por favor! Calma, calma. Não vou pedir dinheiro a
ninguém. O crédito que vou pedir não é financeiro, mas de
confiança.
Será que mereço? Vejamos.
Desde os idos de 1993, quando o
Plano Real era apenas um projeto da equipe do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, o humilde economista que vos escreve alertou,
avisou e insistiu que a sobrevalorização do câmbio seria um
perigo para o Brasil.
Veio a nova moeda e a valorização cambial acabou sendo
maior e mais rápida do que se
esperava. Como se isso não bastasse, o governo resolveu, em seguida, amarrar a taxa de câmbio sobrevalorizada a um regime de bandas cambiais, exatamente o tipo de modelo que acabara de fracassar no México e
em diversos outros países! Desde 1995, passei anos avisando
que o Brasil estava agarrado a
um regime cambial condenado.
Virou uma obsessão. Amigos e
familiares recomendavam: viva
a sua vida e esqueça essa maldita taxa de câmbio. Foi um caso
sério. Cheguei a escrever um artigo nesta coluna que terminava com um apelo patético: pelo
amor de Deus e pela Santíssima
Trindade, DESVALORIZEM O
REAL!
Bem. O que aconteceu nos últimos anos, e em especial agora
em 1999, mostra que havia razões objetivas de sobra para cultivar uma obsessão com o câmbio. E, permitam-me dizê-lo, os
resultados iniciais da desvalorização e do regime de flutuação
indicam que havia muito exagero e ignorância nas previsões
alarmistas do governo e de seus
porta-vozes informais quanto
aos efeitos supostamente desastrosos da correção cambial e do
abandono das bandas.
Por que estou dizendo tudo isso? Pelo seguinte (e peço, por favor, que me escutem um pouquinho mais desta vez): nas
atuais condições internacionais
e nacionais, DESVALORIZAÇÃO E FLUTUAÇÃO NÃO SÃO
SUFICIENTES para nos proporcionar um modelo cambial sólido. Não me refiro ao fato óbvio
de que medidas cambiais são
sempre e em toda parte apenas
um aspecto, ainda que crucial,
da política econômica de um
país.
O que eu queria lembrar é que
faltam medidas essenciais no
próprio campo cambial e das
contas externas. Um país como
o Brasil não pode entrar na flutuação de peito aberto: deve
proteger-se sistematicamente
da instabilidade resultante de
entradas e saídas abruptas na
conta de capital do balanço de
pagamentos.
Em outras palavras: o novo regime cambial do Brasil precisa
incluir, como uma de suas características duradouras, um
sistema bem pensado, moderno
e eficiente de controles sobre a
movimentação de capitais.
Nos últimos meses, tenho insistido nesse ponto sem grande
sucesso. Sei que é um tema árido, repleto de tecnicalidades e
sutilezas. Não é fácil sensibilizar a opinião pública para a sua
importância. Além do mais, a
defesa de controles sempre contraria o preconceito liberal, ainda hegemônico, em favor da liberdade dos mercados.
Reparem, contudo, que até o
"establishment" internacional
começa a ter as suas dúvidas.
No passado recente, a instabilidade provocada pela ampliação e aceleração dos fluxos de
capital voláteis levou um número crescente de economistas,
autoridades monetárias e até
financistas a manifestar, de
público, sérias dúvidas sobre a
idéia de que a liberdade irrestrita é recomendável no caso
dos movimentos internacionais de capital.
Mas é (ou deveria ser) óbvio
que nós, brasileiros, não podemos aguardar que os interesses
internacionais dominantes se
ponham de acordo sobre como
e quando controlar os movimentos de capital. Diferentemente do que sugere o costumeiro escapismo do governo
brasileiro, há muito o que pode
e deve ser feito, no âmbito estritamente nacional, para disciplinar as entradas e saídas de
capital e proteger-nos dos riscos associados a essa movimentação.
O espaço não permite comentar, hoje, as diversas alternativas de que dispomos. Mas uma
coisa precisa ser dita: a CPI do
Sistema Financeiro está revelando que são enormes as brechas na legislação e nos controles que regem a movimentação
de capitais para dentro e para
fora do país. Fica cada vez mais
evidente que a conta de capitais do balanço de pagamentos
do Brasil está excessivamente
aberta.
Vejam que não se trata apenas do caso escandaloso do
banco Marka, que, enquanto
obtinha socorro em um guichê
do Banco Central, dirigia-se a
outro guichê e remetia volumosa quantia para o exterior, sem
ferir nenhum dispositivo legal!
Foram muitas as instituições
financeiras, inclusive bancos
estrangeiros, que se beneficiaram das regras frouxas do Banco Central para reduzir impostos devidos, remeter recursos
para o exterior e faturar com a
mudança cambial.
Por isso é que eu insisto e repito e volto a dizer: pelo amor
de Deus e pela Santíssima Trindade: CONTROLEM OS MOVIMENTOS DE CAPITAL!
Paulo Nogueira Batista Jr., 44, economista e
professor da Fundação Getúlio Vargas-SP, escreve às quintas-feiras nesta coluna.
E-mail: pnbjr@ibm.net
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